BARALHO DE CARTAS por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

O telemóvel é como um amigo de que ninguém se pode esquecer.

As fotografias, que se põem nas redes sociais assim como as conversas, revelam que as redes estão a substituir o convívio em que as pessoas conversam, com a boca e com os gestos, com as diversas posturas corporais, que por si só, falam dos nossos sentimentos.

Será que as nossas crianças estão a crescer com vergonha dos seus sentimentos?

O espanto, a partilha, uma mão no ombro, um olhar de cumplicidade estão a ser substituídos pelas redes sociais onde a nossa sensibilidade, a nossa capacidade de moderação e de auto-controlo não se desenvolvem, ficam num nódulo de comportamento que se manifestará, ou não, conforme as pressões exteriores.

As redes sociais transmitem os acontecimentos na hora…, tornam as pessoas dependentes do que escrevem e da leitura do destinatário.

“Não sabem? então eu mandei-vos por mail!”

 Escrevemos um mail e não passa pela cabeça de ninguém que não seja logo lido, mail mandado é mail, que sem dúvida, já foi lido…

Estamos a deixar crescer as nossas crianças numa sociedade em que predomina o imediato, a distância face à família, o medo e o sentimento de culpa.

Culpa porque não disse à mãe que o pai a violou, porque, se calhar, a culpa é da criança.

Culpa porque o gozam na escola porque ele é diferente…

Culpa porque os pais se vão separar.

Culpa de ser EU.

Nas redes sociais as nossas crianças podem ser seduzidas por estranhos, com pequenas coisas, e pequenas coisas que vão encher o seu ego.

Estas crianças sentem que há alguém que as quer conhecer, alguém que tem tempo para ela.

Há crianças que nunca deixam o telemóvel desde que se levantam até que se deitam, estão viciadas, já não conseguem comunicar com a família que se limita a dizer “estás sempre com o telemóvel, não fazes mais nada”.

Estamos a inverter os cuidados que a criança necessita.

Foi uma luta para que a criança percebesse que há outras actividades às quais se pode dedicar, empregar o seu tempo, ou seja, o tempo que o adulto precisa para realizar as suas actividades.

O adulto prefere estar sossegado sem ter que falar com as crianças, sem ter que sair de casa para ir a um jardim, ou para um parque infantil.

O adulto manipula as suas crianças conforme os seus interesses e não os da criança

 Em vez de ter dado atenção, em vez de ter partilhado o que gosta de fazer, em vez de a criança ter partilhado o que a preocupa, ergue-se um muro, devagar, entre as crianças e os adultos.

Não um muro de tijolo, mas de silêncio.

Não é uma voz zangada, não é uma voz autoritária, mas sim palavras de afecto, de carinho, que poderão transformar tijolos em sorrisos, em gestos de carinho.

 Transformar o muro de silêncio é urgente.

Todos ganhamos com isso, a sociedade será mais justa e poderá proporcionar às nossas crianças espaços públicos mais seguros.

Uma coisa é certa, o muro há-de cair a pontapé ou como um baralho de cartas.

A carta da culpa cai e faz cair a da vergonha, a carta do silêncio cai e faz cair a carta do tempo ao telemóvel…..

 

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