Homenagem ao Carlos Tenreiro, uma série de textos sobre questões de macroeconomia e de alta finança – 16. Este é o ponto de viragem (2ª parte – excertos de três artigos de Chris Hamilton, citados por Charles Smith). Por Charles Hugh Smith

Carlos Tenreiro
Carlos Tenreiro, um estudante de excecional maturidade emocional, de rara cultura, de rara sensibilidade e de alta capacidade pedagógica para transmitir o que sabia e até muitas vezes a gerar nos estudantes uma apetência por aquilo que ele mesmo ainda não sabia, mas que faria parte da sua trajetória de conhecimentos a desenvolver.

 

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

16. Este é o ponto de viragem (2ª parte – excertos de três artigos de Chris Hamilton, citados por Charles Smith)

Por Charles Hugh Smith Charles H Smith

Publicado por  Peak Prosperity em 6 de abril de 2018

 

Primeiro artigo: Os mais importantes gráficos económicos…não são sobre economia (excerto).

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População Global em idade de procriação (exceto-Africa)

No primeiro quadro abaixo, as colunas em tom avermelhado (unidade: milhões) mostram a variação anual na população em idade de procriação e a linha azul (unidade: milhar de milhões) representa a população total em idade fértil. O crescimento anual atingiu o pico em 1988, a +46 milhões de variação anual… caindo agora mais de 90%, situando-se apenas em +4 milhões.

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No gráfico abaixo, temos a variação anual na população em idade de procriação (em percentagem da população total com exclusão de África… colunas em tom avermelhado) versus população total em idade fértil (linha azul) e a que se adiciona a taxa de fundos federais (linha preta) e a dívida global (linha a vermelho). Curiosamente, a taxa dos fundos federais (aproximando-se da inflação) atingiu um pico em simultâneo com o pico da variação anual da população em idade fértil. O aumento, o valor de pico e a atual desaceleração da população em idade reprodutiva têm sido, essencialmente, o impulsionador da alta, do pico e da desaceleração do crescimento da procura. A substituição do rápido aumento da dívida pela desaceleração do crescimento populacional é clara. O suave aumento da variação da população em idade de procriação no decorrer dos próximos cinco anos é o fim do caminho para o crescimento… e daí em diante há apenas declínios incontestáveis que vão provavelmente a par com a taxas de juro negativas e a criação parabólica de dívida.

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O Federal Reserve e os bancos centrais em todo o mundo estão a cortar na taxa de juro contra uma base de crescimento em desaceleração. Isso está a promover a criação significativa de novas capacidades. Essa nova capacidade só pode ser sustentada por cortes ainda maiores nas taxas e por aumentos nas despesas públicas, além da compra de ativos pelo banco central. Além disso, as bolhas de ativos e a inflação que resulta dessas políticas, sem crescimento salarial, parecem estar a desacelerar ainda mais a formação de famílias. Isto está a criar uma espiral descendente dirigida pela Reserva Federal, pois são os jovens que impulsionam o crescimento.

O gráfico abaixo mostra o rendimento e a despesa nos EUA por idade do chefe de família… os de 45-54 anos de idade fazem e gastam o dobro que gastam os menores de 25 anos ou dos que estão acima de 75 anos de idade. Isso é provavelmente ainda mais pronunciado globalmente.

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A natalidade mundial (excetuando África) continua a diminuir

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O crescimento da população mundial em idade reprodutiva (linha a vermelho no gráfico abaixo, excluindo a África) está a terminar, mas o número de nascimentos por períodos de cinco anos (colunas a azul, excluindo a África) tem vindo a declinar desde há décadas. O total de nascimentos atingiu o pico cerca de 1988 e tem vindo a diminuir desde então, apesar da população em idade de reprodução ter estado ainda em crescimento.

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Despovoamento zona de impacto…. Ásia do Leste

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Quanto à Europa, o número de nascimentos atingiu o pico ainda mais cedo do que no Leste Asiático, tendo estado a cair desde o final dos anos 1960 e isto quando a população em idade fértil começou a declinar no início dos anos 90, embora a imigração tenha diminuido o ciclo de despovoamento.

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Conclusão:

A economia global irá continuar a aumentar a sua capacidade de produzir mais e de o fazer de forma ainda mais eficiente. No entanto, excluindo África, as populações capazes de procriar e os seus descendentes irão acelerar os seus declínios… e o consumo global resultante é irremediavelmente ultrapassado em comparação com o significativo excesso de capacidade que está a ser criado. Despovoamento significativo de populações jovens é um dado enquanto populações idosas continuam a disparar. Somente através destas lentes é possível entender os verdadeiros problemas enfrentados por um sistema económico baseado no crescimento infinito. Estamos no final de uma época e esperamo-lo no começo de uma outra… a confusão no intervalo entre as duas épocas, entre a que se deixa e aquela para se entra, e as tentativas desordenadas e confusas de sustentar o antigo sistema não nos devem surpreender, embora essas tentativas não tenham nenhuma possibilidade de ter qualquer sucesso.

Segundo artigo: A florescente classe média chinesa está ela a rebentar pelas costuras? (excerto)

Em 2010, o Brookings Institute publicou um relatório de “separação das águas” afirmando que a “classe média” mundial estava prestes a explodir, quase que inteiramente a partir das populações pobres chinesas e indianas que se urbanizavam e subiram na escala social transitando agora para a classe média (classe média significa rendimento anual, por família de quatro pessoas, de US $ 14.600 a US $ 146.000 em PPP (paridade de poder de compra)).

