O DRAMA DOS MIGRANTES NUMA EUROPA EM DECLÍNIO E CAPTURADA POR ERDOGAN E OBAMA – 8. ERDOGAN: A TIRANIA E O CAOS – DA SÍRIA AO KURDISTÃO, por ROMAIN EDESSA

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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Erdogan: a tirania e o caos – da Síria ao Kurdistão

Romain Edessa, Erdogan: la tyrannie et le chaos – De la Syrie au Kurdistan, le sultan sur tous les fronts

Revista Causeur.fr., 24 de Março de 2016

Envenenando as tensões com os Curdos e os actores da sociedade civil turca, o neo-sultão  Erdogan impõe uma capa  de chumbo à sua população. E o negócio de trouxas que obrigou a Europa a  assinar  não  acabará,  sem dúvida com o fluxo dos migrantes.

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Sipa: Numéro de reportage : AP21872991_000038.

Erdogan tinha prevenido os eleitores turcos: ou ele  ou o caos. Cinco meses  depois da  sua reeleição triunfal, os atentados multiplicam-se. Os Turcos que tinham aceite  trocar a sua liberdade contra a promessa da segurança perderam em toda a linha: têm o tirano e o caos.

Desde Outubro de 2015, verificaram-se cinco atentados em  Ancara e Istambul, causando 180 mortes e centenas de feridos. Em Fevereiro, um ataque tinha morto 28 militares no bairro mais protegido da capital que protege os ministérios e o Parlamento. A política do pior de Erdogan que consiste  em  agitar as tensões para sustentar  melhor o seu poder parece escapar-lhe. A Turquia nunca foi tão vulnerável e o turismo começa a sofrer os efeitos desta insegurança. Em Janeiro de 2016, o grupo TUI, número um mundial do turismo e sociedade mãe de Novas Fronteiras, via as suas reservas para a Turquia caírem de  40 % na sequência um atentado do Estado islâmico (I.E.) contra turistas alemães. O atentado da semana passada que visou igualmente turistas em  Istambul poderia precipitar a queda deste sector chave da economia turca. Um tal  desmoronamento agravaria as tensões e mergulharia ainda um pouco mais o país  no marasmo.

Deriva  soviética

Paralelamente, a guerra que Erdogan trava no Curdistão não diminui de intensidade  e deveria reflectir-se pesadamente sobre o orçamento do Estado, sem estar a falar do rancor que alimenta na população curda. Nas cidades sob cessar-fogo, as operações do exército mataram numerosos civis de acordo com Amnesty International. Ninguém duvida que as famílias das vítimas virão aumentar  as filas do Partido dos trabalhadores do Curdistão (PKK) em guerra contra Ancara. Alguns poderiam mesmo ser tentados a juntarem-se aos TAK, um grupo dissidente do PKK que jurou levar o conflito até às cidades turcas do Ocidente. A espiral do ódio é engrenada graças ao génio de Erdogan e um aviso aos lutam por denunciar  as práticas anti-democráticas do novo sultão. Só no mês de Março,  três universitários e sete advogados foram presos, duas cadeias de televisão foram retiradas do serviço satélite enquanto um dos principais diários de oposição (Zaman) foi posto sob tutela. É isto que leva o  universitário turco Ahmet Insel a afirmar  que “o que se passa actualmente na Turquia assemelha-se, e em muito,  ao que passava na União Soviética de Estaline”.

Migrantes: um acordo ganhador-perdedor 

É precisamente este o momento que escolheu a União europeia para assinar com Ancara um acordo sobre os migrantes que permanecerá nos anais da diplomacia. Por cada sírio que seja reenviado para a Turquia, um  outro sírio, que esteja  na Turquia, será enviado para a Europa, o que significa  despir Pedro para  vestir Paulo. Em contrapartida, nem uma palavra sobre as violações dos princípios democráticos por Ancara. E para agradecer a Erdogan, a União Europeia pagará  três mil milhões de euros além dos  três mil milhões já prometidos no final de  2015 e dispensará os cidadãos turcos de visto de entrada na Europa a partir de Junho de 2016. Certamente, o acordo  está cheio de notas de pé de página  e a Turquia não poderá provavelmente preencher as condições impostas para obter a supressão efectiva dos vistos. Mas, politicamente, Erdogan já  ganhou. E se os vistos não forem suprimidos em Junho, ninguém irá  ler  os detalhes do acordo enquanto Ancara acusará, mais uma vez, os Europeus de não terem   respeitado as suas próprias promessas. Pode-se falar de um acordo vencedor-perdedor em desfavor dos Europeus. É necessário esperar que os futuros diplomatas o analisem  como um caso de estudo, como um exemplo, do que sobretudo não se deve fazer .

Romain Edessa, Revista Causeur, Erdogan: la tyrannie et le chaos -De la Syrie au Kurdistan, le sultan sur tous les fronts. Texto disponível em : http://www.causeur.fr/turquie-erdogan-kurdes-daech-37383.html

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