Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Um lamentável debate, nomeadamente sobre as pensões
Nem Macron nem Le Pen têm consciência do problema francês

Jacques Bichot, Economista – Un débat pitoyable, notamment sur les retraites – Ni Macron ni Le Pen n’ont pris la mesure du problème français
Publicado por Revista Causeur, em 4 de Maio de 2017
Confesso: ao fim de uma hora e meia, parei com a onda de palavras e de mímicas de desprezo ou agressivos que me apresentava o computador do qual me servi para seguir o debate de ontem à noite entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron. Que o destino da França possa depender de tal combate de galos é uma realidade consternadora. A responsabilidade dos grandes meios de comunicação social nesta medíocre qualidade da informação é muito forte, porque a democracia assenta em parte importante sobre a possibilidade que é dada (ou não) aos cidadãos de ganharem uma ideia exata dos projetos e do caráter daqueles que lhe apresentam em sufrágio.
Candidatos, estão aí?
A minha missão era de analisar a parte da emissão relativa às pensões de reforma. O que me impressionou mais foi uma dupla ausência da demografia: nenhum dos dois candidatos fez qualquer referência à taxa de natalidade, que é, a longo prazo, um fator decisivo em matéria de pensões de reforma por repartição . Também não foi aqui questão, a este propósito, os fenómenos migratórios. Contudo, se os nascimentos são insuficientes, como por exemplo na Alemanha, a utilização de trabalhadores estrangeiros é a única maneira de evitar o que está a acontecer com o Japão: trabalhar massivamente até à idade de mais de 70 anos.
E o problema não é apenas quantitativo: uma formação inicial medíocre, uma formação contínua inadequada ou mal orientada vai no mesmo sentido que uma fraca fertilidade; que os franceses os mais qualificados, os mais empreendedoras e os mais trabalhadores tenham tendência a ir para outros lugares se a erva deixar de estar verde também compromete o futuro das nossas pensões, especialmente se entre os estrangeiros que se vêm instalar no nosso país não se encontra gente suficiente que possua o nível dos nossos expatriados.
Não foi mais levantada a questão de tornar as pensões de reforma por repartição compatíveis com o movimento internacional dos trabalhadores. Emmanuel Macron referiu com razão que a existência de 37 regimes de pensões de reforma é uma complicação que impede que os franceses se saibam aí localizar. Mas este convencido internacionalista não se estendeu na sua observação ao nível, se não a nível planetário, pelo menos a nível europeu. Ora, todo e qualquer expatriado faz a experiência, pelo menos no momento de liquidar os seus direitos de pensão de quão complicada é esta tarefa.
A idade da passagem a pensão de reforma completa foi levantada por Marine Le Pen, que quer voltar dos 62 anos para os 60 anos. Mas o seu adversário não mencionou, para a contradizer, o fenómeno demográfico essencial que é o crescimento da esperança de vida com boa saúde. Somos menos velhos hoje, com a idade de 62 anos, do que se era com 60 anos de idade em 1982, quando foi implementado a imprudente promessa feita pela União da esquerda.
«Não há outra riqueza que não sejam os homens» (“Il n’est de richesses que d’hommes »)
Finalmente, a única ideia interessante que foi avançada sobre reformas neste debate, é o projeto de Emmanuel Macron sobre a criação de um regime único semelhante como um irmão gémeo ao que é aplicado na a Suécia – solução defendida em 2008 por Thomas Piketty e Antoine Bozio num pequeno panfleto intitulado “para um novo sistema de previdência ; de contas individuais de contribuições financiadas por repartição.” Emmanuel Macron facilmente podia ter respondido que a Suécia não é o protótipo do país ultraliberal, mas ele não o fez. Quanto a Marine Le Pen, esta perdeu também a resposta a dar: a grande fraqueza do sistema da Suécia, como de outros sistemas de pensões de reforma por repartição é, neste momento, atribuir direitos de pensão, que não correspondem, de maneira nenhuma, ao que prepara as futuras pensões, ou seja, a aposta no nascimento de crianças e na sua educação.
Ainda aqui, é ao nível da demografia que os nossos dois candidatos se mostraram identicamente errados. Ignorar a mensagem de Bodin (“Não há outra riqueza que não sejam os homens “) e de Sauvy (” nós não preparamos os nossos aposentados pelas nossas contribuições para a reforma, mas sim através dos nossos filhos”) é uma lacuna dramática para um futuro chefe de Estado. Charles de Gaulle, ele, sabia que, se a França não se dispusesse a uma maior fertilidade natal, em ter mais filhos, a França não seria mais do que uma grande luz lentamente a extinguir-se.
Jacques Bichot, Revista Causeur, Un débat pitoyable, notamment sur les retraites –Ni Macron ni Le Pen n’ont pris la mesure du problème français. Texto disponível em :
http://www.causeur.fr/debat-macron-le-pen-retraites-44136.html
” Charles de Gaulle, ele, sabia que, se a França não se dispusesse a uma maior fertilidade natal, em ter mais filhos, a França não seria mais do que uma grande luz lentamente a extinguir-se.”excelente -Maria