A porta da sala de aulas nunca calou o choro das crianças. Mas apenas foi escutado por uma auxiliar de Acção Educativa da Escola Santos Mattos, na Amadora.
Leio nos jornais que o choro das 19 crianças vítimas dos maus-tratos da professora, agora condenada a seis anos de prisão efectiva, ecoava por todo o edifício escolar, mas logo era sufocado por um silêncio cúmplice e covarde que deve envergonhar o director da escola e os colegas da docente.
Tal cumplicidade e covardia são bem o retrato da sociedade portuguesa actual. Um retrato recheado de cinzentos salazarentos, onde cada um olha para o seu umbigo e tenta levar a sua vidinha sem fazer ondas…
Resultado: 41 anos depois do 25 de Abril poucos são aqueles que se atrevem a ser cidadãos e a denunciar os males que fazem de nós vítimas de pequenos e grandes ditadores.
Por isso, aqui se regista a decisão da senhora auxiliar que no dia 13 de Julho de 2013 levou o choro das vítimas da pequena ditadora escolar ao conhecimento da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens da Amadora.
Uma decisão que a honra como cidadã e que levou à condenação agora revelada pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) no seu sítio na Internet, que também dá a conhecer o acórdão da Instância Criminal de Sintra.
Apesar de “a arguida ter negado a prática dos crimes imputados, nem ter exteriorizado sinal de arrependimento”, o tribunal considerou credíveis os “depoimentos convergentes das crianças ofendidas.”
Depoimentos que, revela a PGDL, conjugou com outros elementos de prova que “os corroboraram, não tendo dúvidas em dar como assente a violência física e psicológica exercida pela docente sobre a generalidade dos seus alunos, ao longo de todo o ano lectivo”.
O acórdão ainda não transitou em julgado e a arguida, que se encontra já suspensa de funções, no âmbito de procedimento disciplinar instaurado pelo Ministério da Educação e Ciência, “aguarda em liberdade” o respectivo trânsito.
Agora, importa garantir que a senhora auxiliar não seja vítima de nenhuma represália por ter ousado ser cidadã.
Uma cidadã de corpo inteiro, que merece o nosso respeito e aplauso.
