DIZER AOS OUTROS JÁ SEI! por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

 

Dizer aos outros já sei!

A crueza das estatísticas não mente, mas induz a cenários que não são verdadeiros

Porque razão as famílias mais desfavorecidas economicamente hão-de de ter filhos com mais elevado insucesso escolar do que as outras que vêem os seus filhos agraciados com o sucesso.

O desempenho escolar de um aluno de baixa condição económica é, traduz-se, mais no insucesso do que o do filho de famílias com sucesso económico.

É possível estabelecer a relação entre retenção escolar e, não chumbo, e o baixo estatuto socioeconómico e cultural da família.

 No tempo da ditadura, quando 70% da população era analfabeta, dizia-se que o rapaz ou a rapariga “não dava para os estudos” e que o melhor é ir trabalhar com a família.

No início da democracia, em que todos começaram a ter direito à escola, dizia-se que era natural haver tanto insucesso porque a sociedade estava demasiado estratificada entre os diferentes estatutos sócio económicos, sendo que os pobres e os desadaptados eram muitos.

O não aproveitamento escolar era bem visível e não foram precisos rankings para se perceber esta relação. Foi suficiente alguns elementos do Ministério da Educação irem às escolas, consultarem as estatísticas de cada uma, saberem casos particulares e problemáticos de inclusão para que se pusesse de pé um sistema de compensação que permitisse, a tempo, colmatar alguns requisitos para um melhor desempenho escolar.

O Sistema Educativo, o Sistema Nacional de Saúde. o Ministério da Justiça, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o Ministério dos Assuntos Sociais ensaiaram os primeiros passos para que cada aluno, melhor falando, cada Criança fosse vista no seu conjunto como pessoa. Muitas modificações foram feitas e quero aqui lembrar a lógica de ciclo e não a de ano, em que cada um correspondia a uma gaveta que poderia estar cheia ou meia cheia, ou até vazia de conhecimento e por isso não se fechava para abrir outra.

Com a Escola para Todos, para a Escola Inclusiva ( o que falta para aí chegar) não pode haver gavetas, tem de haver um sistema de reforço ao primeiro sinal, por isso a importância da relação interministerial na Educação.

Uma criança, uma família não são ilhas isoladas que têm que passar o Cabo Bojador se quiserem ser reconhecidas pelo outro. Não tem que haver Cabo Bojador, tem que haver reconhecimento.

Em que reforço estará o actual Ministério da Educação a pensar? Acabar com o exame do 4º ano de escolaridade foi óptimo. Mas não basta.

Ensinar, na escola, não tem que ser forçosamente ter os alunos todos sentados, virados para a frente ou em grupo, todos a aprender pelo mesmo livro ou conteúdo da net e com salas com o mesmo número de alunos.

Que bom é aprender, descobrir, dizer aos outros já sei!

Salvo prova em contrário o conhecimento faz-se com afecto, com curiosidade, com sentido.

O ter um 10 ou um 20 depende das respostas dadas nos testes, mas o que faz ter 10ou 20 nos testes pode não ser o mesmo que faz ter 10 ou 20 na relação interpessoal de comunicar o conhecimento.

Há ainda outros factores em ter em conta no Sistema Educativo, os seus agentes: professores e todos quantos trabalham na Escola e as suas representações sociais.

A formação inicial, e ao longo da carreira dos professores, não pode continuar a permitir que se verifique o efeito pigmaleão e do determinismo escolar relativamente a certos alunos filhos de determinadas famílias.

Que dizer de um relatório europeu que não se admirasse com o insucesso escolar em Portugal, porque Portugal é um país pobre, e vai continuar a sê-lo e por isso não vale a pena nele investir, mas sim exigir! É isto que se está a fazer nas nossas escolas!!

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