Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Panamá Papers – um reflexo do modelo neoliberal.
6. A Espanha política num impasse alimentado agora pelo Panamá Papers com a saída de Storia
Maria Tadeo, Bloomberg
15 de Abril de 2016
A campanha cheia de atritos de Mariano Rajoy para se manter no poder em Espanha sofreu um inesperado revés na sexta-feira. Quando um ministro o abandona devido às suas ligações com uma empresa offshore na lista publicada agora publicada pela fuga de informação chamada Panamá papers.
Agindo como ministro da Indústria, a demissão de José Manuel Soria pode modificar profundamente os cuidadosos cálculos políticos do primeiro-ministro quando se olha para o relógio a correr no sentido da data fatídica de 02 de Maio, data final para os seus rivais alcançarem uma aliança para o derrubarem. Quase quatro meses depois do Partido Popular ter perdido a sua maioria parlamentar, o primeiro-ministro está a apostar que uma nova eleição a ser realizada em Junho poderia fazer pender a balança de poder a seu favor.
Jose Manuel Soria – Photographer: Carlos Alvarez/Getty Images
“Esta notícia aparece num momento muito mau para Rajoy com uma nova campanha eleitoral provavelmente a começar em breve”, disse por telefone Antonio Barroso, um analista político em Teneo Intelligence, em Londres. “Os restantes partidos utilizarão este facto contra o PP .”
A fuga de informações neste mês de milhões de páginas de registos financeiros da empresa sob a lei do Panamá , expondo-se milhares de milhões de dólares escondidos em paraísos fiscais em todo o mundo, levou a uma indignação geral por todo o mundo, temos assim um furor à escala mundial. Procurando conter as consequências do escândalo – implicando toda a gente ao nível dos dirigentes políticos e das pessoas mais importantes no mundo dos negócios – alguns governos comprometeram-se a reprimir fortemente a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro para ajudar a recuperar a confiança pública.
Linha do Partido
O Grupo dos 20 ministros das Finanças e dos governadores dos seus bancos centrais numa reunião a ocorrer esta semana em Washington provavelmente irão pedir ao Panamá para ter uma atitude de maior colaboração na partilha de informações sobre as empresas aí registadas e o governo da Islândia foi derrotado numa moção de confiança depois de ter sacrificado o seu primeiro-ministro perante a indignação pública e prometeu eleições antecipadas . A Espanha está entre um grupo de países da UE que querem que o G-20 torne mais difícil para as pessoas que as pessoas se escondam atrás dos trusts ou das fundações para evitaremjk pagar impostos.
O escândalo Soria alimenta o impasse político que foi criado com as eleições gerais inconclusivas de Dezembro passado.
Os três partidos que tentam forçar Rajoy a largar o poder argumentam que as presumíveis ligações do primeiro-ministro a um saco azul para os altos funcionários que existiria desde há mais de dez anos, e uma vaga mais ampla de alegações de corrupção contra o seu partido tornam-no inapto para o exercício do cargo e por isso se recusam a dar-lhe o seu apoio. Rajoy, que nega qualquer irregularidade, diz que não é justo estar a estigmatizar o seu partido devido ao comportamento de alguns dos seus membros .
Reagindo à renúncia de Soria, a Vice-Primeiro-Ministro Soraya Saenz de Santamaria disse que assumia a responsabilidade e estava a fazer o que se deveria fazer para favorecer o Partido. Ela não explicou em que medida o governo estava ao corrente dos seus negócios. O ministro interino do Orçamento Cristobal Montoro disse que “ninguém” que esteja ligado a uma qualquer empresa offshore deve permanecer no poder.
” Não se pode fazer parte de um governo debaixo destas condições”, disse aos repórteres numa conferência de imprensa em Madrid, depois da reunião semanal do gabinete dirigido o por Rajoy.
O recuo de Soria
Soria, 58 anos, foi arrastado para a fuga de informações Panamá Papers depois de apresentar versões contraditórias das suas relações com U.K. Lines, uma empresa offshore criada pela empresa Mossack Fonseca. Primeiro negou qualquer envolvimento com a empresa que aparece na lista dos documentos do Panamá, em seguida, depois recuou à medida que novas revelações mostraram que ele estava envolvido numa empresa similar registada no U.K. na década de 1990.
Na quinta-feira intensificaram as pressões para que apresentasse o seu pedido de demissão de ministro e os seus colegas PP começaram a abandoná-lo, depois de o jornal El Mundo publicar um documento com a assinatura de Soria relativo à empresa sediada em Jersey no Reino Unido e com data de 2002. Nesta fase, Soria tinha sido muito activo na política do PP .
“Ele estava prisoneiro das suas próprias mentiras e pelo cinismo e falta de vergonha o que é típico daqueles que se consideram como intocáveis. ” disse Carolina Bescansa, uma parlamentar ligado ao partido anti-austeridade Podemos, numa entrevista em Madrid. “Isto mostra até que ponto o sistema político tem sido atingido por uma corrupção sistémica.”
Problemas mais profundos
Desde as eleições de Dezembro a sede do PP em Madrid tem sido inspeccionada pela polícia e um grupo de altos funcionários do Ministério da Agricultura foi preso, por terem desviado fundos públicos e a sua vertente de Valência foi acusada por um tribunal de branqueamento de capitais como parte de um financiamento ilegal do Partido Popular .
“Até que o PP passe para a oposição e se ponha um fim a este governo vergonhoso, a regeneração democrática do nosso país não será possível de ser alcançada”, disse Pedro Sanchez, líder do segundo maior partido, os socialistas, numa entrevista pela rádio.
Soria é o segundo ministro a demitir-se do governo de Rajoy por alegadas irregularidades financeiras. O Ministro da Saúde, Ana Mato partiu em 2014 depois de um Tribunal ter considerado que esta terá beneficiado de luvas pagas ao seu marido que estava supostamente envolvido numa rede de subornos do PP.
O caso Soria tem que ser visto no contexto mais amplo da corrupção no PP “, disse Vincenzo Scarpetta, analista de política na Open Europe, um instituto de investigação em Londres. ” Este tornou-se um alvo fácil e torna mais difícil para o PP justificar a sua tese de que se trata de casos isolados. .”
Maria Tadeo, Bloomberg, Spain’s Political Standoff Roiled by Panama as Soria Quits. Texto disponível em: