Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A Moeda Central (3/3)- Porque é que que o BCE ainda não utilizou “a máquina de imprimir notas?”
Olivier Berruyer, 0340 La Monnaie Banque Centrale (3/3) – ou pourquoi la BCE n’a pas utilisé “la planche à billets”
Les-Crises.fr, 16 de Maio de 2012
I. A moeda Banco Central está “prisioneira”
Eu escolhi para ilustrar o meu ponto de vista apresentado nos textos anteriores algumas esquemas de contabilidade para a compreensão das trocas de valor entre os atores – indivíduos, bancos comerciais e Banco Central.
Infelizmente, isso impede que se perceba um fenómeno óbvio: a moeda banco central circula (quase totalmente) entre o Banco Central e os bancos comerciais e os bancos comerciais entre eles. A sua função principal é a de permitir aos bancos liquidarem entre si as suas dívidas recíprocas, relacionados com as transferências entre clientes.
Isto significa que esta moeda central não pode “escapar” deste circuito, para se juntar às contas correntes dos particulares. Desse ponto de vista nenhum de nós lhe vê a cor.
Em síntese, a moeda banco central pode ser criada, pode circular, pode ser destruída, mas dificilmente pode ir “para outro lugar”. Se eu continuar a minha metáfora anterior do jogo com os amigos e os pontos, quem tem a “banca” do jogo pode criar, fazer circular e destruir os pontos, mas não podemos pagar as suas compras com … esses pontos ganhos no jogo. Trata-se de diferentes circuitos.
É também a mesma coisa para a moeda escritural secundária (as contas correntes dos particulares ): esta é prisioneira das contas correntes e nenhum de nós lhe pode tocar ou levá-la para casa. …
Uma metáfora consistiria em dizer que podemos definir um vocabulário em que o BCE empresta realmente em “ecus” (ou “bitcoins” ou “amendoins” ou o quer que seja …), sob a convenção de que 1 ECU = 1 euro. portanto, esses ECU circulam entre os bancos comerciais. Mas eles nunca vão chegar à economia real (sob algumas reservas).
Quando o BCE empresta esse dinheiro, este vai imediatamente juntar-se às contas dos bancos junto do Banco Central. Muitos comentadores ficaram espantados com a explosão destes depósitos -, mas por Deus, onde é que quer que a súbita criação da massa monetária irá, senão para as contas correntes dos bancos? E essa moeda não está pronto para desaparecer.
É a pura lógica, por definição de moeda banco central …
A prova:
Assim, podemos constatar que, obviamente, créditos e depósitos estão altamente correlacionados – pelo menos inicialmente…
Da mesma forma, por definição e ao contrário do que muitos têm argumentado, desculpem-me, essa moeda central é bastante diferente da nossa boa moeda diária, conhecida como a moeda secundária. Assim, não cabe na definição da oferta de moeda – que não mudou absolutamente nada depois da primeira operação VLTRO…
Mas para que serve esta moeda, então ?
II. A ligação entre “moeda banco central ” e “moeda corrente”
É completamente falso imaginar que o BCE tenha transferido o dinheiro para os bancos e que os bancos vão recuperar esse dinheiro para o reemprestar à economia real! Não existe uma ligação direta entre os dois tipos de operações de crédito.
Este esquema é, na verdade, o esquema de uma única instituição de crédito (tipo “Cofitelem” e os seus empréstimos a 15% …) porque este estabelecimento “compra o dinheiro” (que pede emprestado ), deposita-o na sua conta corrente no banco, depois transfere-o quando tiver concedido o credito ao cliente para a conta deste .
Mas isto não é o caso de um banco – porque “um banco não tem conta bancária” (no sentido clássico).
Se os bancos querem conceder empréstimos, eles podem fazê-lo (será que já viu um banco a recusar um empréstimo e dizer “desculpe, eu não tenho dinheiro disponível …”?). Eu não vou aqui desenvolver esta questão, porque é um pouco mais complicada, mas na verdade eles criam “moeda corrente como o banco central cria a “moeda banco central “. (No debate sobre isso, por favor, voltaremos a este problema, eu prometo, este não é o assunto deste texto)
O objetivo aqui é para dizer que ainda existe uma pequena relação entre os dois tipos de moeda. Mas esta ligação não é “física” (no sentido de que se poderia perfeitamente dispensá-la ), ela é “legal”: a lei e nada mais que a lei, obrigam um banco que concede um novo crédito a manter na sua posse uma pequena percentagem de moeda banco central. O objetivo é o de limitar a sua capacidade para criar moeda.
Mas essa necessidade é muito limitada! Na Europa é de 1% a percentagem que é necessário reter junto do Banco Central como reservas obrigatórias. Assim, com 500 mil milhões de € de moeda central a mais, com este valor pode-se pois emprestar cem vezes mais, uma vez que a taxa de reserva obrigatória é de 1%, ou seja, pode-se emprestar 50 milhões de milhões !!!! Como informação, o total de todos os empréstimos bancários na Europa é da ordem de 18 milhões de milhões de € …
Basta dizer que estas enormes somas criadas não têm como objetivo permitir “fisicamente” novos empréstimos.
Se novos empréstimos forem concedidos, eles simplesmente exigiriam um pouco de moeda banco central que os bancos geralmente obtêm no mercado interbancário (mercado que agora funciona muito mal – os bancos estão relutantes em emprestar muito dinheiro uns aos outros) ou então junto do BCE, a pedido dos bancos, no quadro clássico de operações de refinanciamento (o BCE nunca recusa emprestar a um banco …) – não vale apenas um programa VLTRO de 3 anos para isso.
A prova:
Os bancos não utilizam esse dinheiro para emprestar às empresas ou às famílias … (que pedem menos créditos igualmente até porque também se querem desendividar )
III. As fugas das notas
É porém conveniente temperar um pouco a afirmação anterior .
Com efeito, a moeda central pode “escapar” ao sistema de diversas maneiras.
A primeira é a procura de papel moeda: à medida que se desenrolam as suas operações, os bancos terão de trocar moeda central contra notas, em suma “comprar notas “
No entanto, uma tal fuga exige muito tempo, é limitada e não pode ser percetível senão alguns meses após a operação VLTRO …
(continua)
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