A Humanidade tem caminhado sobre o seu próprio sangue na esperança de chegar a uma perfeição que não conhece.
Conhece pequenas alegrias, conhece momentos de conforto físico, de sorrisos inesquecíveis, de beicinhos que tremem à espera de um carinho.
A Humanidade conhece o impulso de um salto de alegria, mas não consegue limpar completamente as mãos do sangue entretanto derramado. Sangue vermelho e brilhante que ceifou vidas, sangue transparente só visível por quem sofre…
Há quantos anos se fala, se relata, se mostra imagens de gente que foge da guerra e da fome, do ser vendido como escravo, de terramotos, de fuzilamentos…
Não sei que sentimento corre no vento que nos faz sentir que tudo isto está distante, não é bem connosco, é com alguém que não fala como nós, que não tem casas como as nossas…
Mas o sangue que ainda temos nas mãos faz-nos fazer movimentos de solidariedade, faz aparecer voluntários para ajudar quem precisa…
Mas quem somos nós, essa mole que forma a Humanidade? No meio de tudo isto e de realidades ainda mais dolorosas, abrimos a boca de espanto e sai-nos “não pode ser!”
No meio de todo esta escuridão, de toda esta incapacidade há quem queira mais, mais e mais…serve-se da sua posição económica para enganar tudo e todos, principalmente aqueles que lhes são menos poderosos.
É a corrupção, o branqueamento de dinheiros, falsificação de documentos, o engrossar as contas bancárias de formas ilícitas.
Que prejuízo podem ter os corruptos? Penas demasiado leves para tanta presunção. Com algum conforto dentro das celas o tempo passa, a pena é mais leve, por bom comportamento, e cá estão eles nos sofás de suas casas.
Não somos todos iguais, ou seja, nem todos temos as mesmas oportunidades, nem todos temos conhecimento das oportunidades a que temos direito.
Pensar é uma oportunidade de fazer a Humanidade diferente.
Pensamos com palavras, com conhecimentos adquiridos, com sentimentos.
As palavras não surgiram para que os Direitos fossem negados, pelo contrário. As palavras servem para comunicar, reivindicar…
A palavra precisa de ser protegida, a palavra é frágil.
A cidade é um chão de palavras pisadas
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos