CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – O LADO BOM DO TRUMP

 

Estou preocupado Comigo mesmo.

Quase nem durmo.

É que descobri, de repente, uma coisa no Trump aparentemente “boa”.

Bem, isto é uma blasfémia, uma violência em forma de escrita e de opinião, vinda de quem vem – de um tipo sem importância alguma, de um mim, incógnito e misturado cidadão.

E o que é que eu descobri? Algo que preocupa, que incomoda a Direita –  esta e todas as outras, certamente. Vão ver que é fácil de perceber.

Que o Trump é uma besta, pois claro e naturalmente, todos estamos de acordo – um alarve, um maldoso e inaudito fascistóide, burgesso, racista, sexista e etc. Poizé. E mais: não é que todos os quadrantes políticos civilizados, bem educados e estabelecidos democrática e politicamente concordam?

E o que é que isso tem de bom, perguntam vocês? Ou de mal, vamos lá.

É simples. E mais interessante que outra coisa. O Trump é irritada e veementemente contra uma espécie de Serviço Nacional de Saúde que o outro engendrou. O Trump adora as empresas, quer que os trabalhadores se lixem, quanto mais precários melhor (lá são todos sempre precários) é contra o aborto, não pode ouvir falar em Sindicatos, nem em jornalistas de Esquerda, nem em fraternidade multirracial, nem em homossexuais, ateus ou feministas, não suporta opiniões contrárias, acusa de traidores ou despratiotas quem não pensa como ele, é a favor de um Poder apoiado na força, põe em causa as liberdades individuais de cada um, farta-se de enaltecer as piores eminências que por lá existem nos States, privatizar seja o que for (fosse o que fosse) nem lhe passa pela cabeça, faz parte dos ricos e muito ricos que não pagam impostos, está metido em negócios discutíveis e sujos, vive do e no twitter e fora de qualquer realidade social (aliás está-se cagando para ela) e acha que alimentar o ódio e o belicismo é a única forma de governar e estar no mundo.

Ora quem é que pensa assim, nestes moldes, no panorama político europeu?

É a Direita, todas as Direitas, incluindo (naturalmente) a nossa, a nossa querida Direita. Que se apressa a falar e a escrevinhar mal dele, correctamente política ou politicamente correcta, mas que sabe que quase todos nós sabemos que ela sabe que nós sabemos que ela sempre se apoiou nestas ideologias, nestas sinistras formas de estar desde todo um sempre, um modo de estar e de lutar contra as discretas conquistas da humanidade no que toca às classes e respectiva luta, uma obsessão histórica pela manutenção de privilégios.

O que o Trump terá “de bom” nesta coincidência de pontos de vista com os queridos atrás nomeados – claro que mais fatela, mais bronco, mais agressivo, violento e ordinário, uma bestaça completa – é o que os incomoda, é o que lhes é difícil pôr em causa.

Eles lá conseguem pretender que acham tudo mau e horrível naquilo que ele faz ou afirma, mas há uma dificuldade e um mau estar (e até um mau cheiro) crescentes cada vez que o energúmeno vomita políticas ideias futuras para aquela complicada civilização norte americana, ideias de uma semelhança e coincidência sempre perigosamente parecidas com as deles.

Uma maçada, enfim. E para mim também, afinal, que acordei há tempos com esta ideia fixa daquele lado “bom” do Trump. Como é possível imaginar um lado bom naquele monstro?

Deus escreve Direita por linhas tortas, é o que é.

Carlos

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