CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – CÊGÊDÊ (OU CG dá)

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Nós, povo que lavas no rio (e circunstancialmente, por baixo) não sabemos, não compreendemos, não entendemos nada de economia, finanças e isso. Limitamo-nos a estupefactar, a interrogar, a não saber e a não compreender o que acontece, o que aconteceu, de tão grave e de tão aparentemente insólito.

Somos bombardeados todos os dias com o entra e o sai, com o declara e o não declara (proventos, tá visto) e depois sai um (que nunca chegou a entrar) e entra outro e prontos, já está. E este é do tempo e do clube do zoutros, não é engraçado? E coincidente?

Mas lá que algo deve ter acontecido de mal, lá. Basicamente aquilo é uma coisa portuguesa, nossa, íntima, simples, um Banco do Estado, uma caixa (do género caixa escolar) mais ou menos geral onde o maralhal põe depósitos, ou seja, as suas economias e poupanças. Caixa Geral de Depósitos, como o singelo nome indica.

Mas depois emprestaram dinheiro a quem não deviam, não foi? Que azar! E fecundaram-se imenssissimamente, não foi? Pois, parece que ninguém pagou ou vai pagar ou coisa assim, que faliu ou usou mal o quantitativo em obscuros negócios ou flutuantes empresas –  tanta massa e tão prodigamente emprestada! –  e então vem o défice, a álgebra dos números negativos, o mais por menos dá sempre menos, não é? E então aparece a palavra mágica (aliás já um bocado usada): recapitalização.

Mas e o que é que aconteceu à anterior, à capitalização propriamente dita?

E como é que os anteriores administrativos administradores administravam o administrante? Não teriam eles máquinas de calcular tipo Texas? Nem uma tabuada? Um ábaco?

Mas isso não é então investigado, inquirido, desconfiado, elucidado? Areia pró zolhos todos os dias nos media, conversa de chacha, ordenados óptimos (consequente melhoria no desemprego de gestores e afins, valha-nos isso) para os novos, os salvadores da caixa e da pátria. E os outros? Os que lá estiveram, não são responsabilizados? Não lhes acontece nada, estão inocentes, foi um azar, vão de férias prá Curia, assobiam pró lado e até mais logo.

Se calhar vão de férias com aqueles a quem emprestaram os tais milhões. Se calhar eram todos amigalhaços, toma lá, dá cá, um favor se faz favor, estiveste no governo e eu na banca, agora estou lá eu e tu na banca, a gente compreende-se, temos de ser uns pró zoutros, quem vier atrás que feche a porta, desta já nos safámos, nunca ninguém virá a saber ou a apurar coisa nenhuma, a justiça é lenta e o povo é manso.

Viva Portugal!

carlos

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