Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
(conclusão)
E, no entanto, tudo é possível. “A política é a arte do praticável”… e sito é colocar a fasquia bem baixa, para um partido de esquerda… Ah, deixo-me rir ! Mas sinto-me apanhada numa armadilha… mas não é isto, a Esquerda!
Mas, aí está, a Esquerda europeia está na situação de puro deleite … Podemos em Espanha, Die Linke na Alemanha, a Esquerda em França, Sean Fein na Irlanda: todos eles abraçam Alexis e incentiva-no … Saberão eles alguma coisa que eu ignoro ?
E, aí está, não foi ele igualmente o bem-vindo a esta assembleia na Itália, à la Villa d’Este e se sentou à mesma mesa que Baroso, Trichet, Mario Monti e de outros tipos da mesma laia …
Ah! Vejo! Ele quer minar “o sistema” por dentro, não há outra explicação…
A eleição aproxima-se. “Os parceiros” e os credores “sentem-se sufocados”… Ninguém quer Tsipras nem Syriza. Jean-Claude prefere ter que falar com pessoas “razoáveis”, “cabeças que conhece”. Schäuble mostra o seu rosto com o ar mais azedo possível quando ouve falar de Alexis. Martin Schultz vocifera contra Alexis. “Ah, a esquerda radical não é para a Europa!”
“A esquerda radical” é o que disseram?! Aí, fala-se bem de Syriza ?! Deste partido que apoiou indirectamente tudo que se passa no país desde há cinco anos?! Ah, bom… é isto, a esquerda radical?!
OK, compreendi, a Europa está-se nas tintas para os Gregos! Sabem algo que eu ignoro. Sabe também que “os velhos partidos” não podem mais nada para ninguém. Então, dá-se a ideia de não se querer Syriza, de ter medo de Syriza, de ter horror por Syriza pelas mudanças que este vai trazer, de modo que as pessoas aqui não hesitem um só momento que seja antes de pôr o pequeno papel de voto na urna. Fins fraudadores, é o que é!
A minha mãe pergunta-me “Vota-se em quem, então?!” “Bem, vota-se Syriza, mas, digo-lhe, devem ser vigiados de muito perto. Não há que lhes dar muita confiança! De momento, trata-se de fazer partir a peste que é a Nova Democracia e o Pasok! Depois, ver-se-á melhor!” (oh, para isso, estamos já servidos, não é assim ?).
« A esperança a caminho » ( Cartaz da campanha eleitoral de Syriza )
Syriza é eleito ! A alegria! A felicidade! “Até que enfim, , a nossa voz vai fazer-se ouvir e poderá mudar alguma coisa dizem-se as pessoas umas às outras… mesmo entre muitas delas … “Vai-se para as reuniões na Europa e não nos ajoelharemos na frente da troika e de outros monstros!” História de reforçar o todo, vai-se governar com os helenos independentes. Bom, são conservadores, um pouco racistas, às vezes, mas são patriotas e duros de roer como o ferro contra os memorandos e a austeridade. Quanto à austeridade, o seu presidente, não a conhece… seguidamente, desmorona sob a massa,… mas, ele sabe falar…. E seguidamente, gosta efectivamente do exército… passam – lhe o Ministério da Defesa. Bem feito para ele… (assinará acordos com Israel, comprará aviões de caça aos EUA, prometerá uma boa parte do petróleo do mar Égée aos americanos, e é bom assim…)
Mas, aí está, a troika já não existe . E como dizia Cavafy “e, agora, o que vão fazer sem bárbaros? Estas pessoas eram uma certa solução…” Oh, não se colocará a questão por muito tempo . Agora, teremos que tratar com “as instituições”… é mais bonito como se diz em grego mesmo assim… “instituições”, como diz-se em grego: pronuncia-se a palavra e fica-se com a boca cheia ! “As instituições” é um termo civilizado, é europeu, isto representa toda uma outra mentalidade que a troika… “troika”… pronunciando a palavra tem-se a impressão de uma pedra que desaba… enquanto “instituições”, isto sente-se diferentemente… Salvo que, aí está, são sempre as mesmas pessoas… por conseguinte, ganha-se consciência, troika e instituições, bem, isto é afinal a mesma coisa. Então, retomam-se os mesmos e recomeça-se, recomeça-se…
Negoceia-se, é isto. O ministro das finanças desembarca, lança-se o homenzinho. Fala um inglês impecável, conhece-se como bom em economia e em teoria dos jogos, sabe encantar a audiência, tem humor e veste-se de forma descontraída … como uma mosca caída numa chávena de leite, e está no Eurogrupo… entre todos aqueles fatos cinzentos e estes rostos cinzentos, observa-se, e aí nbão há nada a fazer. Sim, mas…
