De um escândalo a outro – do escândalo Baupin ao da lei El Khomri | 2. Caso Baupin: o vermelho nos lábios foi posto – por Elisabeth Lévy

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

De um escândalo a outro – do escândalo Baupin ao da lei El Khomri

2. Caso Baupin: o vermelho nos lábios foi posto

Todos assediadores? Todos os procuradores !

Elisabeth Lévy

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Denis Baupin aquando da votação durante o Congresso Nacional dos Ecologistas – Os Verdes, em Novembro de 2013 (Photo : SIPA.00670617_000008)

Os jogos do Circo começaram. E como foi excelentemente demonstrado aqui mesmo por Regis Castelnau face aos leões e sobretudo às leoas, Denis Baupin não tem nenhuma chance. Simplesmente porque depois de ter ouvido – e mais que uma vez – a história de Sandrine Rousseau, diz-se obrigatoriamente, que vergonha “este velho nojento”. De resto, agora que as línguas se desataram, não há necessidade de provas: dado que, como foi dito com uma ingenuidade que até nos desarma, por Clémentine Autain, “toda a gente sabia”.

Inútil retomar aqui a argumentação límpida de Castelnau. O lamentável barulho mediático que se espalhou como o fogo na palha nada tem a ver com a justiça. Se o segredo de instrução foi inventado, o carácter contraditório dos debates e alguns floreados mais é porque estas são as condições de um processo equitativo. Salvo que não haverá aqui nenhum processo equitativo. E não haverá mesmo nenhum processo. E é assim mesmo, porque simplesmente não haverá queixa. E os factos prescreveram.

Certamente, ninguém se ofende que este seja retirado do seu posto (e talvez até do seu mandato) de um eleito da República, sobre o único fundamento de acusações apresentadas por dois meios de comunicação social e isto mesmo enquanto o interessado nega os factos de que é acusado. Confiemos na polícia dos costumes e na elegância do duo de choque Mediapart/France Inter (que duo!) e suprimamos a Assembleia nacional e os seus assediadores.

Por conseguinte, todos sabiam. Dir-se-ia efectivamente que no coração do Partido da Transparência, que tinha jurado, pela voz de Eva Joly abrir todos os armários e desenterrar todos os cadáveres, a Transparência foi escarnecida com ironia, com humor. Não se ousa acreditar que alguns tenham feito passar considerações políticas à frente da sua própria consciência. Seria lamentável que, depois de terem silenciosamente sofrido tanto, as vítimas não encontrassem força para falar senão no momento em que a Justiça já não pode fazer nada – e, acessoriamente, em que a esposa do culpado decretado se terá , dizem as línguas maldosas, bem aproveitado politicamente.

Dir-se-á que Baupin, tem um ar de espertalhão, ele que ainda ontem fazia figuras de santo devoto do campo do Bem: lábios vermelhos para toda a gente, bicicleta por toda a parte e tolerância zero face ao assédio sexual. Mesmo se ele se considera um corredor atrás de saiotes de modelo corrente, tudo isto faz dele um Tartufo de competição.

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Mas por outro lado, imaginemos que os profissionais da virtude que povoam a cena pública sejam realmente o que eles pretendem ser: mais mentiras, mais infâmias, mais jogos baixos e outras manigâncias, mais negociatas, mais cálculos políticos, mas que baixeza! Como é que se escreveriam romances!?

Certamente, não há nada de mais nojento do que este unanimismo de gente satisfeita, esta comunhão na nojice, esta alegria de ‘todos contra um’, muito, muito triste para as pessoas que se orgulham constantemente de “resistir”.

Fase II : do assédio em política …

Mas, além disso, o caso Baupin apenas ainda agora começou e estamos já na fase II: a da passagem às letras maiúsculas. Agora, já não se trata de actos condenáveis atribuídos a um homem, mas do assédio em política, das mulheres e das violências que lhes são feitas.

É preciso acabar com a lei do silêncio, é o que se ouve por todos os lados. E pressionam-se as mulheres para falarem, todas as mulheres, pois que todas as mulheres são vítimas, ou poderiam sê-lo. Quando se sabe o que algumas jovens caprichosas são capazes de inventar para prejudicar um homem, talvez não seja muito prudente incentivar a liberdade de expressão por todo o lado. Perguntem aos amantes, aos pais, aos maridos falsamente acusados – por vezes de maltratar os seus filhos – o que acham de dar a “palavra às vítimas”.

A lei do silêncio, neste caso, é particularmente ruidosa. Clémentine Autain nada disse sobre Baupin porque o Sistema a impedia. Uma graçola . O Sistema, como ela diz, adora pelo contrário estas histórias de mulheres vítimas do sexismo (na empresa, na praia, no pub, a polícia… o filão é inesgotável). Tratando-se da política, tornou-se mesmo repetitivo, basta denunciar a vida horrível das mulheres que entram na carreira para que lhes ponham à frente uma montanha de micros, como mostrou-o o eco atribuído à ridícula petição de mulheres jornalistas de há um ano.

De acordo com a narrativa corrente, haveria por conseguinte a todos os níveis da vida política, os homens que pensam apenas no que está entre pernas nas mulheres e as mulheres que elas, são puros espíritos, nunca utilizam a sedução e não fazem travessuras consentidas com os seus colegas de hemiciclo ou de partido. De acordo com “as descaradas”, a tendência a proteger os primeiros empurraria as segundas, por milhares, “a calarem-se, a sofrer e sofrer”. Que calvário! E uma pequena estrofe sobre o atraso francês, uma só.

Que as pessoas razoáveis possam acreditar que estas tontices são a realidade ultrapassa o nosso entendimento. Que haja homens – e mulheres, não se duvide – que possam abusar do seu poder para obter favores sexuais, nada disso é novo. Os patetas existem e o assédio também. O que é mais recente, é que esses comportamentos são reprimidos pela lei e reprovados pela sociedade. No entanto, como de costume, em nome de desvios reais ou supostos de alguns, de que se repetem os nomes com prazer, é todo o género masculino que se incrimina. Sob o pretexto de nos apresentarem o sexismo trata-se na verdade de inventar um mundo sem sexos e sem sexo.

Elisabeth LévyParte inferior do formulário

, Revista Causeur, Affaire Baupin: le rouge est mis -Tous harceleurs? Tous procureurs! texto disponível em : http://www.causeur.fr/baupin-cosse-harcelement-sexuel-rousseau-autain-38140.html

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