ULTIMATUM – MANDADO A TODOS OS MANDARINS DO MUNDO, de ÁLVARO DE CAMPOS, por MARIA BETHANIA.

(1888 – 1935)

 

Obrigado ao Manuel Simões, Florival Júnior Henrique Fernandes e youtube

 

 

Fora tu,

 reles

 esnobe

 plebeu

 E fora tu, imperialista das sucatas

 Charlatão da sinceridade

 e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro

 Ultimatum a todos eles

 E a todos que sejam como eles

 Todos!

 

Monte de tijolos com pretensões a casa

 Inútil luxo, megalomania triunfante

 E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral

 Que nem te queria descobrir

   

 

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular

 Que confundis tudo

 Vós, anarquistas deveras sinceros

 Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores

 Para quererem deixar de trabalhar

 Sim, todos vós que representais o mundo

 Homens altos

 Passai por baixo do meu desprezo

 Passai aristocratas de tanga de ouro

 Passai Frouxos

 Passai radicais do pouco

 Quem acredita neles?

 Mandem tudo isso para casa

 Descascar batatas simbólicas

 

Fechem-me tudo isso a chave

 E deitem a chave fora

 Sufoco de ter só isso a minha volta

 Deixem-me respirar

 Abram todas as janelas

 Abram mais janelas

 Do que todas as janelas que há no mundo

 

Nenhuma idéia grande

 Nenhuma corrente política

 Que soe a uma idéia grão

 E o mundo quer a inteligência nova

 A sensibilidade nova

 O mundo tem sede de que se crie

 Porque aí está apodrecer a vida

 Quando muito é estrume para o futuro

 O que aí está não pode durar

 Porque não é nada

 

 Eu da raça dos navegadores

 Afirmo que não pode durar

 Eu da raça dos descobridores

 Desprezo o que seja menos

 Que descobrir um novo mundo

 Proclamo isso bem alto

 Braços erguidos

 Fitando o Atlântico

 

 E saudando abstractamente o infinito.

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