A GALIZA COMO TAREFA – cultura que une – Ernesto V. Souza

O espaço cultural dos galegos é diverso, amplas as suas redes comunicativas e globais, prévias à internet e explodindo nela. A contrário da maior parte dos nacionalismos políticos e culturais, seja reivindicativos ou estatais, poderia dizer-se que o nacionalismo dos galegos – inquestionável na sua sólida etnicidade múltipla – combina-se com uma rara abertura e tendência à criação de simbioses e uniões com as entidades, culturas e espaços vizinhos.

Ecumenismo linguístico no galego-português, que propunha Guerra da Cal, uma ancestral Celtic Common Law, compartilhada com os países atlânticos, com que Pena Granha explica e define a estruturação administrativa e consuetudinária, primitiva e persistente – afinal cultural – da Galiza e uma ligação secular e tutelar no espaço político castelhano, parecem determinar as bases de uma complexa estrutura que não chega a ter formulação política clara ou simples em forma de estado, território e fronteira.

Poderia parecer que os galegos se dissolvem nas realidades estatais e culturais nas que por acaso aportam e nas que contribuem, porém a pegada discreta dos galegos nos países e culturas que os acolheram é intensa.

O Partido Galeguista (o Partido Nacional Galego dos anos 30) definia a Galiza como célula de universalidade, Luis Seoane, Urbano Lugris, Álvaro Cunqueiro, Otero Pedrayo sonhavam, escreviam, pintavam sobre uma Galiza primitiva, atlântica, cosmopolita, tradicional e moderna, ainda moça, que não se gastara na construção de uma modernidade fechada e cheia de potências, fincada no Atlântico e aberta a todos os mares e fantasias do mundo.

Em Lisboa, Madrid, Buenos Aires, na Havana, Montevidéu, Rio de Janeiro, Genebra, Lausana, Paris, Nova Iorque, Bruxelas, Berlin, Munique, Melbourne a Galiza pode aparecer em qualquer canto e momento.

Porém em nenhuma parte há mais sentimento e ideia desta Galiza abrangente que na própria Galiza, nem maior relacionamento ou proximidade cultural que com Portugal.

Na sequência da aprovação a 11 de março de 2014 da Lei Valentim Paz-Andrade, pelo Parlamento Galego nasceu “Cultura que une”.

Nada a partir do diálogo entre a Fundación Vicente Risco e Norberto Cunha, responsável pelo Museu Bernardino Machado de Vila Nova de Famalicão, é hoje uma iniciativa promovida por diferentes fundações, associações, empresas e particulares da Galiza e do Norte de Portugal que tem por como objetivo aprofundar no reencontro e na redescoberta do património comum, desenvolvendo, para o efeito, atividades em que a cultura e a empresa caminham juntas em direção ao mesmo fim: a revalorização da Gallaecia.

[Alfredo Ferreiro, entrevista em Palavra comum, a Luís Martínez-Risco, presidente da Fundación Vicente Risco ]

O programa do «Cultura que une» integra diversas manifestações artísticas e culturais (exposições de pintura, fotografia e escultura; recitais de poesia e concertos), a serem realizadas em duas cidades, uma da Galiza e outra de Portugal, assim como ciclos de conferências relacionados ao tema das relações intelectuais entre Galiza e Norte de Portugal.

 

 

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