CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – TURISMO

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Como pode haver algum Governo em quem a gente vote e confie, que autorize (ajude, propicie, contemple, permita) coisas destas?

Para quê votar – pergunta uma data de gente, essencialmente a que se permite ser pobre e viver há anos em prédios há anos degradados – para quê esse acto “cívico e democrático”, se de repente se deitam abaixo vidas com esta facilidade? Que confiança merecem governos e poderes que se permitem estas coisas?

É o capitalismo, estúpido? É, pois claro que é. Mas em que a famosa luta de classes deixou de existir, uma vez que as classes “menos favorecidas” (o querido eufemismo da Direita) já não lutam sequer, exaustas que estão, já não conseguem lutar, restando-lhes apenas desaparecer, com discrição e em boa ordem, tal como foram as suas vidas pobres, ordenadas e discretas.

Um casal de pobres velhos é intimado (intimado, repare-se, uma coisa para criminosos) a sair até ao fim do ano das sua pobres e torturadas casas porque há condomínios de luxo e hostels em perspectiva e prontos a nascer por todo o lado. Porque o bairro está em inequívoca mudança. Porque as castas superiores “descobriram” mais uma moda, mais um modo interessante de estar na cidade, penetrar-lhe na antiguidade e no típico, é tão giro, é tão diferente, é mesmo diferenciado.

Agora já só os parolos e os novos ricos compram apartamentos nas altas de Lisboa, tá’ver?

E depois há os sacrossantos turistas que devem adorar as ruelas e os recantos, quase como se estivessem a visitar um típico e barato país do Terceiro Mundo, mas que é mesmo aqui ao lado, perto da Europa, sem demasiada porcaria nem maçadas terrorísticas.

E há os filhos da puta, que compram e vendem tudo o que lhes dá na ganância, com pleno à vontade e dentro das lei

Ninguém está ainda livre deles, após mais de quarenta anos de “liberdade e direitos humanos”? Ninguém se revolta? Ou isto é tudo natural na maravilhosa vivência da doce e livre concorrência? Ou são afinal as leis do mercado e o que de ser tem muita força, como diz o estúpido ditado?

Eu tinha vergonha de pertencer a um Governo que tais coisas permite. Eu pintava a cara de preto se dispusesse de poderes camarários e deixasse acontecerem coisas destas.

Dói-me a raiva e a incapacidade de não poder mudar tudo isto.

Carlos

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