Brasil – os jogos serão americanos – por Michel Lhomme

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Brasil- os jogos serão americanos

Michel Lhomme, politólogo, Revista Metamag

 

A cinco meses dos Jogos Olímpicos em 13 de Março de 2016, verificaram-se grandes manifestações no Brasil contra o governo de Dilma Rousseff, aproveitando a popularidade decrescente da Presidente e os escândalos recorrentes que afectam os círculos de poder (Processo Petrobras).

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Estas manifestações foram convocadas pelos partidos da oposição (principalmente PSDB). A maior das manifestações terá juntado cerca de 500 000 pessoas na megalópole de São Paulo, superior aos comícios no Brasil para as eleições directas (Diretas-já) de 16 de Abril de 1984 que levaram ao fim do regime militar. Por outras palavras, um evento histórico real pela magnitude das multidões reunidas e de que a intensa actualidade europeia nos manteve relativamente distanciados.

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Estas manifestações também foram realizadas nas principais capitais (121 cidades, incluindo a megalópole do Rio de Janeiro). Os manifestantes exigiram a demissão do governo Dilma cuja cota de popularidade caiu para 13% e a prisão para o ex-presidente Inácio Lula da Silva (2003-2010), a coqueluche dos altermundistas da anti-globalização, por supostamente ter metido a mão à bolsa e em que também é acusado de lavagem de dinheiro e de corrupção. Lula teria recebido 1,3 milhões de euros na sua fundação, o Instituto Lula. São, na verdade, dezenas de políticos brasileiros, na sua maioria de esquerda até porque é a Esquerda que está agora no poder, em que se acredita terem beneficiado da generosidade da Petrobras e que estão a ser investigados pelo Supremo. Estes casos de corrupção tornaram o governo brasileiro totalmente impopular quando na verdade todos os partidos políticos brasileiros estão sob investigação e estão comprometidos nos subornos.

A partir da noite de 16 ao dia seguinte, 17 de Março, as manifestações foram gigantescas. Mas também foi impressionante ver como elas foram organizadas tão rapidamente, logo que se soube, por exemplo, as mais recentes revelações dos media: por exemplo, a publicação de uma conversa secreta entre Dilma e Lula deu aso a que a população tenha vindo rapidamente para a rua, tendo Dilma Rousseff cometido um erro político monumental ao nomear Lula como ministro para lhe garantir a impunidade e uma porta de saída.

O Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta instância jurídica do país, suspendeu a 18 de Março a entrada em funções de Lula como um ministro do governo. O juiz Gilmar Mendes justificou a sua decisão explicando que a Presidente Dilma nomeou Lula para o governo, a fim de o proteger contra uma potencial detenção iminente no contexto do caso Petrobras. Enquanto isso, Luiz Inácio Lula da Silva é suspeito de “corrupção” e “lavagem de dinheiro”. (Le Monde, 18 de Março). Enquanto a batalha judicial continua, as contra manifestações pró-governo foram organizadas por Dilma em 18 de Março e terão mobilizado quase três milhões de brasileiros. As manifestações foram organizadas pela Frente Popular do Brasil que reúne todos os sindicatos e os movimentos camponeses de esquerda (como o Movimento em Terra).

Na verdade, nós falámos muito rapidamente a propósito dos acontecimentos ocorridos e em termos de tentativa de “golpe”, de “Primavera brasileira” de “revolução laranja”, accionado no momento apropriado em que o Brasil atravessa a sua maior crise económica da sua história. Como o sublinhámos acima, as manifestações anti-Dilma eram particularmente mediatizadas, com cobertura ao vivo por todos os canais de televisão privados que pedem abertamente sobre as suas antenas o impeachment da Presidente antes da abertura dos Jogos.

Mas o conluio de canais privados com a comunidade de negócios pró-americano é um segredo aberto. Significativa também era frequentemente a cor da pele dos manifestantes. Eles são jovens, mas jovens “brancos” de São Paulo, aparentemente, não eram pobres das favelas, certamente, também estes decepcionados com os compromissos liberais de Dilma Rousseff. De acordo com o levantamento da Folha de São Paulo, os manifestantes são na sua maioria originários de uma classe social privilegiada (com uma educação e um alto nível de rendimento) e entre essa elite, alguns acreditam reconhecer os músculos de uma direita brasileira que se dizem serem defensores do regresso dos militares ao poder. .

Fantasmas de gaúcho, a maioria dos manifestantes são liberais e democratas, o governo de Dilma Rousseff, não sendo de todo um governo socialista, mas sim um governo populista com tendência neoliberal exactamente como o de Ollanta Humala no Peru e do seu provável sucessor, Keiko Fujimori, a filha do ex-presidente ainda preso Alberto Fujimori.

Então de onde é que vem o ódio anti-Dilma?

