CRÓNICAS DO QUOTIDIANO – INTERMEDIÁRIOS, TUTORES, ÓRGÃOS DE PODER, PARA QUÊ?! – por Mário de Oliveira

quotidiano1

Na minha qualidade de presbítero-jornalista, sem nenhum ofício pastoral institucional, consequentemente, sem nenhum benefício eclesiástico material, tenho a felicidade de viver à intempérie entre e com os demais, sem qualquer protecção, privilégio. Sou um cidadão presbítero em tudo igual à esmagadora maioria dos cidadãos do país. Como deveríamos ser todos os nascidos de mulher. A princípio, formatado por 12 anos de seminário, para ser clérigo, sacerdote no templo e no altar, estranhei. Depressa percebi que trocar o apodrecido conforto do templo pelo salutar desconforto da intempérie; as funções de clérigo por uma profissão secular, primeiro, em empresas jornalísticas, anos depois, por conta própria; e abrir o meu próprio caminho, guiado apenas pela minha consciência, acabaria por se entranhar, até, apaixonar. Cresço, desde então, de dentro para fora. Experimento-me único e irrepetível, alegremente frágil, desarmado, vestido de paz e de ternura. Perdi voluntariamente todo o esterco eclesiástico, clerical. Passei a ser olhado por muitos como um não-padre, incapazes de conceberem um padre-presbítero sem templo, sem altar, sem missa, sem ritos, sem rezas, sem paróquia. Sei-me sinal de contradição e vivo bem com isso. Não tenho, para vergonha dele e deles, o reconhecimento institucional do bispo do Porto, da maioria dos padres-sacerdotes, dos leigos católicos que, por manifesta falta de crescimento interior, continuam a não dispensar toda essa tralha das missas, dos ritos, das rezas, dos intermediários, tutores. Mas é assim, despojado, pobre por opção, que sou feliz, alegre, respiro liberdade, alimento-me com a realidade, em lugar das máscaras com que os órgãos de Poder a escondem. Sei-me politicamente incómodo, porque intelectualmente honesto com a realidade, não com as encenações. Aflige-me ver os meus concidadãos crescer, na sua maioria, só em idade, não em sabedoria e entrega de si aos demais; a necessitar de intermediários, tutores, órgãos de poder, como na idade infantil; agressivos consigo próprios e com os demais. Crescessem todos de dentro para fora em sabedoria e graça e perguntariam como eu pergunto, Intermediários, tutores, órgãos do poder, para quê?!

8 Janeiro 2016

 

https://www.youtube.com/watch?v=J_KHKoiZGBI

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