DA BURRICE AO CINISMO DA OPOSIÇÃO – O CASO DOS SECRETÁRIOS DE ESTADO – por António Gomes Marques

 

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Houve já quem qualificasse ao actos dos Secretários de Estado que aceitaram viajar para assistir a jogos do Europeu de Futebol, pagos pela GALP, como ingénuos. Deixemo-nos de tretas, de ingénuos não terão nada e, portanto, afasto esta hipótese; no entanto, os seus actos são de uma burrice evidente e este qualificativo assenta-lhes bem melhor. E burros eles foram também por não terem pensado que criariam uma situação que a oposição, falha de ideias para combater António Costa, não deixaria de aproveitar.

Que deve o Primeiro-Ministro de Portugal fazer agora? Demiti-los, pura e simplesmente, como é uso dizer-se, se eles não tiverem a dignidade de sair pelos próprios pés, esvaziando assim o problema e deixando a oposição sem um motivo para desviar as atenções, oposição essa que, consoante vai o tempo passando, mais dificuldades terá para voltar ao caminho que sempre seguiu quando poder e que é o de continuar a vender o país e a sua soberania aos poderes por quem os burocratas de Bruxelas continuam a dar a cara. E esta minha posição é tomada na minha dupla qualidade de cidadão português que paga pesados impostos e de militante do Partido Socialista, embora absolutamente inábil para singrar no aparelho. Provavelmente, serei eu o único ingénuo.

Arrumada assim a questão no que sobre os Secretários de Estado tinha para dizer, olhemos para a oposição, não sem antes referir o excelente texto que o jornalista João Miguel Tavares, um homem assumidamente de direita, escreveu no jornal Público de 6 de Agosto: «Eu fui ver a selecção – e não paguei», começando por não deixar de referir que o jornalista foi assistir a um jogo da selecção de Portugal no Mundial da Alemanha, em 2006, a convite do seu patrão e não de qualquer empresa que tentasse captar a sua simpatia numa qualquer crónica que pudesse vir a escrever.

Em determinado momento da sua crónica, escreve JMT: «Caros leitores: eu vi os aviões. Se começarmos a pedir a demissão a toda a gente que já aceitou bilhetes e viagens para ir ver futebol à borla, temo bem que corramos o risco de ficar sem metade do governo, sem metade da bancada parlamentar do PS, do PSD e do CDS, e sem metade das editorias e direcções de todos os jornais, rádios e televisões em Portugal.» Mais palavras para quê? Com JMT ficamos elucidados com o tipo de políticos que temos –com excepção dos que ao BE e PCP pertencem -, assim como sobre os órgãos de informação que nos vão adormecendo com as notícias que menos interessam à larga maioria do povo português.

Mas o cronista do Público não se fica por aqui –cuidado, qualquer dia você não tem onde escrever, meu caro João Miguel!-, mostrando a hipocrisia dos representantes do PSD e do CDS que, sobre esta questão dos bilhetes para o Europeu de futebol se têm pronunciado, patenteando até onde alguns deles ousaram ir para justificar o injustificado, como o maçónico da Grande Loja Legal de Portugal Luís Montenegro, sempre tão pronto a atacar António Costa e o seu governo na sua qualidade de Presidente da bancada parlamentar do PSD, e agora tão calado, que, para ir ver o jogo a França, invocou estar em «trabalho político», enquanto o vice-presidente da mesma bancada, para o mesmo evento, teve a lata de invocar «motivo de força maior», ficando nós a compreender a razão por que a atacar o governo aparece Fernando Negrão.

Como João Miguel Tavares, também eu fico à espera que os deputados do PSD mostrem as facturas comprovativas de que foram eles a pagar as viagens.

Por que razão não se mostrou Fernando Negrão tão veemente na defesa dos interesses do Estado quando se tratou das dívidas do ex-Primeiro Ministro à Segurança Social e à sua confusa e nunca claramente demonstrada relação com a Tecnoforma? E por que razão Assunção Cristas não se mostrou indignada com a história dos submarinos, das pandur, dos helicópteros e da subsequente aceitação do seu partido do milhão de euros, em várias tranches (perdoem-me o galicismo), depositado na conta do CDS, por um tal «Jacinto Leite Capelo Rego»? Neste caso, o CDS, para além de nunca explicar a origem do dinheiro, também não hesitou em gozar com todos os portugueses, que, naturalmente, não necessitarão que eu explique o significado de tal nome.

Reparem como fui comedido nos casos invocados!

E é assim que vamos vivendo, com os portugueses cada vez mais cordeiros e a temer que não lhes tirem as últimas migalhas que vão recebendo, aqueles que ainda as recebem. Até quando?

Portela (de Sacavém), 2016-08-07

2 Comments

  1. O« cara» Jacinto Leite Capelo Rego é um cidadão brasileiro . Por isso o seu nome deve ser dito na pronuncia carioca pura. Deve pertencer à «galera» dos que correram com Dilma e deve pertencer à rede de benfeitores do Lava Jato. Daí a generosa prenda ao CDS.

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