RESPOSTA DO CES – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS DA UNIV. DE COIMBRA – A JOÃO MIGUEL TAVARES, SOBRE O ESTUDO DO DESEMPREGO

UM INSULTO É UM INSULTO: RESPOSTA A JOÃO MIGUEL TAVARES

A crónica “Mas que Observatório é este?”, da autoria de João Miguel Tavares (JMT), publicada no Público de 2 de abril, ofende toda a equipa de investigadores/as do Centro de Estudos Sociais (CES). É em nome da seriedade do nosso trabalho e da nossa dignidade profissional que a Direção do CES aqui lhe responde.

ces

A “malta do CES” – como depreciativamente nos chama JMT – é uma equipa de 128 investigadores/as doutorados/as, de 7 nacionalidades, 101 investigadores em pós-doutoramento (59% de não portugueses), 387 estudantes de doutoramento (43% de não portugueses) e 40 investigadores juniores, num universo de quase 700 pessoas. As avaliações internacionais granjearam-nos o estatuto de ser um dos dois laboratórios associados do Estado na área das ciências sociais e humanidades. A “malta do CES” tem quatro projetos seus aprovados e financiados pelo European Research Council em concursos científicos abertos, a que acrescem múltiplos outros financiamentos da União Europeia (Fp5, FP6, FP7, Marie Curie, D-G Justice, D-H Home Affairs, etc.) ou de outras instituições internacionais, na maioria em concursos altamente competitivos, com uma média de 70 a 90 projetos financiados anualmente O que significa que a atividade do CES se faz de múltiplas vozes, numa diversidade de temáticas e perspectivas e com resultados validados cientificamente por painéis internacionais idóneos. Acresce que (situação ímpar nas ciências sociais e humanas em Portugal e no mundo) em 2014 apenas 21% do orçamento do CES proveio do orçamento de Estado através de financiamento direto, por contrato-programa com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

A “malta do CES” publicou, só em 2014, 222 artigos em revistas académicas com revisão por pares, 64 livros e 166 capítulos em livros, organizou 304 eventos científicos (inter)nacionais, com mais de 15.000 participantes, e apresentou cerca de 800 comunicações em encontros científicos (inter)nacionais por seleção dos pares. O CES, nos últimos 5 anos viu os seus investigadores serem reconhecidos (inter)nacionalmente com a atribuição de 27 prémios por instituições idóneas e sérias.

JMT desconhece que o estudo que, sem argumentos sérios e minimamente fundamentados, procura meter a ridículo toma por base parâmetros de avaliação do chamado “desemprego oculto” que são utilizados correntemente não apenas pelo INE, mas por vários organismos internacionais, incluindo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Tributária da ignorância e do preconceito, a sua crónica inscreve-se numa linha de ataque soez contra a ciência social crítica e contra quem se destaca internacionalmente pela sua afirmação em Portugal. Só essa ignorância e esse preconceito, envolvidos em má-fé, permitem compreender os repetidos exercícios por JMT de achincalhamento de Boaventura de Sousa Santos, Diretor Científico do CES. JMT não ignora que Boaventura de Sousa Santos é, indiscutivelmente, o cientista social português que, pela obra publicada e pelo seu desempenho de investigador, mais prestígio e reconhecimento internacional tem granjeado. JMT sabe tudo isto e tudo isto o incomoda. E sabe que Boaventura de Sousa Santos e “a malta do CES” cultivam uma ciência social cujo rigor técnico e metodológico se associam a um aberto questionamento das estruturas de injustiça social e de apoucamento das potencialidades das pessoas e da natureza. É isso que o preconceito e a má-fé de JMT não toleram. É isso que faz com que ultrapasse todos os limites do debate leal e do direito à opinião crítica e se dedique ao puro insulto disfarçado de graçola fácil.

Em nome de uma equipa de investigadores/as que faz do seu dia-a-dia de pesquisa um exercício de rigor e análise social crítica, que não desiste de lutar por uma ciência social que não seja mera muleta dos poderes de turno – de que o desempenho do Observatório das Crises e Alternativas é um testemunho inequívoco – repudiamos por inteiro o tom chocarreiro com que JMT se refere ao nosso trabalho, revelando uma ignorância e um viés a que continuaremos a opor a inteligência, o saber e a exigência de qualidade de uma ciência cidadã.

