NESTE DIA, 22 de FEVEREIRO de 1922, nasceu LUIS BUÑUEL – por CARLOS LOURES

(1900 – 1983)

Neste dia, em 1900, nasceu o realizador cinematográfico Luis Buñuel, na localidade aragonesa de Calanda, Teruel; morreria na Cidade do México em 29 de Julho de 1983. A sua obra representaria o expoente mais elevado do Movimento Surrealista na arte cinematográfica. Buñuel teve o seu nome associado ao de Salvador  Dalí que, com ele colaborou na realização em 1929 do filme que tornaria ambos famosos – Un chien andalou.

Tendo nascido numa família abastada, estudou num Colégio de Jesuítas de Saragoça do qual foi expulso, acusado de ateísmo e anticlericalismo. Em 1917 foi para Madrid onde privou com alguns dos «monstros sagrados» da Geração de 27, nomeadamente com Federico Garcia Lorca e com Salvador Dalí. Em 1920 fundou o primeiro cineclube espanhol. Depois de, em 1921,  uma meteórica passagem pelo teatro e da publicação no ano seguinte dos seus ensaios literários, em 1924, obteve a licenciatura em História. Em 1925 estudou cinema em Paris e trabalhou como assistente de vários realizadores. Conheceu Jeanne Rucar Lefebvre  com a qual viria a casar em 1934. Em Janeiro de 1929, de parceria com Dalí, realiza o filme Un chien andalou, cujo guião segue a técnica surrealista do cadavre exquis. O filme de forma mais explícita do que seria curial, constitui um libelo contra García Lorca, homossexual assumido. Buñuel, por seu lado, assumidamente homofóbico quis romper publicamente com o poeta e arrastar Dalí nessa posição. Dalí acaba por ceder e o filme foi rodado em quinze dias e estreado a 6 de Junho em Paris, perante a alta sociedade e a intelectualidade francesa. Sucesso e um escândalo, esteve em cartaz no Studio 28 durante seis meses A famosa cena inicial da navalha a cortar um globo ocular, ex-libris do filme provocou desmaios e mesmo um abortamento,.

No Verão de 1929, Buñuel e Dalí preparam um novo filme, L’âge d’Or, quando uma tempestade passional se ergue entre ambos – Gala Éluard provoca a raiva entre os dois amigos. Dalí vai ao ponto de tentar estrangular Buñuel. Luis  Buñuel regressa a Paris onde conclui o guião e roda o filme, cuja exibição provoca  um enorme escândalo, com elementos de extrema-direita francesa a vandalizarem a sala de cinema.

En 1930 contratado pela Metro Goldwyn Mayer vai a Hollywood com o objectivo de observar o sistema de produção norte-americano. Conhece Chaplin e Eisenstein. Regressa a Madrid após a proclamação da República em 1931. Realiza em 1933, o documentário Las Hurdes, tierra sin pan, no qual narra de forma violenta a dureza da vida quotidiana de uma aldeia estremenha. A crueza das imagens e a frontalidade da narração provocam novo escândalo, desta vez de sinal contrário. O governo republicano proibiu a exibição do filme. A eclosão da Guerra Civil, em 1936, leva-o a exilar-se em França e em 1938 a demandar de novo os Estados Unidos. Em 1941 trabalha como conselheiro e chefe de montagem no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Em 1942, Dalí publica  A vida secreta de Salvador Dalí, onde revela as tendências comunistas de Buñuel, causando um novo escândalo, obrigando Buñuel a demiti-se do museu. Em 1943 Buñuel pede a Dalí um empréstimo de 50 dólares que o pintor, influenciado por  Gala, recusa numa carta, em que elogia Franco e  exalta as virtudes da Igreja Católica. Buñuel nunca perdoará esta atitude mesquinha e sórdida. Em 1946 parte para o México, onde realizou filmes comerciais, desinseridos da sua «tradição» escandalosa, mas talentosa. Em 1950, com Los Olvidados, recupera a sua faiscante reputação – uma narração crua, violenta sobre a vida dos meninos da rua na Cidade do México. Seguem-se Subida al Cielo (1951); e Susana (1951); El Bruto (1952); Robinson Crusoe; Abismos de Pasión (1953), a sua versão de O Monte dos Vendavais (1955); Nazarín (1958), sobre uma novela de Galdós, obra premiada em Cannes. Em 1960 regressa a Espanha onde realiza Viridiana. Subsidiado pelo regime franquista, o filme ridiculariza o conceito de caridades. Vence a Palma de Ouro do Festival de Cannes e provocou um enorme escândalo em Espanha onde o regime franquista proíbe a exibição do filme cujo sucesso internacional foi enorme. Após mais alguns filmes realizados no México, fixou-se em França. Ao contrário dos produtores mexicanos, o produtor Serge Silberman dava-lhe total liberdade. Teve também a preciosa colaboração do argumentista Jean-Claude Carrière, co-autor de todos os guiões que filmaria na França. Em 1964, estreia a sua adaptação do romance de Octave Mirbeau, Le journal d’une femme de chambre, soberbamente interpretada por Jeanne Moreau, Segue-se Belle de Jour, em 1967. segundo uma história de Joseph Kessel, com Catherine Deneuve no papel principal, Buñuel recupera a senda dos sucessos. Dalí enviou-lhe um telegrama a propor-lhe uma sequência de Um Cão Andaluz. Buñuel responde: “Águas passadas não movem moinhos.” Em 1969, filma La Voie Lactée e O estranho caminho de São Tiago, relato da peregrinação de dois vagabundos franceses a Santiago de Compostela. Em 1970 regressa a Espanha onde filma Tristana, Amor Perverso, segundo um romance de Pérez Galdós. Segue-se em 1972, Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Discreto Charme da Burguesia). O filme ganharia o Óscar para o Melhor Filme Estrangeiro. Em 1976 realiza Cet obscur object du désir, o seu último filme.

Luis Buñuel, figura controversa e genial, influenciou realizadores mais recentes como Pedro Almodôvar.

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