A IDEIA – 2

1957 – Segunda Exposição Surrealista de Luanda, organizada por Cruzeiro Seixas e Alfredo Margarido, em Janeiro, com violentas polémicas nos jornais sobre o sentido da mostra. Novo livro de Mário Cesariny, Pena Capital, edição de Luiz Pacheco. António Salvado faz sair o primeiro número de Folhas de Poesia, com colaboração gráfica do grupo saído da ESBAL. Lourdes Castro, René Bertholo e Gonçalo Duarte vão para Munique e daí para Paris. Recomposição progressiva do grupo do Gelo com novos advenientes. Fernando Alves dos Santos, conviva da tertúlia que vinha dos tempos do grupo de António Maria Lisboa, publica Textos Poéticos, com capa de João Rodrigues. Natália Correia publica Dimensão Encontrada. Expulsão de Angola, pelo governador-geral da província, no final do ano, de Alfredo Margarido, que regressa a Lisboa e depois se exila em Paris. Helder Macedo estreia-se, com a chancela de “Folhas de Poesia”, com Vesperal. André Breton publica A Arte Mágica. Segundo número da revista Le Surréalisme Même em Maio.

1958 – Manifesto de Mário Cesariny, em folha volante, Autoridade e Liberdade são uma e a mesma coisa. Cesariny classificá-lo-á mais tarde: insulto ao Governo no ano da candidatura à Presidência da República do General Humberto Delgado. Dá início, a expensas suas, mas com a ajuda de Luiz Pacheco, à colecção “A Antologia em 1958” com a publicação de dois livros: um dele, Alguns mitos maiores alguns mitos menores, e outro de António Maria Lisboa, Exercício sobre o sono e a vigília de Alfredo Jarry, seguido de O senhor Cágado e o menino, edições, diz Cesariny, possibilitadas pela venda dum guacho oferecido por Maria Helena Vieira da Silva. Ainda no mesmo ano e na mesma colecção aparece a estreia em livro (com extra-texto de Mário Cesariny) de Virgílio Martinho, Festa Pública e Caca, Cuspo e Ramela, texto colectivo de Luiz Pacheco, Manuel de Lima e Natália Correia. Oficina com João Rodrigues, Ernesto Sampaio e Fernanda Alves. Com o primeiro realiza figurinos para as peças Dois reis e um sono de Natália Correia e Manuel de Lima e O rei veado de Carlo Gozzi. Cadavres-exquis com João Rodrigues, Gonçalo Duarte, Ernesto Sampaio e outros. Primeira exposição individual em Lisboa na Galeria Diário de Notícias. Raul Leal escreve no DN sobre Mário Cesariny. João Vieira vai para Paris, seguido pouco depois por José Escada. Primeiro número da revista KWY, da responsabilidade de Lourdes Castro e René Bertholo. Carlos Loures e Máximo Lisboa chegam ao café Gelo. Manuel de Castro publica em edição de autor, com capa de João Rodrigues, Paralelo W. Luiz Pacheco, em tradução de José Manuel Simões, edita o primeiro Sade português, Diálogo entre um Padre e um Moribundo. Herberto Helder, na chancela de Luiz Pacheco, publica O Amor em Visita, sua estreia em livro. Na mesma chancela, Natália Correia publica Passaporte. Manuel D’Assumpção expõe na Sociedade Nacional de Belas Artes o quadro “Génesis”, depois reproduzido no segundo número de Pirâmide (1960). Ernesto Sampaio publica Luz Central. Afonso Cautela, no Alentejo, entre Évora e Moura, faz os dois cadernos Zero – cadernos de convívio, crítica e controvérsia, em que dá por falida a proposta neo-realista, defendendo a vitalidade criadora e demolidora do surrealismo português. Manuel Granjeio Crespo publica, em edição de autor, Inauguração da Ausência. Intervenção de André Breton, ao lado de Albert Camus, a favor dos objectores de consciência franceses, por iniciativa do anarquista Louis Lecoin. Importante panfleto surrealista em França contra as ligações entre a investigação científica e o complexo industrial e militar, Desmascarem os Físicos. Esvaziem os Laboratórios.

1959 – Mário Cesariny publica Nobílissima Visão, desta vez na Guimarães Editores, de Francisco da Cunha Leão; expõe no Porto, Galeria Divulgação, “Poesia e Pintura”; edita na colecção “A Antologia em 1958” o panfleto (sem data), A Filosofia e a Arte perante o seu Destino Revolucionário, de Jean Schuster e Gérard Legrand, em tradução de Luiz Pacheco. Herberto Helder colabora no número três da revista KWY. Manuel de Castro e João Vieira organizam a separata do número cinco da mesma revista, com colaboração de Mário Cesariny. As Folhas de Poesia tiram em Junho o quarto e último número, com organização de António Salvado; o volume, por inteiro dedicado a Ângelo de Lima (1872-1921), é a primeira recolha exaustiva da produção deste autor e contém 28 poemas. Helder Macedo troca Lisboa por Londres, passando pela África do Sul. Sai em Dezembro o primeiro número da revista Pirâmide, com coordenação de Carlos Loures e Máximo Lisboa, que abre com o texto de Mário Cesariny “Mensagem e Ilusão do Acontecimento Surrealista”, mais tarde recolhido em A Intervenção Surrealista (1966); restantes colaboradores: Pedro Oom, António Maria Lisboa, Raul Leal, Mário Sá-Carneiro e Antonin Artaud em tradução de Ernesto Sampaio. Luiz Pacheco estreia-se em livro, na colecção de Mário Cesariny, “A Antologia em 1958”, com Carta-sincera a José Gomes Ferreira. José Sebag publica (e destrói) O Planeta Precário. Morte de Benjamin Péret. Natália Correia na chancela de Luiz Pacheco dá a lume Comunicação. D’Assumpção vai a Amarante ver pintura de Amadeo Souza Cardoso e sobe a Gatão, para visitar a Casa de Pascoaes. Fica amigo de João Vasconcelos e Maria Amélia, moradores da casa, que o passam a receber em largas temporadas. Sai o quinto e último número Le Surréalisme Même (Primavera). Morte de Benjamim Péret (18 de Setembro).

Leave a Reply