Uma tentativa de golpe de Estado moderno sob a égide da União Europeia na Itália a 4 de Dezembro de 2016 – Os eleitores do Partido Democrático reconhecem-se na reforma do governo

Selecção de Júlio Marques Mota

Uma tentativa de golpe de Estado moderno sob a égide da União Europeia na Itália a 4 de Dezembro de 2016

13. Os eleitores do Partido Democrático reconhecem-se na reforma do governo, diz‑nos Giuseppe Vacca1

1 Tradução de Júlio Marques Mota, revisão de Joaquim Feio.

1

 Entrevista com o diretor do Instituto Gramsci: “Renzi é o resultado de 7 anos de história do Partido Democrático. No Congresso em que há muita coisa a fazer é bom que se evidencie como o Pd, Partido Democrático, poderia servir o país mais e melhor do que até agora tem feito”

A trabalhar no final do livro, «o século XX de Antonio Gramsci», na sua casa em Koroni, no Peloponeso, «juntamente com a minha mulher a quem tanta vez tenho tirado o PC para ler o que está a acontecer no mundo e na Itália», Giuseppe Vacca, diretor do Instituto Gramsci, tenta desdramatizar o que está a acontecer no Partido Democrático, “é fisiológico – diz durante esta longa entrevista – que alguém não reconheça a linha política da maioria do partido.” Então tudo bem? Nem tudo, porque de acordo com o filósofo, que não partilha “nem mesmo uma vírgula» nas críticas feitas pela minoria contra as reformas do Partido Democrático, a grande maioria dos eleitores e militantes do Partido Democrático aprova o percurso reformador no qual Matteo Renzi se está a arriscar e assim a colocar sobre a mesa o seu cargo de Secretário-geral e de Primeiro-ministro.

2

Legenda: Staino: «Con D’Angelis L’Unità é um nado morto », Sublinhe-se que o jornal l’Unità abrigou intelectuais da estirpe de Pier Paolo Pasolini, Elio Vittorini, Salvatore Quasimodo, Italo Calvino, Massimo Bontempelli, Cesare Pavese, Alfonso Gatto, Paul Éluard, Louis Aragon, Federico García Lorca e Ernest Hemingway.

Dialética interna normal, a que atualmente se pratica no Pd e que depois das intervenções de Staino e Cuperlo sobre a unidade inflamou o debate?

“Eu acho que isso acontece em qualquer partido no governo, se é o principal partido que suporta a coligação governamental. No nosso caso, portanto, trata-se de uma coligação tornada necessária pelos resultados das eleições de 2013. Então eu mantenho a ideia de que é fisiológico que alguém não se reconheça na linha política da maioria. A questão levanta-se quando se entra na substância das questões.”

Então, na sua opinião o Pd, que está à prova no governo, tem estado à altura das expectativas que nele se depositavam ou mostrou as suas contradições?

«O primeiro julgamento do governo nos últimos dois anos tem mostrado o que o Partido definiu como agenda de reformas importantes, que decorrem dos princípios fundadores do Partido Democrático. Definiu e impôs uma agenda política que responde às prioridades do país e por isso, qualquer que seja o posicionamento no seu interior, o Pd é avaliada de acordo com a forma como interpreta a relação entre a agenda do governo e as necessidades do país.”

Este é o cerne da questão: acha que o Pd tem estado centrado no seu objetivo, ou seja, que há uma ação do governo que coincide com o que a Itália precisa?

“A minha impressão é que este é o sentimento comum da maioria dos eleitores e militantes do Partido Democrático. Deste modo, qualquer forma de dissidência é avaliada não apenas em relação a determinadas questões específicas, mesmo quando dizem respeito a reformas constitucionais, mas é também comparada com o facto que enriquece, ajuda e apoia uma ação de governo. Ação a que respondem, em última análise, todos aqueles que ajudaram com o seu voto, a eleição, ou com a dialética interna dos órgãos internos do partido, ajudam o próprio Pd assumir esta responsabilidade no momento mais dramático da crise do euro e do sistema político da segunda República .”

Mas agora há aqueles que começam a evocar a divisão. Parece-lhe ser uma hipótese puramente teórica?

