A CRIAÇÃO DE MOEDA, BANCA E CRISES: UMA OUTRA PERSPECTIVA – UMA NOVA SÉRIE SOBRE QUESTÕES DE ECONOMIA – 5. A MOEDA CENTRAL (3/3) – OU PORQUE É QUE O BCE AINDA NÃO UTILIZOU “A MÁQUINA DE FABRICAR NOTAS” – por OLIVIER BERRUYER – II

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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A Moeda Central (3/3)- Porque é que que o BCE ainda não utilizou “a máquina de imprimir notas?”

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Olivier Berruyer, 0340 La Monnaie Banque Centrale (3/3) – ou pourquoi la BCE n’a pas utilisé “la planche à billets”

Les-Crises.fr, 16 de Maio de 2012

IV. As obrigações do Tesouro

Uma outra  fonte de fuga será a Conta do Tesouro, que por tradição secular, é gerida pelo seu banco central nacional – isto é, é  agora o único verdadeiro “cliente” de um Banco Central em moeda  banco central.

Digamos,  para  “simplificar”, que  o Estado é o único aTor  que requer constantemente  que um  banco comercial utilize moeda banco  central, quando tem que lhe pagar.

Assim, as somas  emprestadas  pelo BCE poderiam  ser parcialmente utilizadas  para os bancos comprarem  títulos do tesouro.

E é bem um pouco o nosso caso:

criação monetária - XXXVII

 

Há um aumento notável em compras de títulos do Tesouro Na zona euro, com + € 50 mil milhões num só  mês.

Podemos afinar por país, pelo menos para dois deles em perigo:

criação monetária - XXXVIII

Nota-se bem que são essencialmente os bancos italianos e os espanhóis que compraram a dívida – outras nações estão prudentemente  à distância.

Isso mostra que essas compras são, provavelmente, devidas sobretudo  à pressão dos  governos sobre os  bancos, e não,  ao contrário do que se poderia pensar, porque os bancos iriam  fazer um “bom negócio emprestando ” a um  Estado …

A margem relacionada com a taxa de juros (que é paga apenas em moeda banco central !) não é suficiente para o banco para que o banco desestabilize o seu  balanço, adquirindo grandes quantidades de títulos do  Tesouro…

V. Porque é que o BCE não utiliza a “máquina de imprimir notas “

Nesta fase, é necessária uma pequena metáfora de síntese.

Imagine que o BCE tem todos os  pomares de macieiras  e também os armazéns de armazenamento das  maçãs do país, enquanto os bancos  comerciais têm os pomares de  pereiras.

Aqui, o BCE acaba de emprestar uma  grande quantidade de sacos de maçãs aos bancos. Não é ilógico que os bancos os tenham  armazenado nas armazéns de stockagem das maçãs, propriedade do BCE  – e que estes mesmos bancos não tenham emprestado mais sacos de peras…

Além disso, para evitar que os bancos emprestem  muitos sacos de peras,  a lei exige que estes bancos armazenem um saco de maçãs por  cada novo empréstimo de 100 sacos de peras. Nenhuma  “lógica” ou “necessidade”  nesta determinação  ela  é apenas uma regra para o BCE  limitar  indiretamente o volume de sacos de peras emprestados…

No final, espero que se  entenda isto: o BCE não surgiu a utilizar  ” a sua máquina de imprimir notas”. Ele não criou uma massa de dinheiro que vai alagar  a economia no espaço de  semanas.

Ele  “simplesmente” substituiu o mercado interbancário, doente,  que já não cumpre o seu papel que é o de  permitir a circulação  do  dinheiro entre os bancos. E sem circulação, é a morte da economia…

Todos estes circuitos são bastante complicados, mas apenas servem para compensar o facto de que não há senão  um banco, onde seria muito fácil fazer a  compensação – sem a necessidade de moeda central…

Finalmente, devemos manter presente o turbilhão que é todo este sistema : todos os dias há 380.000  compensações, o  que representa 3  milhões de milhões de € … Por  cada semana  é muito mais que o PIB da zona euro que se troca  …

Em conclusão, portanto, proponho-vos reservar o termo “criação monetária” e “imprimir moeda ” à  criação pelos  bancos comerciais da “moeda clássica.” E proponho-vos  reservar para o BCE o termo “criação de liquidez.”

VI. Os objetivos pretendidos

“A nossa expectativa agora é a de que os bancos tendo satisfeito as suas necessidades de financiamento para este ano estarão  mais propensos a usar o dinheiro – é  realmente o nosso primeiro objetivo – para expandir o crédito à economia real” [Mario Draghi, durante uma conferência de imprensa depois do G20 Finanças no México].

“Temos que esperar até que os dados e os  factos apoiem  a impressão de que as duas LTRO  foram utilizadas  para aumentar os empréstimos concedidos às empresas e às  famílias. Nós temos indicações preliminares nesse sentido. […] É muito cedo para decidir sobre uma estratégia de saída [sic.]. Temos de a preparar, mas eu diria que o tempo ainda não está maduro. “[ Benoit  Coeuré, membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE)]

O objetivo não é o de dar dinheiro aos bancos para que estes o re-emprestem, é tranquilizar os bancos que estes voltem a emprestar dinheiro entre si.

Se todos estão tranquilos sobre os  bancos, os dirigentes  do BCE pensam que os bancos voltarão a reemprestar entre si.

Eles podem esperar: os bancos não emprestam, porque eles estão, na sua  maioria,  insolventes   e porque a recessão reduz a procura de crédito  …

(continua)

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Ver o original em:

http://www.les-crises.fr/la-monnaie-banque-centrale-3/

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Para ler a Parte I de A Moeda Central (3/3)- Porque é que que o BCE ainda não utilizou “a máquina de imprimir notas?”, publicada ontem em  A Viagem dos Argonautas, vá a:

A CRIAÇÃO DE MOEDA, BANCA E CRISES: UMA OUTRA PERSPECTIVA – UMA NOVA SÉRIE SOBRE QUESTÕES DE ECONOMIA – 5. A MOEDA CENTRAL (3/3) – OU PORQUE É QUE O BCE AINDA NÃO UTILIZOU “A MÁQUINA DE IMPRIMIR NOTAS” – por OLIVIER BERRUYER – I

 

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