O DRAMA DOS MIGRANTES NUMA EUROPA EM DECLÍNIO E CAPTURADA POR ERDOGAN E OBAMA – 17. UMA NOVA GUERRA JÁ COMEÇOU – QUEBREMOS O SILÊNCIO, por JOHN PIlGER – I

refugiados - I

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

john pilger

   15.  Uma nova guerra já começou – quebremos o silêncio

Consortium News - Banner21

John Pilger, Start of a new world war

Fonte: Consortiumnews.com., 22 de Março de 2016

A propaganda a propósito “da agressão” russa e chinesa camufla a realidade de um movimento agressivo dos Estados Unidos e do Ocidente para encurralar  estes dois países, o início de uma nova guerra mundial, segundo  John Pilger.

John Pilger - I

Filmei as ilhas Marshall, que se situam a norte da Austrália, no meio do oceano Pacífico. Cada vez que digo aos meus amigos onde fui, perguntam-me “onde é ? ” Se lhes der uma dica falando de “Bikini ”, respondem “ está a falar de fatos de banho . ”

Alguns parecem estar ao  corrente que o fato de banho “biquíni” foi assim chamado  em homenagem às explosões nucleares que destruíram a ilha de Biquíni. Os Estados Unidos fizeram explodir sessenta e seis engenhos nucleares nas ilhas Marshall entre 1946 e 1958 – o equivalente de 1,6 vezes a bomba de Hiroshima em cada dia e  durante 12 anos.

John Pilger - II

O Presidente  Barack Obama aceita inconfortavelmente o Prémio Nobel da Paz  das mãos do Presidente do Comité Thorbjorn Jagland em  Oslo, Noruega, a  10 Dezembro de  2009. (White House photo)

Bikini está hoje  silenciosa, mudada e  contaminada. As palmeiras crescem  com uma estranha forma de grelha. Nada se move, nada mesmo. Não há passarinhos. As pedras tumulares do velho cemitério têm cores vivas  com as radiações. Os meus sapatos ao passarem por um contador Geiger assinalam  “perigoso”.

De pé sobre a praia, olhava o verde esmeralda do Pacífico acabar perto de um  vasto buraco negro. Era a cratera deixada pela bomba de  hidrogénio a que chamaram “Bravo”. A explosão envenenou as pessoas e o seu ambiente sobre centenas  de quilómetros em volta, talvez para sempre.

No  dia do meu regresso, parei  no  aeroporto de Honolulu e observei uma revista americana chamada Women’ s Health. Na capa  havia uma mulher  sorridente em biquíni com o título: “Também pode ter um corpo de  bikini. ” Alguns dias antes, nas ilhas Marshall, tinha entrevistado mulheres que tinham “corpos de bikini” muito diferentes; cada uma delas tinha contraído cancro da tiróide e outros cancros que são mortais.

Contrariamente à mulher que sorri na revista, todas elas  eram pobres: as vítimas e cobaias de uma superpotência ávida que é hoje mais perigosa que nunca.

Relatei esta experiência como uma advertência e para interromper uma diversão que consumiu tanto de  nós. O fundador da propaganda moderna, Edward Bernays, descrevia este fenómeno como “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões” das sociedades democráticas. Chamava a isso  “um governo invisível”.

Quantas pessoas estão ao corrente de que uma guerra mundial já começou? De momento, é uma guerra de propaganda, de mentiras e de diversões, mas a situação  pode alterar-se  instantaneamente com o primeiro erro de comando, o primeiro míssil.

A administração de Obama fabricou mais armas nucleares,  mais ogivas nucleares, mais sistemas de vectores nucleares, mais fábricas de materiais nucleares. As ogivas nucleares custaram por si sós  mais sob Obama que sob  todos os presidentes americanos. O custo sobre os 30 anos é de mais  de 1000 mil milhões de dólares.

John Pilger - III

Teste de uma explosão nuclear efectuado em Nevada em  18 de Abril de 1953.

Está prevista uma mini bomba nuclear. Esta é  conhecida sob o nome de B61 Modelo 12. Não houve nada de tal até agora. O general James Cartwright, um antigo Vice-Presidente do Comité dos chefes de estado-maior inter-armadas , disse: “Tornar as bombas  mais pequenas  torna a utilização da arma nuclear mais prática .”

Durante os últimos 18 meses, a mais importante acumulação de forças armadas desde a Segunda Guerra mundial – efectuada  pelos Estados Unidos – está  instalada ao longo da fronteira ocidental da Rússia. Nenhuma tropa  estrangeira, desde a invasão de Hitler à  União soviética, representou uma  tal ameaça concreta para a Rússia.

A Ucrânia – que anteriormente fazia  parte da União soviética – tornou-se um parque temático  da CIA. Organizando um golpe de Estado em  Kiev, Washington controla seguramente o regime que está à porta da Rússia e que lhe é muito hostil: um regime literalmente cheio de  nazis. As principais  figuras parlamentares são os descendentes políticos dos famosos grupos fascistas OUN (Organização dos nacionalistas ucranianos) e UPA (Exército insurreccional  ucraniano). Estes glorificam abertamente Hitler e apelam à perseguição e à expulsão das minorias russófonas .

São informações raramente divulgadas  no  Ocidente, ou são invertidas para dissimular a verdade.

Na Letónia, Lituânia e Estónia – vizinhas  da Rússia – o exército americano estende as suas tropas  de combate, tanques, armas pesadas. Esta provocação extrema da segunda maior potência nuclear é silenciada no Ocidente.

O que torna a perspectiva de uma guerra nuclear ainda mais perigosa é a campanha paralela contra a China. São raros os dias   em que  a China não é colocada ao nível  “de ameaça”. De acordo com o almirante Harry Harris, o comandante da região americana no Pacífico, a China “constrói um grande muro de areia no mar da China meridional.”

Aquilo a que o almirante se refere  são as pistas de aterragem que a China constrói sobre as ilhas Spratly, que são  objecto de um conflito com as Filipinas – um conflito de pouco amplitude antes de  Washington ter colocado  pressão e de ter subornado  o governo de Manila e sobre o qual o Pentágono efectua uma campanha de propaganda chamada “liberdade de navegação”.

Que significa isto,  na realidade?  Isto significa  liberdade para os navios  americanos de patrulhar e ter o controlo das  águas costeiras chinesas. Tentem imaginar a reacção americana se as embarcações chinesas fizessem a mesma coisa ao longo das costas californianas.

(continua)

Leave a Reply