
Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Para um conceito progressista de eficiência
Bill Mitchell, Towards a progressive concept of efficiency – Part 1
Billy Blog, 18 de Julho de 2016
(continuação)
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Compreendendo o quer é eficiência
Como pano de fundo para a maioria desses tópicos, pensamos que uma discussão sobre o que queremos dizer com eficiência é importante porque a maneira como construímos esse conceito determina como podemos avaliar as proposições que estamos a avançar.
Por exemplo, uma das reivindicações muitas vezes repetida de que os programas de criação de emprego público em grande escala (como uma garantia de emprego) são inúteis, os esquemas de “ fazer trabalhar” levam a que os recursos da economia passem a ser utilizados em formas sub-optimais.
A crítica é baseada no que nós consideramos ser uma concepção muito restritiva de eficiência, o tipo de concepção que domina a economia neoliberal hoje dominante.
A versão neoliberal dominante da noção que os economistas gostam de repetir ad nauseum parece pensar que é eficiente ter 25 por cento de desemprego (e o desemprego de juventude em 50 por cento ou mais, nalguns casos), enquanto o saldo orçamental está em situação excedentária ou abaixo de um limiar ad-hoc.
Esta construção privada sobre os custos e benefícios do que é eficiente e do que o não é, é desprovida de credibilidade numa visão progressista que avalia as situações mais em termos de sociedade do que em termos de economia, mais em termos do bem-estar humano do que em termos dos lucros privados.
O outro exemplo, que surgiu na semana passada (como referi na introdução), foram as reivindicações que as indústrias nacionalizadas nos anos 50s e 60s na Grã-Bretanha tinham sido autênticos desperdícios e também tinham constituído uma via para a ineficiência, como tinha acontecido noutros países durante esse mesmo período. Mas na base de que cálculos é que se pode tirar essa conclusão? Uma vez que podemos alargar a nossa percepção sobre a ideia de eficiência então algumas destas conclusões tornam-se sem sentido.
Eles são apenas construções e conceitos neoliberais implantados para defender uma determinada classe de interesses em detrimento da sociedade e dos trabalhadores que nela trabalham e vivem.
Assim, o presente texto pretende expor o que nós pensamos de eficiência como um precursor para o desenvolvimento de componentes do nosso Manifesto Progressista ‘.
Quando falamos sobre renacionalizações, controlos de capital, regulações bancárias, ou utilizamos a expressão de estímulo orçamental, há uma tendência, mesmo entre os progressistas para encolher os ombros e nos acusarem de ser anacrónicos keynesianos, de regresso aos anos 1950 como se dessa década ou próximo dela , seja uma espécie de nirvana.
Não podemos nós ver que o mundo mudou irrevogavelmente e que o mundo velho do trabalho, o do trabalho intensivo, em que o Estado fez funcionar indústrias com grandes défices e à custa de regulações e regulações que restringiram a possibilidade de operarem sobre o domínio privado operado não é mais possível?
Está tudo isto fora do nosso alcance de tal forma que não podemos ver nada disto?
Bem, vamos deixar uma coisa absolutamente clara desde já. A década de 1950 não foi nenhum nirvana! Isso é óbvio.
As condições no período imediato ao pós 2ª guerra eram bastante terríveis com as nações em grande dificuldade para reconstruir e restaurar a capacidade de produção e os respectivos canais de distribuição etc.
Os sindicatos foram instituições largamente dominadas por homens que mostraram muitos dos preconceitos que procuramos agora expurgar – racismo, sexismo, homofobia, preconceitos sobre faixas etárias, sobre gerações, etc.
As mulheres estavam muito mal representadas na força de trabalho e nas posições de comando e havia restrições sociais para garantir que esta divisão era para ser mantida. Como resultado, o potencial económico foi limitado por essas restrições sociais.
O crescimento da indústria pesada foi incentivado sem qualquer compreensão real das consequências a longo prazo quanto ao impacto sobre o meio ambiente.
O trabalho era, em muitos casos, repetitivo e violento e muitas vezes realizados em condições inseguras e duras.
Em muitos casos, as empresa públicas de muitos sectores industriais foram arrasadas com os compadrios e os sindicatos muitas vezes desempenharam um papel destrutivo, mas nessa altura ninguém tinha então o monopólio sobre o nepotismo, a corrupção e sobre a fraca capacidade de tomada de tomada no setor público. Todas as organizações podem-se perder por este caminho, independentemente do estatuto de propriedade em que são geridas.
Então quando dizemos que podemos organizar um processo de renacionalizar os caminhos de ferro , por exemplo, significa que temos uma visão que não é nem sequer remotamente como a da década de 1950 relativamente às empresas públicas e fazendo funcionar sistemas ferroviários em todo o mundo.
E, quando dizemos que queremos desenvolver políticas que revitalizem a industria transformadora não estamos a encarar voltar aos trabalhos sujos, mais que enfadonhos das linhas de montagem que acabaram por destruir muito trabalho menos qualificado ou não qualificado que foi implantado na década de 1950 e 1960. Estamos a pensar em trabalho de grande formação, de grande especialização, de elevadas competências utilizado no fabrico de componentes de alta tecnologia e utilizando a indústria transformadora para ajudar a criar outros objetivos, como o reposicionamento de produção para ser ambientalmente sustentável. Essa visão está a anos-luz de onde nós viemos.
Os dinossauros estão extintos. Nós não podemos voltar a tê-los, de novo!
(continua)
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Ver o original em:
Para a Parte I deste trabalho de Bill Mitchell, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, clique em: