CRÓNICA DE DOMINGO – Que raio de vizinho nos calhou – por Carlos Loures

cronicadomingo3Assumo a minha animosidade contra o Estado espanhol.

Considero azar nosso, a construção paredes meias connosco de um estado onde impera uma mentalidade expansionista e um sistema monárquico que considero ridículo em todos os países europeus onde subsiste e em Espanha, por maioria de razão, com protagonistas pataqueiros,  de moralidade duvidosa, como Juan Carlos, mandarete do generalíssimo fascista, a que sucede um rapazinho medíocre, gente que, com as suas histórias de chacha, enche as páginas das revistas do coração, mas que vale tanto como os proxenetas, padrinhos da Mafia, prostitutazecas, futebolistas… «gente bonita» ao nível do Emplastro, do Tony Carreira ou da Teresa Guilherme – actores e figurantes da má comédia que os poderes mediáticos nos servem diariamente. O Estado espanhol é a meu ver coisa lamentável.

 Naturalmente que mais azar têm os que, como nós, sendo hispanos por compartilharem a Península Hispânica, mas não sendo espanhóis, foram assaltados pelos castelhanos e privados de independência, aculturados, castelhanizados- galegos, catalães, bascos, são vítimas da gula hegemónica de uma Castela pedregosa que, olhando em volta e vendo terras mais férteis, banhadas pelo mar e pelo oceano, fez o que os ladrões costumam fazer – apossou-se de tudo o que conseguiu roubar.

Moralmente o Império de Carlos V vale tanto como o de Al Capone.

Detesto o Estado espanhol, mas amo a cultura que se gerou em torno do idioma castelhano, amo a poesia esplendorosa a que deu lugar, a literatura a que, sobretudo nas Américas, a língua motivou. Adoro a gastronomia, a arte, o sol e algumas tradições – menos as touradas tão odiosas como os Bourbon Os espanhóis são gente muito simpática, grandes amigos ali tenho (conhecem a minha aversão ao rei, à bandeira, às pandeiretas, o meu ódio à fiesta…) – que pena habitarem um estado tão antipático.

Hoje há vários aniversários que dizem respeito a Espanha e a países de língua castelhana. Em 1582, uma armada fiel a D. António Prior do Crato foi derrotada nos Açores por forças navais de Filipe II de Castela. Na Guerra Civil, após a invasão de 18 de Julho de 1936, os franquistas tomaram Leão e os anarquistas dominaram Saragoça. Em 26 de Julho de 1953, os rebeldes cubanos fizeram uma primeira tentativa para derrubar o ditador Fulgêncio Baptista- Em 1974, três meses após a Revolução de 25 de Abril, Portugal reconheceu o direito à autodeterminação das suas colónias. De notar que só na Guiné a guerra se podia considera perdida. De notar também que os países que s e libertam tentam conservar as colónias e territórios conquistados pelos colonizadores (veja-se o caso da União Soviética, que manteve as nações que o Império Russo anexara ou o caso do Brasil que continuou a guerra que Portugal iniciara pela ocupação do Uruguai)- E a mais antiga efeméride . em  26 de Julho de 1139 – o conde portucalense Afonso, foi aclamado rei de Portugal e declarou a independência em relação ao reino de Leão. Em 26 de Julho de 1875, nasceu em Sevilha Antonio Machado, um dos “espanhóis” que ajudam a redimir a maldita dinastia Bourbon de que tivemos aqui um exemplar – Carlota Joaquina.

Voltando a Machado. Nascido a 26 de Julho de 1875, a sua luminosa obra ajuda a redimir um pouco a existência do estado que nos calhou por vizinho.

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