Dilma não seria ela demasiado “soft” para com os chineses, demasiado comprometida com os Brics? Dilma não incomoda ela Washington? Embora Dilma tenha feito uma reviravolta nos últimos meses e se tenha aproximado, devido à crise económica, a Washington, a desestabilização do governo brasileiro, em qualquer caso, seria em todo o caso não desagradável a Washington, enquanto que Macri na Argentina aplica o seu programa de choque, que a Venezuela se está a afundar, que a Bolívia vegeta e que o Peru corre o risco de votar bem.

Note-se que os principais protestos brasileiros foram amplamente utilizados pelas redes sociais para apelar à realização de manifestações a favor do impeachment da presidente. Ora, os três principais movimentos de oposição Estudantes Pela Liberdade , Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua, estão ligados directa ou indirectamente pelo seu financiamento à organização americana Students of Liberty , criada nos Estados Unidos e que se define como “libertarianos” (libertários de direita) e convidam os líderes mundiais a seguirem os Estados Unidos.

 

Rede Atlas e dos Estudantes pela Liberdade são baseados nos EUA e têm recebido dezenas de milhares de dólares em financiamento ao longo dos últimos cinco anos, de fundações norte-americanas, como a Fundação John Templeton e Charles Koch Foundation, grupo bilionário conhecido para apoiar as causas da extrema-direita.
Detalhes sobre 
John Templeton Foundation:

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o ramo no Brasil estudantes para a Liberdade foi financiado por doadores dos EUA, mas hoje o grupo é financiado em grande parte no Brasil, de acordo com o diretor Juliano Torres. E é grande, com mais de mil membros. Agora, cerca de metade dos membros dos Estudantes pela Liberdade no Mundo, que recebem materiais sobre como planejar eventos, arrecadar fundos e falar em público, são brasileiros. Um punhado tem viajado para os Estados Unidos para treinamento, e muitos discutem a política económica tendo como referências o Instituto Cato e o senador Rand Paul. Torres disse que o movimento libertário tem crescido tanto no Brasil porque “nós tiramos proveito da impopularidade da presidente e do Partido dos Trabalhadores “. Em 2014, a economia brasileira desacelerou e começou a encolher dramaticamente e jornais acusaram o Partido dos Trabalhadores de envolvimento na corrupção da Petrobras . “Estudantes pela Liberdade não é uma organização política”, diz Torres, ” mas incentiva os nossos membros politicamente ativos .” Em 2014, os membros da Students for Freedom fundou Brasil Livre Circulação e ajudou a fundar o movimento Vem Pra Rua para protestar contra Rousseff. Rousseff não é afetada pelas investigações anti-corrupção da Petrobras , mas desde março de 2015 que Brasil Livre Circulação procura pressão para colocar em julgamento em favor de um presidente pró-liberal. Em dezembro, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, do PMDB, ele estava avançando o impeachment para o uso ilegal de dinheiro no orçamento de 2014. Estudantes Pela Liberdade orgulhosamente apresenta os protestos anti-governamentais no Brasil em número de sua revista para o final de 2015. Desta revista, a sua capa:

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Celso Barros do jornal Folha de S. Paulo afirma que o que é mais preocupante como um precedente para a futura estabilidade do Brasil, é de que Dilma é acusado pelo o que ele descreve como “acusações fracos”. E ele vê um eco de líderes políticos dos EUA de o grupo de jovens que orienta o pedido de impeachment: ” Esses caras são claramente inspirados no Tea Party e na recente radicalização do Partido Republicano .” Barros diz que o futuro do Brasil é desconhecido.

E ainda um quadro de financiamentos:

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Students of Liberty é uma organização conhecida, já envolvida nos protestos contra o presidente venezuelano Maduro, presente na praça Maidan na Ucrânia, em 2013, mas também na Tunísia. Na verdade, todos os líderes da “revolução laranja brasileira” são a favor do neoliberalismo, da privatização dos serviços (saúde, educação), das empresas públicas, como a petrolífera Petrobras, apanhada em pleno escândalo . Acredita-se estarem a voltar aos tempos abençoados da década de 90, a da Escola de Chicago e do Consenso de Washington. Na verdade, não queremos nem uma outra Venezuela nem os chineses.

A “ revolução de cor” à brasileira continuará provavelmente como a Olimpíada americana porque quem é que vai ganhar mais medalhas este ano, a China ou Estados Unidos? O Brasil tem alguma esperança, mas eles não são tão medalhados.

Michel Lhomme, politólogo, Revista Metamag Brésil: les jeux seront américains.Texto disponível em : http://metamag.fr/2016/04/01/bresil-les-jeux-seront-americains/ .

Nota: o enquadrado é retirado pelo tradutor de um artigo publicado por vários sítios entre os quais: http://conscienciah.blogspot.pt/2016/03/mudanca-de-regime-no-brasil-os.html. Este artigo tem como título: Mudança de regime no Brasil? Os protestos financiados por fundações norte-americanas.

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