DISCRIMINADOS APESAR DE INTEGRADOS por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

Vejamos como um jornal da nossa praça editou a notícia da formação do governo de António Costa.

E cito:

“…um verdadeiro mosaico social. Além de uma ministra negra, Francisca Van Dunem, na Justiça, António Costa leva para o Governo um secretário de Estado cigano, uma secretária de Estado cega, …”

“Atento às questões da igualdade, António Costa escolheu Ana Sofia Antunes, 34 anos, invisual e presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes (ACAPO), com quem trabalhou na Câmara de Lisboa, para a Secretaria de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência.

“ Carlos Miguel, de 58 anos, advogado que sempre se orgulhou da origem cigana e com provas dadas na Câmara de Torres Vedras”

Porque é que na formação do governo só a ministra da justiça tem nome?

Porque é que o Secretário de Estado Carlos Miguel não tem nome de família?

Porque é que houve necessidade dizer que o Secretário de Estado Carlos Miguel tinha “provas dadas”?

Carlos Miguel disse que: “Carlos Miguel era o filho do ‘Carlos Cigano’ e chamava a atenção porque ia ser doutor.

A minha mãe era empregada fabril”

Carlos Miguel em 1965 andava na escola e:

“Com sete anos, um colega disse-me que os pais não queriam que ele andasse comigo por eu ser cigano. Os pais da minha primeira paixão também não queriam que eu namorasse a filha.”

Tratava-se de um racismo pela tolerância: estás aqui, mas não deixas de ser cigano, ou seja, não entras na nossa comunidade familiar.

É curioso que a mãe de Carlos Miguel trabalhasse numa fábrica, mas deixa de o ser quando sabemos que a mãe não é cigana.

Carlos Miguel. “Sou cigano, não tenho culpa”. É Secretário de Estado, mas carrega nos ombros o facto de ser cigano. E porquê? Porque integrar não é incluir.

Espero que este “advogado dos ciganos” consiga dar visibilidade positiva da sua etnia para não surjam mais sapos nas portas dos estabelecimentos comerciais.

São muitos os preconceitos sobre os ciganos na comunidade não cigana. São muitos os preconceitos na comunidade cigana sobre “os senhores”.

Os preconceitos que afastam as duas comunidades estão, a maior parte das vezes, relacionados com as condições económicas das famílias ciganas, como a maneira como educam os filhos…

A criança cigana é mais livre do que a criança não cigana.

A mulher cigana é mais discriminada do que a mulher não cigana.

A mulher cigana deve ter muitos filhos para dar continuidade à etnia.

A criança cigana tem mais noção do colectivo do que a criança não cigana.

“ Sou cigano, não tenho culpa” é reconhecer que afinal não é muito bom ser cigano, é um empecilho para o desempenho político de um cigano.

A inclusão é um acto cívico que se move entre muitas questões até na noção de culpa pela origem.

Não há culpa na origem cultural ou étnica, há ignorância, falta de vontade política de pôr em marcha projectos de vida que consigam articular as origens de cada um, num caminho comum. As pontes têm dois lados, os rios têm duas margens. A interculturalidade tem  dois “eu” , tem um nós um Nós.

 

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