16 e 17 de outubro, 2015, são datas que vão ficar para destaque nas cronologias e estudos futuros sobre a construção da língua na Galiza.
Nesses dias, em Compostela, coração da Galiza, e no espaço emblemático do Museu do Povo Galego, decorreu o SIMPÓSIO SIPLE 2015 : O PORTUGUÊS EM ESPAÇOS MULTILINGUES.
O encontro realizou-se nesta cidade por sugestão da SIPLE (Sociedade Internacional de Português Língua Estrangeira), que organizava o evento junto da AGLP (Academia Galega da língua Portuguesa) e com o apoio da AGAL (Associação Galega da Língua), da APP (Associação de Professores de Português de Portugal), associações e instituições como a Xunta de Galicia (Governo autónomo da Galiza).
As comunicações e debates contavam com um protagonismo especial – para além do local – o da DPG (Associação Docentes de Português na Galiza) que se desempenhava entre os anfitriões com a plena consciência da altura do momento e responsabilidade:
Na Galiza, que poderíamos considerar como a mátria da língua galego-portuguesa, sofremos um défice de atenção à nossa própria língua e, por causa disso, o conhecimento da língua portuguesa tem sido completamente negligenciado até o momento, tanto por instituições como pela própria sociedade, o que teve graves consequências, como a atual falta de conhecimento formal da língua por parte da maioria da sociedade e, portanto, a falta de uma competência comunicativa realmente eficiente e de qualidade num âmbito que (por história, tradição, vinculação e até por leis europeias) devia ser plenamente competente de seu.
Portanto, o lugar escolhido pela SIPLE para o simpósio deste ano 2015, Compostela, é um facto relevante e que não podemos obviar. A questão de situar a Galiza no mapa como um lugar estratégico do ensino do português no mundo, quando, salvo exceções, os simpósios da SIPLE se vinham celebrando no Brasil, há de ter – deverá ter necessariamente – a transcendência social que merece, e só depende de nós e das autoridades competentes aproveitar estas circunstâncias privilegiadas que nos dá termos nascido na Galiza.
Este reconhecimento simbólico é mais um passo na restauração da Galiza dentro do espaço comum lusófono e o anúncio de mudanças na atitude de negligenciação histórica, das instituições e da própria sociedade galega, a respeito do conhecimento da língua portuguesa.

No decurso do Simpósio, Valentín García, responsável da Política Linguística da Junta da Galiza, destacou o interesse da Lei Paz-Andrade (surgida a partir de iniciativa legislativa popular) para promover o português no ensino regrado. O porta-voz do Governo galego no evento qualificou a inclusão da Língua Portuguesa de «eixo estratégico da nossa cultura» e confirmou o avanço «espetacular» dos estudos no ensino secundário galego.
Num único ano académico, o número total de estudantes nesta disciplina foi mais que duplicado: passou de 861 no curso 2014-2015 para 1841 no atual 2015-2016. O número de estabelecimentos do ensino secundário que oferecem esta disciplina incrementou 70%: atualmente mais de 50 liceus de toda a Galiza lecionam português como língua estrangeira.
Nesse contexto, foi também apresentada a edição em papel do Vocabulário Ortográfico da Galiza. Em artigo publicado no sítio web da AGLP, o coordenador do trabalho e académico Carlos Durão explicava que se trata de um contributo ao Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, tal como previsto no texto do Acordo Ortográfico.
A tarefa, assumida pela delegação de observadores da Galiza já nas sessões de trabalho das negociações do Acordo Ortográfico, primeiro do 1986 no Rio de Janeiro, e depois do 1990 em Lisboa, não fora implementada até a constituição da Academia Galega da Língua Portuguesa.
Este vocabulário, já publicamente dado a conhecer em 27 de junho de 2015, dentro do programa do Seminário “Língua, sociedade civil e ação exterior” da Academia Galega da Língua Portuguesa, e agora impresso, inclui mais de 154.000 entradas e pretende exemplificar «o vocabulário considerado propriamente galego, junto com o corpus geral da nossa língua, num amplo vocabulário patrimonial, naturalmente partilhado na sua quase totalidade com toda a Lusofonia».
Trata-se de um vocabulário puramente ortográfico, não leva definições: só a breve indicação da categoria gramatical. Entra nele o mais representativo das famílias de palavras, indicando-se a seguir a categoria. O formato é propositadamente mínimo: trata-se de um elenco de palavras em ordem alfabética, e sem maior variação de tipos de letra, fácil e rapidamente consultáveis.