Um dos acontecimentos que mais contribuiu para o desgaste e descrédito da instituição monárquica foi a questão do Ultimato que, em 11 de Janeiro de 1890, faz hoje 128 anos, o governo britânico (que designava o documento por «Memorando») o entregou ao governo português exigindo a imediata retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, a maior parte nos actuais Zimbabué e Zâmbia), a pretexto de um incidente ocorrido entre portugueses e Macololos. A zona era reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa Cor-de-Rosa (que vemos acima), editado pela Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1881, reivindicando, a partir da Conferência de Berlim de 1884/5, uma faixa de território que ia de Angola a Moçambique.
O Conselho de Estado, presidido pelo rei D. Carlos, reuniu no próprio dia 11, aprovando-se por maioria dos votos dos conselheiros, uma resposta redigida numa linguagem magoada, mas frouxa, que se traduzia numa rendição total, incondicional, à ameaça que os ingleses faziam de bombardear com a sua poderosa esquadra Lisboa e o Porto.
O povo explodiu numa indignação ingénua, Os intelectuais protestaram, Henrique Lopes de Mendonça e Alfredo Keil compuseram um belo hino que hoje funciona como hino nacional, mas o dinheiro que se reuniu numa subscrição nacional, mal daria para comprar uma pequena canhoneira…
O incidente foi tacticamente bem aproveitado pelo Partido Republicano que desgastou a imagem da monarquia. Podemos dizer que a indignação, que abrangeu sectores monárquicos, se reflectiu na revolta de 31 de Janeiro do mesmo ano de 1890, se prolongou por greves operárias e estudantis, por intentonas militares e que, passando pelo Regicídio de 1908, desembocou na proclamação da República em 1910.
No entanto, sem as palavras servis em que a resposta portuguesa foi redigida, usando expressões duras, a resposta não podia ter sido outra – Portugal não dispunha de forças armadas capazes de enfrentar o poderoso Exército e a fortíssima marinha de guerra britânicos. Aliás, poucas nações estavam tão bem equipados e com maior ou menor agressividade na resposta, teriam de ceder à exigência. D. Carlos revelou-se um político inteligente, mas inábil. Assumia por inteiro o seu papel de monarca, exigindo que lhe obedecessem. Um triste episódio o do Ultimato, Já lá vão 128 anos.