Panamá Papers- um reflexo do modelo neoliberal | 3. O gabinete de advogados que trabalha para oligarcas, lavadores de dinheiro e ditadores – por  Ken Silverstein III

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Panamá Papers – um reflexo do modelo neoliberal.

3. O gabinete de advogados que trabalha para oligarcas, lavadores de dinheiro e ditadores

Ken Silverstein

(continuação)

Naturalmente, FATCA era preocupante para todos aqueles que estavam sentados na Diamond Ballroom e, entre estes, estava Marie Fucci, assessora de clientes americanos e europeus que justamente denunciavam a lei como uma forma de “apartheid” financeiro -mas Owens procurou acalmar estes receios. Com ele a fazer passar os seus PowerPoint com imagens de cofres bancários, pilhas de notas de cem dólares e outros grandes planos da pornografia financeira, Owens esboçava as formas de contornar as regulações internacionais onerosas e incómodas. FATCA, afirmou ele com confiança, não iria derrubar o sistema offshore e certamente não iria fazê-lo no Panamá, onde os advogados, contabilistas, gestores, e outros responsáveis pelas empresas fantasma teriam poderosos aliados ao nível político (como o então ministro das Finanças do país que também falou durante o colóquio). Owens estimou que nove em cada dez entidades empresariais registadas no país eram de propriedade estrangeira e disse que as fundações panamianas privadas, uma criação local que, no mundo offshore é tão amado como a tradicionalmente favorita conta bancária na Suiça – seria ainda confiável para guardar dinheiro anonimamente, mesmo quando FATCA esteja totalmente implementada. Os membros da audiência acenaram com a cabeça em sinal de aprovação.

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Na parte da amanhã, depois do discurso de Owens, eu saí do Waldorf para os escritórios da Mossack Fonseca. Pessoalmente, não tinha nenhuma expectativa de me reunir com nenhuma pessoa na empresa, até porque tinha feito vários pedidos de audiência e tinham sido de forma educada firmemente rejeitados . “Decidimos não participar nessa entrevista, disse-nos ” o porta-voz Lexa Wittgreen que me escreveu um email, o que ao menos demonstrava que Mossack Fonseca é capaz de realizar as devidas diligências, pelo menos no que diz respeito aos jornalistas se não forem clientes.

Eu estava a utilizar um mapa do hotel e rapidamente me perdi no densamente ocupada zona de negócios da Cidade do Panamá, qui se assemelha a uma miniatura de Hong Kong em tons tropicais. Enquanto eu olhava à minha volta para me orientar, vi um jovem vestido de calças escuras e uma camisa às riscas de verde a sair de um edifício de escritórios- edifício Omega- e abrir a porta do condutor de uma pik-up Mitsubishi preta, modelo Sportero.

“Não é aqui perto”, disse ele num inglês impecável quando eu lhe perguntei se sabia como é que podia chegar ao edifício de Mossack Fonseca. “Tem um encontro com eles? Porque eu faço um trabalho semelhante e pode ser que o possa ajudar .» Ele tirou um cartão de visita e entregou-mo com um sorriso de orelha a orelha.

Por coincidência, ele chamava-se Aejandro Watson Jr., e trabalhava para Owens & Watson, Onde Ramses Owens é um nome associado. “Eu trabalho exactamente ali”, disse ele, apontando em direcção ao escritório do segundo andar da empresa. “Estou já atrasado para uma reunião, mas posso encontrar-me consigo mais tarde ou posso levá-lo agora e apresentá-lo a um dos meus colegas.”

Antes de partir para o Panamá questionei-me se eu deveria ou não contactar um escritório local de advogados para testar o quão fácil seria a criação de uma empresa de fachada. Esta foi uma oportunidade boa demais para a deixar passar.

“Vim dos Estados Unidos para passar aqui alguns dias olhando para o imobiliário,” disse-lhe sob o barulho do tráfego que passava e com as buzinas a apitarem. “Eu preciso de criar aqui uma empresa para fazer a compra. Que tipo de informação é que precisa?”

“Tudo o que eu preciso de ter é o seu passaporte, a carta de condução, algo que mostre o seu endereço, e uma carta de referência de qualquer banco”, disse Watson. “Nós não estamos nada interessados em obtermos informações sobre as suas actividades. Nós só queremos ajudá-lo a fazer negócios para que o senhor continue a trabalhar connosco.”

“O meu nome aparece em qualquer lugar na papelada que é preciso ?”perguntei eu.

Eu pensei que a minha franqueza poderia desencadear pelo menos uma ligeira preocupação pelo seu lado – afinal, tratava-se da promessa de anonimato que tinha tanto atraído os clientes desonestos para Niue, quando o actual patrão de Watson era empregado da Mossack Fonseca. Mas ele permaneceu tão alegre e ansioso como um motorista da distribuição de gelados da marca Mister Softee . “Você tem um problema FATCA”, disse Watson com um sorriso e um olhar compreensivo. “Nós podemos resolver isso. Eu poderia recomendar-lhe a criação de um trust , porque nesta hipótese isso pode estar legalmente como propriedade de alguém completamente diferente.”

Perguntei-lhe se eu poderia abrir uma conta bancária em nome da minha empresa fantasma de modo a que eu tivesse sempre acesso ao dinheiro quando quisesse. Afinal, não há nenhum interesse em esconder o dinheiro em offshore se não o podemos gastar, não é?.

“Absolutamente de acordo”, disse Watson, com entusiasmo. Ele salta para o banco do Sportero e tirou um folheto de uma pequena pilha enfiada entre os dois assentos. “Nós temos uma rede bancária global”, disse ele, e apontou para uma página que enumera algumas dezenas de instituições financeiras com quem a sua firma trabalhou.

A rede incluía pequenos bancos no Panamá, Ilhas Cayman, Mônaco e Andorra, e os jogadores de marca como o HSBC e os contrabandistas de diamantes do UBS. Um relatório da comissão do Senado dos EUA descreve o HSBC como um importante canal para “chefões do tráfico de drogas e de nações párias”, e no ano passado o banco assinou um acordo de $ 1,92 mil milhões com o Departamento de Justiça por ter ajudado a lavar milhões de dólares através de empresas de fachada para os cartéis colombianos e mexicanos . Havia até uma componente de Owens & Watson, o Helm Bank em Miami. Em 2012, os reguladores dos EUA atingiram Helm com uma acusação de múltiplas violações da Lei de Sigilo Bancário e das regras anti-lavagem de dinheiro.

Esta era uma lista que certamente inspira confiança, pelo menos, se eu fosse um bandido à procura de um bom sítio para esconder o meu dinheiro do fisco ou da mão da justiça.

Todo o processo levaria apenas alguns dias, Watson disse-me que os meus custos seriam insignificantes: cerca de US $ 1.200 para ficar na posse de uma empresa fantasma , US $ 300 para cobrir as despesas do governo, e algumas centenas de dólares a mais para a Owens & Watson para fornecerem os candidatos a directores, se necessário . Se eu quisesse comprar uma empresa de prateleira– a variedade por idade de existência- isso custar-me-ia um pouco mais. Era um extra.

“E o meu nome não vai aparecer em nenhum lugar, certo?” perguntei, decidido a levar as coisas o mais longe possível.

“Não, não, não”, exclamou Watson. “Isso não é nenhum problema.”

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Na parte da amanhã, depois do discurso de Owens, eu saí do Waldorf para os escritórios da Mossack Fonseca. Pessoalmente, não tinha nenhuma expectativa de me reunir com nenhuma pessoa na empresa, até porque tinha feito vários pedidos de audiência e tinham sido de forma educada firmemente rejeitados . “Decidimos não participar nessa entrevista, disse-nos ” o porta-voz Lexa Wittgreen que me escreveu um email, o que ao menos demonstrava que Mossack Fonseca é capaz de realizar as devidas diligências, pelo menos no que diz respeito aos jornalistas se não forem clientes.

Eu estava a utilizar um mapa do hotel e rapidamente me perdi no densamente ocupada zona de negócios da Cidade do Panamá, qui se assemelha a uma miniatura de Hong Kong em tons tropicais. Enquanto eu olhava à minha volta para me orientar, vi um jovem vestido de calças escuras e uma camisa às riscas de verde a sair de um edifício de escritórios- edifício Omega- e abrir a porta do condutor de uma pik-up Mitsubishi preta, modelo Sportero.

“Não é aqui perto”, disse ele num inglês impecável quando eu lhe perguntei se sabia como é que podia chegar ao edifício de Mossack Fonseca. “Tem um encontro com eles? Porque eu faço um trabalho semelhante e pode ser que o possa ajudar .» Ele tirou um cartão de visita e entregou-mo com um sorriso de orelha a orelha.