“De um ponto de vista objetivo, esta possibilidade de divisão existe sempre como possibilidade, porque ao conjunto desses que acabam por não partilhar toda a conduta da maioria e da ação governamental pode levantar-se, mais cedo ou mais tarde, o problema de criar um outro partido. Mas é credível um outro partido na situação política italiana? E para fazer o quê? Para fazer um Partido de esquerda diferente do que seria o Partido Democrático ? “.

Reformulemos a questão: seria credível e haveria espaço para um novo partido?

“Eu acredito que a grande maioria de cidadãos europeus, italianos ou de qualquer outro país para onde nos viremos, mesmo que esporadicamente, olha para a Itália, para o Partido Democrático, membro do PES como o primeiro partido no Parlamento Europeu desta família, que já mostrou a sua capacidade em saber declinar de forma positiva a relação entre politica nacional a política supranacional europeia, como o partido que representa tudo o que pode ser considerado uma esquerda. Isto é, no contexto europeu, um partido no governo e pró-europeu, de centro-esquerda, capaz de se abrir a um debate em toda a linha pelas questões de relevância constitucional tais como aquelas que em Itália são, não apenas recentemente, a parte mais sensível e prioritária de qualquer agenda credível governamental”.

 

Um outro tema que está no centro do debate é a forma de partido. Bersani e a minoria criticam a liderança do Partido.

“Parece-me um falso argumento, não no caso específico, mas em geral. Quando existem partidos modernos, ou seja, que funcionam em regime de sufrágio universal, a figura do líder, a estatura do líder, sintetiza as responsabilidades, as potencialidades e os riscos na situação histórica determinada. É um problema histórico que a política europeia resolveu em diversas modalidades desde o início do século XX . Em segundo lugar, não é possível discutir como é que um partido se deve organizar sem entrar em linha de conta com o conjunto das leis eleitorais que regulam a participação política. Deste ponto de vista a única referência concreta atual, incidindo mais sobre o futuro do que sobre o presente do Partido Democrático, é, na minha opinião, o Italicum que, contrariamente às leis eleitorais que a precederam, o Mattarellum e o Porcellum, é muito mais decidido em prefigurar a reconstrução do sistema político centrando-o no papel proeminente do Partido“.

Por conseguinte, não partilha as críticas ao Italicum?

“Não partilho nem uma vírgula e penso ser um extraordinário erro de gramática a tentativa de eliminar do discurso a fórmula de partido da nação que, mesmo que discutível, responde a um conceito forte de partido emancipado das reduções sociológicas pobres mais ou menos conscientemente interiorizadas, como sequência da hegemonia cultural economicista que se impôs no debate sobre a crise da democracia a partir da metade dos anos setenta do século passado. O que é um partido político senão um ponto de vista sobre a história e sobre o destino de uma nação? E é realmente necessário reafirmar que a narrativa contemporânea é plural e que o terreno da sua narrativa e representação é evidentemente contestável?”

O partido da nação é um outro conceito difícil de aceitar para muitos democratas.

“Bastariam as inevitáveis referências às crónicas dos jornais sobre as linhas de interdependência e de interferência mútua no concerto global das nacionalidades para tornar claro que qualquer partido que aspire a governar um país deve ser à sua maneira “Partido da Nação”, isto é, um partido capaz de combinar nas modalidades mais virtuosas possíveis as influências recíprocas da política nacional e internacional “.

3

Legenda: Renzi: “Partido da Nação ? São Beppe Grillo, d’Alema e Berluscuoni”

Assim, Renzi está, na sua opinião, a conduzir o Partido Democrático na direção certa?

“Penso que Renzi é o resultado de sete anos de história do Partido Democrático e, como é de esperar que mais cedo ou mais tarde haja um congresso (os que temos visto até agora não eram verdadeiros Congressos), é justamente essa a sede própria para aqueles que têm mais críticas a fazer ao Partido as façam e mostrem como é que o Partido Democrático pode servir o país mais e melhor do que o que tem feito até agora.

Ver o original em:

http://www.unita.tv/interviste/gli-elettori-del-pd-si-riconoscono-nelle-riforme-del-governo-parla-giuseppe-vacca/

Leave a Reply