Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Mesmo com dinheiro a custo zero, Merkel ainda está relutante em gastar
Simon Kennedy, Even With Free Money, Merkel Still Reluctant to Spend
Bloomberg, 31 de Março de 2015
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Mesmo quando há os emprestadores que pagam ao mutuário.
“Na Alemanha, o termo dívida pode significar igualmente culpa ,” disse o ex- primeiro-ministro italiano Mario Monti numa entrevista. A palavra em alemão é “Schuld”.
Monti é entre os críticos que dizem que a falta de vontade da Chanceler Angela Merkel para puxar do cartão de crédito é que está a travar a zona euro e a tornar cada vez mais difícil poder superar as consequências da crise financeira. Preocupada sobretudo com os controlos dos défices e mesmo com um excedente orçamental, Berlim parece estar à margem da questão da deflação e tem colocado virtualmente toda a resposta à ameaça de deflação sobre o Banco Central Europeu.
A última razão para levantar as sobrancelhas para a intransigência é que a Alemanha paga agora apenas 0,2 por cento ao levantar capitais nos mercados com maturidade a dez anos. No fundo ele iria fazer aos seus credores –através de taxas de juros negativas—o facto de a Alemanha estar a obter dinheiro com períodos de vencimento de 5 a dez anos.
“É um comportamento quase que patológico,”, disse Simon Tilford, director-adjunto do Centre for European Reform, em Londres. “Estamos a falar de uma economia onde a situação orçamental é robusta, a inflação é excepcionalmente baixa, o stock em capital tem sido degradado ao longo de muitos anos e numa altura em que o governo pode contrair empréstimos a taxas nominais vizinhas de zero o governo ainda se recusa a passar.”
Esta aversão, que decorre deste comportamento, estará ligada, a um pensamento que vai desde a sua obsessão face à hiperinflação da década de 1920 a uma vontade férrea de manter a sua balança corrente excedentária, estará a irritar os seus aliados de Washington e de Paris, que querem fazer bem mais para acelerar a expansão .
Isto não é de grande ajuda para a economia alemã.
A despesa alemã
O investimento público caiu relativamente no conjunto das despesas públicas de 14% da despesa pública no início da década de 1990 para pouco mais de 10 por cento actualmente. Estudos feitos pelo Fórum Económico Mundial Estudos falam-nos de um declínio na qualidade das infra-estruturas desde a década passada.
As vantagens económicas poderiam bem cobrir o custo dos empréstimos. Um estudo de Dezembro feito por Selim Elekdag e Dirk Muir, economistas no Fundo Monetário Internacional, calcularam que um acréscimo na despesa pública de 0,5 por cento do produto interno bruto por quatro anos iria aumentar o PIB em 0,75%.
Este efeito de arrastamento, dito efeito spillover , também aumentaria o PIB na Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha por 0,33%, considera o mesmo estudo. Um crescimento mais rápido seria, sem dúvida, uma boa notícia para o BCE, cuja agressividade no combate à crise teve contra Draghi a raiva alemão desde o início. Um par de responsáveis no BCE pelas políticas da Alemanha BCE, Axel Weber e Juergen Stark, demitiram-se em protesto em 2011.
Então porque é que Merkel não abre os cordões à bolsa ? Como ela pretende manter um orçamento equilibrado até às eleições de 2017, o argumento é que a economia alemã vai bem sem nenhum estímulo, com uma dívida pública equivalente a 72% do PIB requer contenção e adequação às regras da zona euro e o envelhecimento da população exige agora poupança .
A Alemanha, segundo Michelle Tejada, um economista da Roubini Global Economics LLC em Londres, diz que pelo facto de não gastar agora, a Alemanha pode encontrar-se perante uma situação em que a sua economia fica superaquecida a taxas de crescimento relativamente baixas o que torna ainda mais difícil o financiamento das pensões.
“You can’t sustain a whole region when growth is so low,” she said.
O país pode mesmo acabar por deixar de ser o país motor da economia europeia se a sua taxa de crescimento tende para se situar em cerca de 1,7 por cento.
“É impossível ser o motor de uma região com uma taxa de crescimento tão baixo,” afirmou este economista.
Simon Kennedy, Bloomberg, Even With Free Money, Merkel Still Reluctant to Spend.
Texto disponível em:
http://www.bloomberg.com/news/articles/2015-03-31/even-with-money-for-nothing-merkel-still-reluctant-to-spend
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