AQUI JAZ O LEANDRO VALE – por Soares Novais

Ontem, 2 de Abril de 2015, foi um dia negro para a cultura portuguesa. Além do grande Manoel de Oliveira, perdemos também um homem de teatro de enorme dimensão – o actor, encenador e dramaturgo Leandro Vale. Um dos maiores impulsionadores do teatro em  Trás-o-Montes. Leandro Vale nasceu em Travanca de Lagos (Oliveira do Hospital) no dia 18 de Agosto de 1940. Cursando o Conservatório Nacional, foi um dos fundadores do CITAC (Circulo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) em 1955 e trabalhou durante anos no TEP (Teatro Experimental do Porto). Durante meses teve um programa semanal na RTP Açores. Foi também  jornalista e radialista. Participou na longa-metragem Sombra dos Abutres, filme realizado por Leonel Vieira. Na qualidade de autor, escreveu quase duas centenas de peças de teatro, muitas das quais  foram levadas à cena. Trabalhava agora ligado a Cuba, sua «segunda pátria». Esteve no Festival Internacional de Teatro de Havana dirigindo uma companhia de Holguin, com uma peça de que foi autor – La Obscuridad Transparente, texto baseado no julgamento dos cinco de Miami. O argonauta, e grande amigo de Leandro Vale, Soares Novais, dá-nos conta da sua dor por esta perda sofrida pelo mundo da cultura portuguesa.

Leandro Vale. Foto de Paulo Patoleia

Imagem1AQUI JAZ O LEANDRO VALE

 Foi o Júlio Cardoso quem me deu a notícia. Com a voz embargada. “Morreu o Leandro”.

E desatou a chorar e eu com ele e eu com o meu filho Martim, que tem 13 anos e tinha no Leandro Vale um dos seus mais queridos amigos.

Morreu o Leandro Vale.

Morreu um homem do Teatro. Morreu um actor, um encenador e um dramaturgo. Morreu um homem do Teatro, que calcorreou o país de lés-a-lés e levou a arte de representar às mais recônditas paragens e aos mais diversos públicos. Com o seu “Teatro em Movimento”.

O Leandro fez Cinema também, sobretudo com o Zeca Medeiros, e sobreviveu sempre às tempestades que abalaram a sua vida – a vida de um Actor que começou no TEUC e passou pelo TEP e pelo Centro Cultural de Évora.

Em Abril de 2011, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, editei o seu “Escritos de Palco”. Ali estão plasmadas sete das muitas peças que escreveu ao longo de uma vida dedicada ao Teatro.

Falamos pelo telefone há uma semana. O Leandro estava internado no “Pulido Valente”, em Lisboa. Tinha tido um AVC. A voz saía-lhe titubeante, mas ainda perguntou:

– O teu puto continua a fazer Teatro? Diz-lhe que não pode desistir, caramba.

Aqui jaz o Leandro Vale e com ele parte da minha história de vida também se vai.

 (Retrato de Leandro Vale pelo pintor Acácio de Carvalho)

8 Comments

  1. Como filho e em meu nome pessoal agradeço as suas amaveis palavras.
    que tive o cuidado de partilhar no meu facebook, aproveito para informar que em principio o funeral sera segunda feira
    JOAO PEDRO DINIS

  2. Só conversámos uma vez quando estava a pagar dois livros dele: “Sós em Miami” e “Na Estrada à 50 anos”, na Festa do Avante. Obrigada pelas informações. Vou tentar ir ao funeral.

  3. Só conversámos uma vez quando eu estava a pagar 2 livros dele: “Sós em Miami” e “Na Estrada há 50 anos”, na Festa do Avante. Obrigada pelas informações. Vou tentar ir ao funeral.

  4. De momento a informaçao que tenho é que o funeral sera segunda feira em Lisboa, mas ainda estou a espera de mais informaçoes por parte do meu irmao dado que eu nao sou residente em
    Portugal

  5. Velório amanhã a partir das 15:30 na Capela de S. Francisco de Assis ! Cremação na segunda-feira as 16:00 no Cemitério do Alto de S. João

  6. Mais um amigo que parte. Conheci o Leandro em Évora, por volta de 1975, estava o então Centro Cultural a dar os seus primeiros passos. Aluno da escola de teatro que por essa altura ali se fundou, ainda partilhei um pequeno apartamento com ele, durante alguns meses, no Largo de Camões.Depois fui-o vendo ocasionalmente, a ele e ao seu “Teatro em Movimento”, cada vez mais de largo porque a vida é assim mesmo – ou nós assim a fazemos. Até sempre, Leandro.

    Francisco Baião, Viana do Alentejo

  7. Privei várias vezes com este Grande Senhor aquando das suas deslocações à Ilha de São Jorge, nutria um grande sentimento e afeto pelas gentes daquela ilha, sentimentos que eram recíprocos, pessoa sempre bem disposta, com grande vivacidade, uma vida bem vivida e sempre com histórias de cativar. Descanse em paz amigo.

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