FRATERNIZAR – 53 colégios católicos e 600 profs em Fátima – Educar é fazer cristãos ou seres humanos? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

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Foi apenas um dia. Sábado, 20 deste mês de Fevereiro. Cerca de 600 pessoas, profs., na sua maioria. Ligadas a 53 colégios católicos. No Centro Paulo VI. Com uma pergunta projectada todo o tempo numa tela diante dos olhos, “Educar (é) Evangelizar?” Como lá nunca se falou de Jesus, o filho de Maria, nem do seu Evangelho, apenas de Jesus Cristo e do seu Evangelho escrito em forma de cartas por S. Paulo, o perseguidor de Jesus a que nunca conheceu nem quis que lho dessem a conhecer, já depois que se tornou o judeu de Tarso mais fanático do Cristo davídico, vencedor dos inimigos, o último dos quais, no seu farisaico e douto saber bíblico-davídico, a morte, é mais do que legítimo perguntar, Educar é fazer cristãos ou seres humanos?

Aqueles profs. católicos ouviram conferências proferidas por uma freira, a conhecida doroteia Nabuco, o director da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, no Porto, José L. Gonçalves, nenhum contraditório, mais umas quantas alusões ao que diz o papa Francisco sobre a temática em questão, recitaram umas quantas fórmulas de oração decoradas ou lidas, nada de pessoal, saído de dentro de cada qual para fora, e, no final da tarde, regressaram a suas casas, porventura, piores do que antes. Ou aquele ambiente de Fátima não seja todo ele inquinado-envenenado, a negação do Humano, a afirmação do Medo, da Crendice, do Negócio, a obscena apologia do Sofrimento humano.

“Este é o tempo de voltar aos valores na constituição, a liberdade de escolha é a efectiva oportunidade para serem as famílias a fazê-lo e não vir imposto por uma qualquer hierarquia de valores que não se sabe muito bem de onde vem”. Quem faz esta, no mínimo, equívoca afirmação é precisamente o director da Escola do Porto, a concluir o seu discurso católico, carregado de preconceitos católicos-cristãos, nenhuma autocrítica. “Hierarquia”, sem mais, sabem bem os profs dos colégios católicos o que é e são-lhe totalmente submissos. “Hierarquia de valores”, já não saberão, porque só conhecem uma, a do cristianismo, historicamente visibilizado na pessoa do papa, de resto, citado, como não podia deixar de ser neste evento, por mais do que uma vez.

A afirmação parece defender a liberdade de escolha e o direito das famílias a educar, mas só parece. Nem o próprio que a profere se apercebe que no catolicismo-cristianismo e nas igrejas não há liberdade de escolha. Ou se é cristão, ou não se é. As famílias cristãs não educam. Se têm condições financeiras para isso, entregam as filhas, os filhos a algum dos colégios católicos que, por sua vez, confundem educar com fazer cristãos, elites à parte, segregadas das maiorias condenadas a ter de viver na base da pirâmide. Se não têm tais recursos, confiam a missão de educar as filhas, os filhos às escolas do Estado, quase sempre a contra-gosto, e, para compensar, obrigam-nos a frequentar as paróquias, as suas catequeses, pelo menos, até ao Crisma, e as missas do domingo.

Dentro do catolicismo-cristianismo não há liberdade de escolha. Tudo vem de cima para baixo. De fora para dentro. Tudo vem da Cúria romana, nomeadamente do papa, do Catecismo da Igreja católica, das catequeses paroquais e episcopais. Felizmente, as novas gerações já se rebelam e é cada vez maior o número de adolescentes e jovens de ambos os sexos que abandonam as paróquias antes do Crisma. E, entre os que aguentam até ao Crisma, fazem, desse dia, o dia da sua solene saída dessa estrutura clerical-eclesiástica de pensamento único, dogmático. As próprias famílias católicas-cristãs não são espaços de liberdade, plurais, a menos que as filhas, os filhos, à medida que crescem em idade e conhecimento científico, lutem pela sua própria autonomia. Um facto cada vez mais palpável, sem que os pais consigam impedi-lo.

Evangelizar, hoje, início do terceiro milénio, no prosseguimento da missão histórica de Jesus, o de antes do cristianismo, fundado, este, por S. Pedro, S. Paulo e (S.) Constantino imperador de Roma, pode ser e é compatível com a arte de Educar, porque Evangelizar,para Jesus, é resgatar e libertar os oprimidos e os empobrecidos para a liberdade consumada na sororidade-fraternidade universal, na partilha e comunhão dos bens. Nunca os colégios católicos, com frades e freiras e leigos para-clérigos à frente e como profs, podem ser espaços onde se respire este Sopro, esta Ruah maiêutica de Jesus, o Ser Humano por antonomásia. Nem foi para isso que eles se criaram. Pelo contrário. O sopro que lá se respira é o do alta competição, o da busca do sucesso, o da formação de quadros que amanhã assumam os destinos económico-financeiros e políticos do país e do mundo. Tudo no catolicismo-cristianismo é elitista. Basta atentar na Cúria de Roma, no seu papa, no topo dos topos da pirâmide, o negador-mor de Jesus que, ao contrário dele, veio-vem para servir, a partir dos últimos, nunca para ser servido.

Cabe efectivamente aos pais a missão de Educar, entendida como a Arte de Educar para a Liberdade, consumada historicamente na sororidade-fraternidade universal. Pais católicos-cristãos farão o contrário desta nobre missão, desta mais bela Arte. Eles próprios ainda não saborearam a Liberdade assim entendida-vivida-praticada. Por isso, se quisermos gerações outras, educadas para a Liberdade consumada na sororidade-fraternidade universal, nenhuma pirâmide social, temos de inventar novos pais, novas famílias. Com religiões, igrejas católicas-cristãs-islâmicas, fés religiosas ou ateias, não vamos lá. Fora do Humano, não há salvação. Dentro do Ideológico só há perdição. Pensemos nisto. E mudemos de ser-viver, mudemos de Deus!

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