Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

André-Jacques Holbecq, Ce qu’il faut au moins savoir sur la création monétaire
AgoraVox, 26 de Janeiro de 2009
(continuação)
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Considerem agora uma economia com 2 bancos, sejam eles os bancos A e B, com Claude na qualidade de cliente de A e Jean, na qualidade de cliente de B.
O banco A concede 1000 unidades como novo crédito a Claude e o banco B concede um novo crédito de 200 unidades a Jean
Os balanços dos dois bancos são pois:
Agora Claude efectua compras junto de Pierre (igualmente cliente do banco A) no valor de 600 unidades e junto de Alain (cliente do banco B) no valor de 400 unidades monetárias.
Simultaneamente Jean efectua compras junto de Pierre no valor de 100 e junto de Alain para 100.
Claude vê por conseguinte a sua conta no banco A debitada em 1000, Jean vê a sua conta no banco B debitada em 200 unidades, em contrapartida Pierre (banco A) vê a sua conta creditada de 700, e Alain (banco B) vê a sua conta creditada de 500
A situação das contas na sequência destas operações, antes da compensação entre os dois bancos:
O banco A dispõe então de um crédito sobre o banco B de um valor de 100 (pagamento de Jean à Pierre); O banco B dispõe de um crédito de 400 sobre o banco A (pagamento de Claude à Alain)
Os bancos vão então compensar as suas dívidas, e no final, o banco A deve 300 ao banco B. Este banco A vai por conseguinte “refinanciar-se” junto do banco B (se este o aceita, caso contrário A deverá utilizar os serviços do Banco Central) contraindo junto e por conseguinte aceitando uma dívida para com o Banco B.
O título desta dívida interbancária aparece então no passivo do banco A (que vai ter de se “refinanciar” em 300 unidades ) e no activo do banco B.
Esta necessidade de refinanciamento interbancária provém de partes de mercado desiguais entre os bancos A e B, tanto na recolha de depósitos como na distribuição dos créditos.
Se, no nosso exemplo precedente, o banco B não aceitar refinanciar o banco A, este deverá ter de recorrer a um refinanciamento do Banco Central
Se cada banco conceder créditos em função das suas partes de mercado de depósitos as fugas compensam-se e o mercado bancário está em equilíbrio.
Tomados na sua globalidade, os bancos comerciais têm um poder de criação monetário potencialmente ilimitado.
Mas:
Paralelamente à moeda escritural emitida pelos bancos comerciais, os agentes (empresas, famílias, colectividades) utilizam outras moedas que os bancos comerciais não podem criar e que criam “fugas” no conjunto do sistema.
Estas fugas são de 4 tipos:
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Notas e moedas : moeda fiduciária cuja criação é reservada ao banco Central
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Necessidades de divisas que o banco comercial vai ter de procurar obter junto do seu banco central
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Fugas para o Tesouro Público (que não é o caso aos EUA onde o Tesouro Público dispõe de contas junto dos bancos comerciais)
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A fuga das reservas obrigatórias (cada banco comercial é obrigado manter sobre a sua conta junto do banco central uma soma que pode ser ou não remunerada. Este montante das reservas obrigatórias é calculado essencialmente em proporção da massa dos depósitos dos clientes: por este mecanismo, o Banco Central aumenta por conseguinte a necessidade de refinanciamento dos bancos comerciais. Na zona euro, estas reservas são de 2% actualmente)
As diferentes necessidades de liquidez evocadas necessitam do refinanciamento junto do banco Central, pondo assim o sistema bancário em estado de dependência no que diz respeito ao banco central.
Os bancos são, além disso, forçados ao equilíbrio do seu balanço e às regras que limitam o montante dos seus créditos (os créditos que atribuem) em relação ao montante dos seus fundos próprios (Basileia 2 e rácios Mc Donough impondo a existência 4 a 8% de fundos próprios sobre o total do seu passivo)
Os bancos servem igualmente de intermediários financeiros (emprestam os depósitos que lhes são confiados pelos aforradores). Estes empréstimos sobre poupança antecipada representam cerca de 40% dos empréstimos dos bancos comerciais, mas esta poupança é ela própria resultante na origem da criação monetária à origem.
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Ao nível de um banco isolado, a fórmula do multiplicador monetário é:
k = 1/[b + f * (1 – b) + h * (1 – b – f * (1 – b)] (com f = a parte de mercado dos outros bancos, b = a percentagem de necessidades em notas, h = a percentagem de reservas obrigatórias).
Exemplo: se um banco dispuser de 100 em reservas excedentárias, se a parte de mercado dos outros bancos (F) é de 90%, a preferência pelas notas Banco Central (b) é de 12% e se o coeficiente das reservas obrigatórias (H) é de 4%, o banco poderá criar 109,23 de novos créditos.
Balanço simplificado do Banco Central (banco dos bancos)
(Para se ter presente)
A moeda central no passivo foi criada em contrapartida de créditos inscritos no activo.
(continua)
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Ver o original em:
http://www.agoravox.fr/actualites/societe/article/ce-qu-il-faut-au-moins-savoir-sur-50612