Por coincidência, ele chamava-se Aejandro Watson Jr., e trabalhava para Owens & Watson, Onde Ramses Owens é um nome associado. “Eu trabalho exactamente ali”, disse ele, apontando em direcção ao escritório do segundo andar da empresa. “Estou já atrasado para uma reunião, mas posso encontrar-me consigo mais tarde ou posso levá-lo agora e apresentá-lo a um dos meus colegas.”

Antes de partir para o Panamá questionei-me se eu deveria ou não contactar um escritório local de advogados para testar o quão fácil seria a criação de uma empresa de fachada. Esta foi uma oportunidade boa demais para a deixar passar.

“Vim dos Estados Unidos para passar aqui alguns dias olhando para o imobiliário,” disse-lhe sob o barulho do tráfego que passava e com as buzinas a apitarem. “Eu preciso de criar aqui uma empresa para fazer a compra. Que tipo de informação é que precisa?”

“Tudo o que eu preciso de ter é o seu passaporte, a carta de condução, algo que mostre o seu endereço, e uma carta de referência de qualquer banco”, disse Watson. “Nós não estamos nada interessados em obtermos informações sobre as suas actividades. Nós só queremos ajudá-lo a fazer negócios para que o senhor continue a trabalhar connosco.”

“O meu nome aparece em qualquer lugar na papelada que é preciso ?”perguntei eu.

Eu pensei que a minha franqueza poderia desencadear pelo menos uma ligeira preocupação pelo seu lado – afinal, tratava-se da promessa de anonimato que tinha tanto atraído os clientes desonestos para Niue, quando o actual patrão de Watson era empregado da Mossack Fonseca. Mas ele permaneceu tão alegre e ansioso como um motorista da distribuição de gelados da marca Mister Softee . “Você tem um problema FATCA”, disse Watson com um sorriso e um olhar compreensivo. “Nós podemos resolver isso. Eu poderia recomendar-lhe a criação de um trust , porque nesta hipótese isso pode estar legalmente como propriedade de alguém completamente diferente.”

Perguntei-lhe se eu poderia abrir uma conta bancária em nome da minha empresa fantasma de modo a que eu tivesse sempre acesso ao dinheiro quando quisesse. Afinal, não há nenhum interesse em esconder o dinheiro em offshore se não o podemos gastar, não é?.

“Absolutamente de acordo”, disse Watson, com entusiasmo. Ele salta para o banco do Sportero e tirou um folheto de uma pequena pilha enfiada entre os dois assentos. “Nós temos uma rede bancária global”, disse ele, e apontou para uma página que enumera algumas dezenas de instituições financeiras com quem a sua firma trabalhou.

A rede incluía pequenos bancos no Panamá, Ilhas Cayman, Mônaco e Andorra, e os jogadores de marca como o HSBC e os contrabandistas de diamantes do UBS. Um relatório da comissão do Senado dos EUA descreve o HSBC como um importante canal para “chefões do tráfico de drogas e de nações párias”, e no ano passado o banco assinou um acordo de $ 1,92 mil milhões com o Departamento de Justiça por ter ajudado a lavar milhões de dólares através de empresas de fachada para os cartéis colombianos e mexicanos . Havia até uma componente de Owens & Watson, o Helm Bank em Miami. Em 2012, os reguladores dos EUA atingiram Helm com uma acusação de múltiplas violações da Lei de Sigilo Bancário e das regras anti-lavagem de dinheiro.

Esta era uma lista que certamente inspira confiança, pelo menos, se eu fosse um bandido à procura de um bom sítio para esconder o meu dinheiro do fisco ou da mão da justiça.

Todo o processo levaria apenas alguns dias, Watson disse-me que os meus custos seriam insignificantes: cerca de US $ 1.200 para ficar na posse de uma empresa fantasma , US $ 300 para cobrir as despesas do governo, e algumas centenas de dólares a mais para a Owens & Watson para fornecerem os candidatos a directores, se necessário . Se eu quisesse comprar uma empresa de prateleira– a variedade por idade de existência- isso custar-me-ia um pouco mais. Era um extra.

“E o meu nome não vai aparecer em nenhum lugar, certo?” perguntei, decidido a levar as coisas o mais longe possível.

“Não, não, não”, exclamou Watson. “Isso não é nenhum problema.”

(continua)

Panamá Papers- um reflexo do modelo neoliberal | 3. O gabinete de advogados que trabalha para oligarcas, lavadores de dinheiro e ditadores – por  Ken Silverstein II

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