6 de Abril de 2015

A Direção
Centro de Estudos Sociais
Universidade de Coimbra

11 Comments

  1. Não entendo o porquê de tanta polémica. Trata-se de uma opinião de um mero cidadão. Penso que não é no papel de jornalista, porque da mesma forma estaria a ofender a classe jornalista.
    Acho que enquanto antigo estudante das ciências sociais devemos respeitar a visão e opinião de qualquer pessoa seja ela formada ou não e independentemente da sua critica.
    O CES tal como outras instituições públicas e privadas tem as suas falhas e devem ser reflectidas internamente e debatidas de fora para dentro. Dar a conhecer o trabalho que é desenvolvido a toda a população em canais próprios e algo que seria muito positivo.

    Bem haja a todos os investigadores do CES

  2. João Miguel Tavares, é uma espécie de Professor Marcelo em ponto pequeno: tal como Marcelo opina sobre tudo e mais alguma coisa. A diferença é que Marcelo é culto, polido, raposa velha e estuda, e JMT é ignorante, precipitado, aprendiz de feiticeiro e improvisa.
    Fala do que não sabe, convencido de que, se lhe dão espaço para escrever nos jornais, se lhe dão tempo de antena na televisão, tal é suficiente para se arvorar em sábio encartado, em enciclopedista de púlpito.
    Vem isto a propósito do artigo recente de JMT, publicado no Público, criticando as atividades de investigação do CES (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra), de quem JMT não gosta, nomeadamente do seu patrono, Boaventura de Sousa Santos.
    É que, JMT tem ódiozinhos de estimação. O primeiro é Sócrates. O segundo é o Professor Boaventura.
    E, num caso e noutro, o plumitivo destila verrina, de tal modo que a explicação só pode ser de índole psicanalítica.
    Ó JMT, se quer matar o pai, por edipiano complexo, faça lá o serviço de uma vez por todas e deixe-se de sublimar as suas frustrações através dessas prosas mesquinhas.

  3. Todo aquele elencar de supostas virtudes, ali up up, não me parece suficiente, para ser aceite, assim, de bandeja, por qualquer um de nós, comuns encartados (com carta), mas algo esclarecidos e informados. Eu até pensava que o CES, era aquela coisa das partículas aceleradas (?), mas agora, já vou passara a prestar-lhe a devida atenção, e isto, devido ao puto atrevido, o JoãoMT, algo influenciado talvez, pelo brincalhão do Ricardo e companheiro mais cisudo. Enfim!!Não gosto de esquerdices. Fazem-me lembrar pecados velhos, como bolcheviques, fidéis, venezuelas etc e tal. Ah…afinal, o CES, faz o quê??

  4. Claro que o CES deve responder a considerações delirantes deste tipo, mesmo provenientes de um imbecil com tendências fascistóides, tendo em atenção que há cidadãos menos informados, que podem ser levados ao engano.
    Para quem esteja atento, basta saber que esta é a criatura que “acha” que tem o direito de, com base em “fezadas”, considerar culpado qualquer cidadão indiciado pelo Ministério Público, com processo em fase de inquérito e bem longe do julgamento. E também o de publicar num jornal (que mostra prezar pouco a sua credibilidade) essa sua “achação”, mandando às malvas o fundamental direito (que, como é de outros, JMT deve “achar” que vale menos que o seu) à presunção de inocência, que caracteriza um Estado Democrático e de… de Direito. O que é, desde logo, asqueroso. Pelo que, à partida, o sujeito escreve para os seus similares, intelectual e eticamente desfavorecidos (do género de nem saberem escrever “sisudo”), além de apresentarem idênticas tendências fascistóides (quero quer que, para a maioria, inconscientes), pois, nestas coisas, a Democracia não admite meias-tintas. O que é espantoso é a quantidade de fabricantes de fogo-de-artifício verbal, cuspidores de tíbias faiscazecas, que encandeiam gente de espanto fácil mas logo se desvanecem em cinza, admitidos como cronistas e comentadores em órgãos de comunicação convencidos de que são “de referência”… Ah! é absoluta estultícia pensar que JMT é influenciado pelos seus parceiros de programa, Ricardo Araújo Pereira (de esquerda) e Pedro Mexia (de direita), cujos intelectos funcionam a anos-luz de distância: se tal acontecesse, seria forçoso que, mesmo muito de vez em quando, proferisse uma qualquer frase minimamente inteligente. Coisa que nada tem a ver com ideologias e práticas políticas: Vasco Graça-Moura era reconhecidamente de direita, de grande agressividade nas suas crónicas políticas e um intelectual de primeira água, um dos nossos maiores poetas e um tradutor de excepção; Adriano Moreira é um académico de grande mérito e um analista político atento e de excepcional lucidez. Os mais notáveis dos nossos escritores situam-se, politicamente, à esquerda. Mas a imensa Agustina Bessa Luís é de direita. E por aí fora…
    Quanto à “moderação”, esclareça-se o confuso João Ramos, é algo inerente ao facto de blogues e “sítios” serem privados, reservando-se, em consequência, o direito de não permitirem intervenções abusivas, sobretudo de quem vive imerso no tipo de “debate futeboleiro” ou de felizes e apalermados espectadores de “reality shows”, que é o que mais vulgarmente viaja, aos trambolhões, pela “net”.

