EDITORIAL – imagine

logo editorialCostuma dizer-se como remate de qualquer coisa que não corre bem – «as coisas são como são». É verdade, mas não há dúvidas de que podiam ser diferentes. No processo histórico houve encruzilhadas em que o acaso, um pormenor, definiu um caminho que podia ter sido outro.

Imagine que não há religiões e que os seres humanos são educados na convicção de que ajudar e respeitar os outros é um imperativo – sem promessas de paraísos e ameaças de infernos. Imagine um mundo sem fronteiras, todos falando o mesmo idioma, sem chefes nem subordinados porque cada um sabe o que tem a fazer; imagine que não existe dinheiro e que se precisa de roupa a vai buscar e o mesmo para tudo o que necessita; imagine que o seu trabalho pode ser feito em casa usando a internet e que se precisa de se deslocar o faz em transportes públicos; imagine que não há escolas e que cada um faz o seu plano de estudos indo até onde a sua inteligência e capacidade o puderem conduzir, com oficinas, estúdios, laboratórios onde pode obter a capacidade de exercer a actividade que escolheu. Um aprofundamento do conceito de ética é a única matéria comum.

Filósofos, como José Luis Sampedro, Paul Lafargue, Alfred Jacquart e tantos outros, ex puseram teorias de alternativas ao sistema; o marxismo é uma alternativa tímida – usa o sistema existente, mas pondo-o ao serviço dos trabalhadores- é a consumação da doutrina cristã. John Lennon foi mais longe – preconizou uma sociedade sem big brothers ou good brohters. Com seres humanos.

Consegue imaginar?

5 Comments

  1. O ANALFABETISMO CIENTÍFICO EXCITA MUITO OS ANALFABETOS, TRANSFORMANDO-OS EM IDEÓLOGOS DO ‘SPEAKER’S CORNER’ DO HYDEPARK, a quem só algum passante dá atenção precária.

    PRODUZIR ‘DISCURSOS’ dá uma sensação de poder intelectual, com a juda de ‘públicos’ reais ou imaginários.

    A ‘IMAGINAÇÃO’ OU PROPÕE FUTUROS VIÁVEIS, o que implica investigação, OU É MERAMENTE DELIRANTE – OS PSIQUIATRAS CHAMAM-LHE ‘PSICÓTICA’.

    Só quem não sabe nada de psicanálise e de processos identitários é que pode, no Reino do Opinionismo, vir ‘cantar’ o ‘imagine’ de John Lennon, o eterno charrado bem intencionado, profundamente iletrado, do que se julgava um Profeta do LSD.

    1. Tem muita razão, Pereira Bastos, o analfabetismo científico excita extraordinariamente os analfabetos, sobretudo quando à não-leitura dos manuais aprovados juntam umas doses de LSD ou (pior) tentam por via da imaginação aventurar-se a idealizar um mundo sem guerras, sem exploração… é um esforço que ninguém sensato, com aquela sensatez que o uso de antolhos provoca, fará (porque exclui alternativas e ilusões e permite certezas) – as coisas são como são – mudar a vida ou transformar o mundo são coisas de analfabetos…

      O Pereira Bastos não me conhece, mas não hesita no diagnóstico. De facto, sou um analfabeto científico e (ainda não marquei consulta) o psiquiatra vai por certo confirmar a minha visão psicótica da realidade
      .
      Tem graça que os torcionários da PIDE, instituição de que fui hóspede por duas vezes, nos intervalos da fisioterapia, me acusavam de ser «um poeta», o que significava por certo «analfabetismo científico». Perante o seu douto diagnóstico e a opinião do inspector Tinoco, tenho de assumir o meu analfabetismo. Podia chamar em meu auxílio pessoas que, sem a preparação científica que o senhor tem, ganharam alguma notoriedade com opiniões disparatadas – Paul Lafargue que em Le droit à la paresse (talvez para chatear o sogro (um tal Karl Marx), se permitiu nesta sua obra, editada em 1880, pôr em causa o valor supremo do trabalho; Albert Jacquard,outro analfabeto numa conferência a que assisti em Barcelona, afirmou que era possível organizar a sociedade de modo a que o trabalho fosse desnecessário e o nosso tempo fosse gasto a enriquecer a nossa cultura. Outro analfabeto que me ocorre citar é José Luis Sampedro, um professor e humanista catalão, que condenando a falta de sentido de humanidade reinante, disse. «somos educados para sermos produtores e consumidores – não para sermos homens livres».

      A canção que o Pereira Bastos entende como fruto de um charro e eu considero uma das mais belas do século XX, diz este disparate: You may say/I’m a dreamer/But I’m not the only one/I hope some day/You’ll join us/And the world will live as one.

      A esperança de que o Pereira Bastos se junte a analfabetos visionários é vã – perderia direito aos antolhos que tanta falta parecem fazer a quem tanto sabe sobre psicanálise e processos identitários. Seria andar de cavalo para burro.

    1. Obrigado, Luísa. Li o teu texto que muito me agradou, embora seja um sintoma preocupante de que padeces das enfermidades que o senhor Pereira Bastos me diagnostica – lutar pela transformação do mundo, como Marx defendeu, e pela mudança da vida, como queria Rimbaud, é mania de analfabetos científicos – os iluminados lutam por coisas “viáveis” – aumentos de 5% no salário mínimo nacional e coisas assim. Para mim, mesmo sem a ajuda de charros, Imagine é uma canção linda. Que me desculpem os letrados.

  2. Pereira Bastos parece não ter grande opinião sobre John Lennon. Está no seu pleno direito. Quando resolve proferir invectivas contra opiniões contrárias à sua, e as desvaloriza dando-lhes a classificação de psicóticas, ou ousa chamar analfabeto a alguém que não conhece, apenas porque mostra dar valor a uma obra de John Lennon, dá o direito a quem o lê que lhe recomende que tenha cuidado com o que diz.

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