PARA A HISTÓRIA DO TEATRO DE AMADORES – 4. A FORMAÇÃO DA APTA – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DO TEATRO DE AMADORES – por ANTÓNIO GOMES MARQUES

Será que Warren Buffett leu Lénine? - por António Gomes Marques

 

Encontrar uma data fundadora do teatro de amadores não me parece possível, encontrar uma data da fundação de uma organização dos grupos de teatro de amadores já será outra história.

Grupos de teatro de amadores tiveram o seu início há séculos, uns com muito tempo de existência e outros menos; alguns criados apenas para uma comemoração, outros criados com intenção de continuidade numa qualquer associação existente, normalmente propostos por algum apaixonado pelo teatro e que logo teve aderência de mais uns tantos; outros foram criados nas secções culturais de grandes empresas; enfim, muitos terão sido os motivos e, como se diz no À BARCA n.º 5, de Dezembro de 1975, «Nada do que acontece parte dum ponto fixo no espaço e no tempo, …», servindo-nos deste número do boletim da APTA para dar a conhecer um pouco da História do Teatro de Amadores em Portugal.

A memória de alguns dos membros da primeira Direcção da APTA já legalizada, presidida por Viriato Camilo, situou a tentativa de criação de uma associação de amadores de teatro em 1954; depois, lembraram-se de que em 1967 tiveram conhecimento de um Festival Internacional do Teatro de Amadores, em Hamburgo, e, em simultâneo, da existência da AITA/IATA – Association International de Théâtre d’Amateurs / lnternational Amateur Theatre Association, com sede na Holanda, conhecimento este que estimulou alguns amadores de teatro portugueses a constituírem uma Associação Portuguesa do Teatro de Amadores, o que viria ao encontro da necessidade dos muitos grupos de teatro de amadores que se vinham formando no nosso país.

Alguns destes grupos estavam associados na Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (fundada em 1924), outros eram independentes, mas muitos deles mostraram-se dispostos a aderir a uma tal associação, mesmo muitos dos que estavam já inseridos naquela referida Confederação, o que deu origem a várias reuniões que levaram à elaboração de uns estatutos para o que viria a ser a APTA – Associação Portuguesa do Teatro de Amadores, concluindo-se este trabalho em 1969, logo remetidos ao Ministério de Educação Nacional para aprovação. Escreve-se naquele Boletim: «Em vão se esperou pela decisão ministerial, que só veio imediatamente após o 25 de Abril de 1974 (!) quando esses estatutos já não correspondiam às novas realidades da sociedade portuguesa.»

Durante todo aquele tempo de espera, a APTA foi funcionando clandestinamente, mantendo-se em contacto com os grupos de teatro de amadores que haviam aderido, enviando-lhes folhas informativas de vários assuntos relevantes para o movimento, apoiando-se nos meios de que dispunha um dos grupos – Grupo de Teatro do Grupo Desportivo do Pessoal da Companhia Nacional de Navegação.

Outra realização importante da clandestina APTA foi constituída por um curso de preparação técnica para amadores de teatro, dirigido pelo Encenador e Actor Fernando Gusmão, sem qualquer remuneração, note-se, curso esse realizado nas instalações da Academia dos Amadores de Música.

Entretanto, novos grupos de teatro de amadores foram sendo criados, de Norte a Sul do país, estando eu próprio envolvido na criação de um deles, Os Hipopótamos – Grupo de Teatro dos Serviços Sociais dos Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos, a que penso dedicar uma destas crónicas numa das próximas semanas.

Em 21 de Março de 1974, realizou-se um encontro de representantes de grupos de amadores de teatro, que apelidamos de semiclandestino, na sede do Campolide Atlético Clube, onde claramente se concluiu que a força em crescendo dos grupos de teatro de amadores justificava que se intensificasse a luta pela legalização da APTA, encontro este em que participei, a convite do Viriato Camilo e do Joaquim Benite –era naquele clube que o Grupo de Teatro de Campolide desenvolvia a sua actividade e estreava os seus espectáculos-, dado que eu, no momento, por razões políticas e que um dia talvez refira, me tinha afastado de «Os Hipopótamos», assim como o seu Director, o Escritor, Dramaturgo, Encenador e Actor Costa Ferreira, e, em tal situação, não poderia representar o Grupo naquela reunião. Logo após o 25 de Abril, eu e Costa Ferreira regressámos a «Os Hipopótamos».

Após o 25 de Abril, a Direcção Provisória da APTA realizou a sua primeira reunião geral no Palácio Foz, graças ao apoio das competentes entidades governativas, aprovando os novos estatutos, logo recebendo a necessária autorização do Ministério da Comunicação Social.

O claro apoio dos grupos de teatro de amadores de todo o país à sua nova Associação, levou a Direcção-Geral da Cultura Popular e Espectáculos a convidar a APTA a integrar a criada Comissão Consultiva para as Actividades Teatrais, como legítima representante do teatro de amadores, concedendo-lhe também um subsídio que foi fundamental para o arranque da sua agora legítima actividade.

Portela (de Sacavém), 2016-05-30

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