  5. Concordo. JMT é daqueles que trabalha pouco e escreve muito (tal como MST) usando a seu favor a onda de carneirada e de medo que se instalou. Existe contudo um zé povinho que está atento e é sábio.

  6. É, acontece que o CES não é “aquela coisa das partículas aceleradas”… Acontece que o CES é o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, existente desde 2002, vocacionado para a investigação e formação avançada nas diversas áreas das ciências sociais e humanas. Conta hoje com 129 investigadores, 79 investigadores em pós-doutoramento e 54 investigadores juniores. Entre o seu corpo de investigadores há sociólogos, economistas, juristas, antropólogos, historiadores, psicólogos, especialistas das áreas da educação, da literatura, da cultura e das relações internacionais, geólogos, arquitectos, engenheiros ou biólogos. Os anti-corpos que gera virão da pessoa do seu director, Boaventura de Sousa Santos, com cujas opiniões pessoais e políticas nem todos concordam, mas que não têm a ver com a seriedade científica com que o Centro é dirigido. Pode-se não gostar das conclusões dos seus estudos dado que, muitas vezes, apontam para o que está mal na vida social e política. Só aceito que estas sejam postas em causa se a reflexão vier da parte de outros estudiosos. E depois pensar-se-á nelas. Dado que não é a minha área de intervenção e estudo, nunca me atreveria a fazê-lo.
    O tom jocoso e depreciativo utilizado por João Miguel Tavares vem dos tais anti-corpos…

    Este blog aceita diferentes opiniões e posições, dentro do debate honesto. E, como a “casa” é nossa, só entra quem quisermos. Censura? Só o poderá pensar quem não viveu, nem sofreu na pele o que foi a censura! Felizmente, como refere o último comentário, há ainda “um zé povinho que está atento e é sábio”.

  7. A impressão (ignorante) que tambem tenho do CES é de um grupo muito valoroso de academicos, mas que de prático e útil para o povo portugues fica muito a desejar. Mas acho de muito mau sinal e má consciencia que os Srs Drs achem necessário e pertinente vir zurzir e dar importancia a um cronista que tanto escreve sobre arte, desporto, politica, economia, sem querer ser uma sumidade em nenhuma delas. Que eu saiba nenhum desses sectores achou importante vir desagravar a “asa ferida”. Fico ainda mais desconfiado de que a Brigada das Colheres a volta do tacho público tem alguns dignos representantes neste CES.

  8. Precisamente porque há tantos ignorantes, facilmente seduzidos pela cronicagem politiqueira e acéfala (e é politiqueirice o que o “cronista” faz, a despropósito de tudo…), é que é importante o esclarecimento. Sobretudo por parte daqueles que têm algo a esclarecer – e não a ocultar -, precisamente porque trabalham em áreas cuja “utilidade prática” passa facilmente despercebida aos basbaques pastoreados pelas televisões privadas e sua pelintrice cultural, bem acompanhadas por outros “media”, cuja “utilidade” é, em compensação, muito mais evidente, sendo ela a de manter cuidadosamente as “audiências” entretidas com imbecilidades, desviando a sua atenção das conclusões incómodas de investigadores como os do CES, de modo a deixar aos “sábios” que ocupam o topo do “tacho público”, sustentados por uma Brigada das Colheres bem vasta e conhecida, a tarefa de “pensar”, sossegadamente, pelo pachorrento cidadão, como acontecia – do mesmo modo, mas sem a “chatice” dos disfarces democráticos – nos tempos do fascismo salazarento.
    Os resultados desta acção deletéria reflectem-se até nas frases balofas e em mau português que caracterizam estes vulgares ímpetos críticos popularuchos, atafulhados de lugares-comuns veiculados, nos “media”, pelos serventuários do Serviço de Estupidificação Geral e Preservação das Ideias Feitas, cujo êxito é confirmado pela própria proliferação de comentários sem nexo nem conteúdo que nos surgem pela proa, no estilo “futebolês” rasteiro que acima referi.

Leave a Reply