SINAIS DE FOGO – PARABÉNS, DR. CAVACO – por Soares Novais

sinais de fogo

Parabéns, Dr. Cavaco. O seu “Quinta-feira e outros dias” já anda por aí. Em médias e grandes superfícies. Lado a lado com o “Sentir” da Cristina e o “Vaticanum” do Zé. Paredes meias com as couves, os grelos, as papas para bebés e as fraldas para a incontinência dos “hiper” do engº Belmiro.

Escrever um livro com 592 páginas não é para qualquer um. É um feito só ao alcance dos “melhores”. Daqueles que “nunca se enganam e raramente têm dúvidas”. Creio também que o Convento do Sacramento, em Alcântara, onde agora tem o seu gabinete de trabalho, uma secretária, um assessor e um motorista às ordens, é o responsável pela publicação de tão “grandiosa obra”. Talvez pelo facto do antigo convento dominicano sussurrar a história dramática protagonizada por Frei Luís de Sousa e sóror Madalena, que Almeida Garrett tão genialmente retrata em apenas três actos e escassas páginas. Talvez.

Ou, então, porque agora, em pleno gozo da sua merecidíssima reforma, teve o desejo de escrever não um “roteiro” mas uma “obra” em forma de livro. Acontece. E os exemplos abundam entre muitos daqueles que frequentam as muitas universidades seniores que há no país. Subitamente, o antigo homem da “bomba de gasolina” descobre que é poeta e desata a fazer quadras de pé-quebrado; e a ex-funcionária de escritório começa a pintar quadros com florzinhas que, depois, oferece aos colegas de turma.

Mas o seu livro não tem a sublime ingenuidade das florzinhas pintadas pela antiga escriturária. Nem a ironia das quadras de pé-quebrado do ex-homem da “bomba de gasolina”. Não.

A fazer fé naquilo que os jornais e os canais de televisão do seu velho amigo Balsemão propagandeiam, “Quinta-feira e outros dias” é, isso sim, um rancoroso “ajuste de contas”. Ou seja, não é uma “prestação de contas” como afirma.

Além de mais, a generalidade da maralha, que respirou de alívio quando deixou de ser o inquilino de Belém, dispensava tal “prestação de contas”. O mesmo não se pode dizer do “Fisco”. A Autoridade Tributária  esperava que tivesse feito boas contas quando construiu a casa na Aldeia da Coelha, mesmo ao lado daquelas dos ex-figurões do BPN…

Uma coisa é certa: “Quinta-feira e outros dias” está aí. E esse é um mérito que ninguém lhe pode tirar. Sobretudo, por uma razão: o seu ex-assessor de Imprensa, que depois chutou para o sótão de Belém, não lhe deu nenhuma mãozinha na escrita da “prestação de contas”.

A “obra”  foi apresentada na Sala Almada Negreiros do Centro Cultural de Belém, a mesma onde celebrou vitórias e destilou fel, perante “ilustres” convidados e alguns “zés-ninguém”, que o continuam a vêr como o “Obreiro da Pátria”. Tal como acontecia com o “prestador de contas” de Santa Comba Dão.

Parabéns, Dr. Cavaco. Mesmo que o seu “Quinta-feira e outros dias”  não venda um décimo daquilo que vendeu o “Sentir” da Cristina e o “Vaticanum” do Zé, não se amofine. Teve o seu momento de glória e autografou umas dezenas de exemplares. Também foi assim com Saramago. Antes de receber o “Nobel” e de conquistar milhões de leitores em todo o mundo. Acalme-se, pois. A esperança é a última a morrer!…

A tempo: Gosto da capa escolhida para “Quinta-feira e outros dias”. O Dr. Cavaco e família sempre gostaram muito daquele palácio. Lembro-me bem de o ver entrar ali pela primeira vez, de mãozinha dada com a esposa e a restante prol. Acabavam de chegar ao topo.

1 Comment

  1. Quando penso no “Sexta-feira”, que Daniel Defoe colocou ao serviço de Robison Crusoé, sou obrigado a concluir que para fazer o que “o bombista” fez bastava, como bastou, um “Quinta.Feira”, CLV

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