Mas, aí está… as negociações não avançam como previsto… e contas feitas, “as instituições” não são assim razoáveis como seria pensável. É necessário prosseguir o mesmo programa. A austeridade aí está para ficar … Enervemo-nos. E desiludamo-nos. Mas, “ não senhor, , não se tem ideia de querer deixar a zona euro! A Europa é a nossa casa comum! O euro é a NOSSA moeda! E, isto, é a NOSSA dívida que vamos honrar! Mas, não seria possível encarar uma abordagem ligeiramente mais humana? Um pouco de crescimento ai menor. Por favor? Não estejam tão obcecados com estes excedentes primários que exigem de nós! Sabem que para os realizar são necessários cortes nas pensões, na saúde, na educação… Ah, bom, não é assim, não?! Os senhores pensam que deveríamos fazer mais da mesma coisa e que isso irá melhor depois ? Mas, faz já cinco anos que esta situação dura e nada vai melhor… a dívida ainda aumentou mas … a produção doméstica reduz-se, o desemprego aumenta, há milhares jovens cientistas que partiram para a Alemanha ou para outros lugares… a taxa de natalidade é mais baixa que o dos falecimentos… mesmo sob a Ocupação não se tinha visto uma tal coisa (sim, mas, sob a Ocupação, podia-se esperar que nos iríamos desembaraçar dos alemães um dia…)… o país morre … Pensam realmente que…”
Os dias passam… os meses passam… Varoufakis tinha dito numa entrevista, antes de Natal, que se ousássemos propor mudanças ao memorando, “os parceiros haveriam de nos mandar dar uma volta . Não hesitariam em fechar as torneiras da liquidez do BCE. Ben, é coisa feita! Dica-se de plantel em frente dos distribuidores de notas para um máximo de 50 euros. O país está a ser asfixiado. Syriza sabia que isso podia acontecer . Mas não tinha nada feito para se preparar , para preparar o país, as pessoas.
“A Europa é a nossa casa comum. Vamos fazer uma casa melhor para os povos da Europa, contra os banqueiros! ”
Sinto-me cada vez menos à vontade, sobretudo em frente todas estas e a todos estes com que discuto no Twitter: parecem tão felizes de ver um Varoufakis e um Tsipras enfrentarem “as instituições”… revoltam-se face aos métodos e as palavras por aqueles empregadas … Sinto bem que através da Grécia muitos outros povos esperam que a Europa finalmente seja modelada de modo bem diferente… (mas, desde há quantas décadas, em cada eleição europeia, os partidos não deixam de nos andar a prometer isso mesmo, “uma melhor Europa”?!)
O meu boletim de voto no referendo de 5 de julho
(o meu único selfie…)
Isto bloqueia. Isto não desbloqueia. Nova estratégia. Referendo. Então, faz-se mesmo de contra vontade, não é?! A questão é metade em grego, metade em inglês. Não se compreende muito bem. Mas, as pessoas sabem. A pergunta é simples: quer a austeridade ou não? A resposta é “não”… por fim … “OXI”. Alexis pede que se vote “Não”. Será uma arma mais da mais elevada capacidade de ataque, diz-nos ele …
Que o céu lhes venha a cair em cima, sobre a cabeça, é claro. Um pequeno Alexis saiu na mesma noite dos nossos ecrãs e, em prestidigitador avisado, transformou-nos um “não” “em um “Sim” . E pegou nesse “Sim” debaixo do braço, para ir a Bruxelas… Este golpe, “os parceiros”, “as instituições”, “ os credores” e tutti quanti vão tremer! O povo falou… mas traduziram-no mal …
Oh, Alexis não é de forma algumas. Jean-Claude ficou tão contente de o encontre ! Tem caninos que crescem … e não existem apenas os seus…
O resultado do referendo cai sobre a cabeça do governo grego ( o nosso querido Newton por Gotlib…)
“Se tiverem uma alternativa a propor-me, façam-na ! ”, clama ele quando chega depois do calvário de 19 horas que acaba de sofrer … (Um calvário de que andamos a sofrer desde há cinco anos, mas isso, é uma outra história, não é?) por conseguinte é ele mesmo que não tem nada de novo a propor. Evidentemente. Negociar deixando todas as armas derreterem-se uma após outra (não deixar o euro, não deixar a UE, reembolsar o FMI custe o que custar, com o “ganho” de um pequeno, muito pequeno mesmo retardar no pagamento, depois de raspado o fundo das gavetas …) não representa nenhuma ameaça! Então, não se negocia. Obedece-se. É tudo
PHOTO AFP/ LOUISA GOULIAMAKI
Oh, tem-se toda a razão para ficarmos zangados, diz-se nalgumas “ componente” de Syriza. Tem-se razão em votar “contra” no Parlamento, isso passa com o apoio dos do outro lado que, mesmo na oposição, pensam apenas servir os seus mestres de ontem … na esperança de voltarem a ganhar os zseus antigos lugares no Poder.
