EDITORIAL – O TOM DE UMA CAMPANHA

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Na campanha para as presidenciais parece ter aumentado a  agressividade à medida que se aproxima o dia da votação. Candidatos que, nos primeiros dias, iam para os debates com o ar de quem ia para uma conversa de café passaram a adoptar um ar mais grave e até agressivo. Com o passar do tempo as acusações à concorrência tornaram-se mais pesadas, e sem dúvida que vão constituir o prato forte dos últimos dias da campanha. Alguns acharão natural que cada candidato ataque os outros: ao fim e ao cabo, o lugar pretendido só comporta um ocupante, e será natural que se procure evidenciar os defeitos dos outros pretendentes. Outros referem que seria vantajoso que se debatessem as ideias e os projectos que cada um defende, e haverá mesmo quem opine que os ataques servem, pelo menos em alguns casos, para encobrir a falta de ideias, ou mesmo alguma insegurança. Há ainda quem recorde a importância de haver consensos nacionais, e que os debates entre candidatos, mesmo tendo em conta que os presidentes da república não são directamente responsáveis pelo trabalho executivo, nem pela formulação e elaboração das leis, serão sempre importantes na vida política e poderão perfeitamente ajudar a lançar bases para entendimentos.

Há evidentemente o perigo de que as discussões à volta dos (de)méritos de cada candidato ofusquem a abordagem dos problemas nacionais. Por outro lado, há quem levante a dúvida sobre qual será a atitude mais favorável para se fazer ouvir e captar o interesse dos eleitores. A este respeito há opiniões bastante diversas e divididas. Por exemplo, sobre se a atitude a mostrar deverá ser predominante simpática, ou pelo contrário, mais severa, procurando mostrar que não se teme optar por medidas duras, ou mesmo radicais. Em épocas de crise, de uma maneira geral, esta segunda posição parece ganhar adeptos. A história dá-nos exemplos. Terá sido o caso de Hitler e de outros tiranos, que chegaram ao poder com grande apoio popular. A promessa de medidas demagógicas, mesmo quando violadoras dos direitos básicos da pessoa humana, pode trazer a quem as formula, grandes apoios, sobretudo quando criam a esperança de uma resolução rápida de situações que se sentem ser ameaçadoras.  Veja-se a propósito o que Javier Marías escreveu no El País Semanal de 3 de Janeiro último, na sua coluna La Zona Fantasma, trazendo de volta o incontornável Donald Trump, que parece afirmar-se como sendo um dos favoritos, senão mesmo o favorito, a vencer a nomeação pelo partido republicano às eleições presidenciais norte-americanas.

http://elpais.com/elpais/2015/12/30/eps/1451476985_207631.html

 

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