Numa cidade de vocação tradicionalmente marítima, chamam a atenção nestes dias duas notícias ligadas à sua variegada relação com o mar.
A primeira diz respeito à grande barragem móvel conhecida pelo nome de Mose, que já foi motivo de escândalo por causa da rede de corrupção e negócios ilícitos que envolveu. Sobre a mesma, surge agora um estudo comissionado pelo Ministério das Infraestruturas que refere uma situação alarmante com “possíveis criticidades metalúrgicas” das componentes da estrutura.
O projeto do Mose, desde sempre hostilizado por muitos, propunha-se dar uma solução satisfatória ao fenómeno da “água alta”, sobretudo acima de certos níveis de maré cheia. No entanto, em fase de ensaio, a obra apresentou vários problemas: alguns meramente técnicos, como as comportas que não se levantam, outros de carácter ambiental, tais como a proliferação de mexilhões e parasitas na superfície da barragem. A manutenção extraordinária, necessária desde a fase de realização da obra, já fez quase quadruplicar a despesa prevista inicialmente.
O recente relatório, porém, acrescenta um elemento muito mais preocupante, ou seja, o impacto da corrosão eletroquímica determinada pelo ambiente marinho, que possivelmente já terá tornado inutilizável o mecanismo que une a comporta à base de cimento. A substituição ou a reparação das peças danificadas parece inviável e o espetro de uma moderna e inútil catedral de betão e aço no fundo da laguna é cada vez mais real.