Zoé tem razão em sentir-se ultrajado, tem razão em insurgir-se contra o governo que não se serviu das armas que por ele foram preparadas e com muito trabalho graças aos trabalhos da Comissão para a Verdade sobre a Dívida Pública. Convidaram-se pessoas do mundo inteiro para melhor afiar essas armas. O governo não somente não se serviu delas mas qualificaram a ideia de ser uma ilusão .
Então, será que Syriza mentiu? Ou é ele então tão ingénuo? Não avançarei sobre teorias de conspiração. Olho as coisas e os resultados com a ajuda da Razão: quando se parte para o combate, escolhem-se as suas armas e pega-se naquelas de que o inimigo tem mais medo tem mais medo ou que podem levar a que este saia duramente atingido. Como é que se chama aquele que avisa o inimigo dizendo-lhe: “OK, venho combater, mas conto consigo para que não me atinja demasiado porque deixei por vontade própria as minhas armas em casa ”?
Pergunta-se “mas, teria podido fazer melhor face a estes monstros de credores?!” Oh, sim, teria podido melhor fazer. Dizer que não tiveram tempo para se preparar, é atribuir-lhes um álibi de estupidez: seis meses antes das eleições, eu própria estava segura de que seriam eleitos. Imaginem, então, quais eram as informações de que eles mesmos dispunham. Deviam chegar às eleições equipados com um plano B, mas também um plano C, e D, e E… Como partido da Esquerda ERAM TIDOS dispor de uma ALTERNATIVA, não é assim?!
Então, o 3.º memorando aí está . Parece que bem cedo teremos de novo eleições (Syriza não pode mais continuar a legislar contando sobre o apoio “do antigos políticos podres”…) Uma muito boa coisa se conseguiu em tudo isto : os povos da Europa puderam ver desenrolar-se bem à sua frente uma enorme tragédia (de que talvez não saibam ainda o seu verdadeiro alcance) e sabem agora que esta Europa e esta moeda não nos traz nada de bom. Com tudo sito, as máscaras caíram. Uma muito má coisa se deu também : as pessoas, doravante, ouvirão a palavra “Esquerda” e cuspirão para o chão, para mostrarem o seu despeito, ou sobre o seu peito, para dizer “longe de nós, diabo malvado ”!
…
Talvez que, seja chegado o momento de deixar de reflectir em termos de Esquerda e de Direita . Talvez que seja chegado o momento de reflectir em termos de humanidade, de igualdade, de fraternidade. Nestes termos que não permitem que se ande a zigue-zaguear em de se organizar em termos de “centro-direita”, “social-democracia ” e outros “frutos mistos”… Ou se é humano ou não se é, somos irmãos ou não o somos …
Okeanews.fr. Assinado por Christine, SYRIZA : LE CLOU DANS LE CERCUEIL DE LA GAUCHE ?
Texto disponível em: http://www.okeanews.fr/20150821-syriza-le-clou-dans-le-cercueil-de-la-gauche
PS : en finissant la rédaction de ce « billet », j’ai écouté avec grand intérêt (et, je l’avoue, en m’arrachant les cheveux…) la conférence donnée par Éric Toussaint qui explique le parcours de la commission pour la vérité sur la dette publique. Et je m’aperçois que (lui, avec ses informations de l’intérieur, et, moi, en regardant autour de moi et en réfléchissant) nous aboutissons essentiellement aux mêmes conclusions concernant Syriza et Tsipras…
Tétradrachme athénien du 5e siècle avant notre ère
portant une représentation de la chouette de la déesse Athéna…
SYRIZA: um prego no caixão da esquerda – por Christine I