Em 2017, o Instituto atualizou o trabalho original reafirmando os seus resultados que de 2015 a 2030, a China, a Índia e o resto da Ásia-Pacífico acrescentarão 2,1 milhares de milhões (89%) dos cerca de 2,4 milhares de milhões de novos participantes na classe média mundial existente de 3,2 milhares de milhões de pessoas. Até 2030, presumivelmente, a China terá acrescentado cerca de 800 milhões de pessoas à classe média e a Índia mais de 900 milhões!?

Do próximo milhar de milhões, de 2015 a 2022, o Brookings estima que a classe média crescerá da seguinte maneira; a Índia mais 380 milhões (38%), a China mais 350 milhões (35%), a Europa adicionará apenas 9 milhões (menos de 1%), a América do Norte 19 milhões (cerca de 2%), a América Central e do Sul 50 milhões (5%), Médio Oriente/África do Norte 90 milhões (9%) e a África sub-sahariana mais 100 milhões (10%).

(…) A estimativa do Instituto Brookings sugere que a classe média da China em 2030 será maior do que a população total em idade ativa da China em 2030!? Os aposentados chineses com pensões estatais bastante frugais não se juntarão à classe média. Deve ser a população em idade ativa, mas o problema é que a matemática parece sugerir que o Instituto está totalmente errado em relação a estimativas futuras para a classe média da China… o que provavelmente reduzirá ou irá desfazer o crescimento estimado em todo o mundo.

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População da China em Idade Ativa:

Portanto, não deveria ser nenhuma surpresa que o crescimento anual (colunas vermelhas no gráfico abaixo) da população em idade ativa começasse a desacelerar a partir de 1988. Então, em 2013, a população em idade ativa (linha azul, entre 18 e 60 anos) começou a reduzir-se. Numa nação com passagem à reforma obrigatória aos 60 anos para homens e 55 para mulheres, isso é muito importante. Até agora, a população em idade ativa de 823 milhões “diminuiu” apenas de 9 milhões.

No entanto, numa nação com emigração líquida, sabemos que a força de trabalho máxima possível é de 823 milhões e a reduzir-se… e de alguma forma é possível supor que a sua classe média cresça em 835 milhões ??? Até 2035, haverá cerca de 120 milhões de trabalhadores potenciais a menos ou seja, estima-se uma população de cerca de 733 milhões… um declínio de 15% em trabalhadores potenciais, consumidores, contribuintes, compradores de imóveis.

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No entanto, como o gráfico abaixo destaca, agora o ritmo de declínio da população em idade ativa realmente começa a ser bem significativo e começa a acelerar-se. Cada coluna representa o declínio anual em trabalhadores potenciais.

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A população em idade ativa na China versus empregados

Na melhor estimativa possível do número total de empregados chineses em relação à população em idade ativa, o gráfico abaixo aponta para um estranho cruzamento por volta de 2024. Assumindo que a China continua a adicionar um terço do número de trabalhadores que tem estado a adicionar, a população trabalhadora da China será maior do que a sua força de trabalho potencial em cerca de cinco anos? Agora, na maioria dos lugares, o leitor diria que isso é impossível… e o leitor estaria certo.

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Dívida… A Fronteira Final:

O gráfico abaixo mostra a variação anual agora decrescente entre a população com menos de 65 anos da China (em colunas), o PIB (a linha azul escura) e a substituição da dívida total crescente mais rápida (a linha a vermelho) em vez do crescimento orgânico em falta. Esta geração de chineses com menos de 65 anos está a ser enganada ao dizerem-lhes que o PIB tem uma taxa de crescimento de 6,5%, quando é a substituição de uma dívida total em mais rápido crescimento (em vez do crescimento orgânico que falta) que está a ser contabilizada como “crescimento”. Essa mesma substituição de dívida pelo crescimento real é verdadeira nos Estados Unidos, em toda a Europa, no Japão e assim por diante, mas, infelizmente, muitos erradamente ligaram a sua esperança de crescimento ao bom andamento do comboio chinês.

Até 2000, a China tinha assumido “apenas” US $ 2 milhões de milhões como dívida total, já que o crescimento populacional era robusto, aumentando a procura. No entanto, desde o ano 2000, quando o crescimento da população chinesa abaixo dos 65 anos desacelerou drasticamente, a China aumentou a sua dívida em $ 38 milhões de milhões em novas dívidas (principalmente dívida contraída pelas suas empresas) que construiu (e continuam a construir) uma capacidade massiva alimentada pela nova dívida em contraposição a um colapso interno e uma base de consumidores mundiais em crescimento anémico …  o que é poderá correr mal?

E agora que a base de consumidores está a encolher, a emissão de dívidas e a consequente construção de novas capacidades, de blocos de apartamentos, de centros comerciais, etc., etc., provavelmente levarão a um final de sobreinvestimento de má qualidade.

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Conclusão

Assim, os nascimentos da China estão em colapso desde há décadas, a população chinesa em idade de procriação está a entrar em colapso, a população da China em idade de trabalhar está agora a cair e, portanto, os mercados internos da China começaram a perder dimensão e essa redução de dimensão continuará a acelerar-se indefinidamente. Adicione-se a isto, os mercados de exportação para mais de 90% das suas exportações estão a crescer com muita dificuldade e, dentro de uma década, todos os países, menos a África e as populações de menos de 65 anos da Índia, também estarão a diminuir. De uma forma ou de outra, o Instituto Brookings estima que a classe média da China crescerá mais do que a população total em idade ativa existente?!? Nada disso foi sequer “digno de menção” no relatório do Instituto Brookings, já para não falar da problemática estimativa de um aumento massivo na população chinesa da classe média.

Do meu ponto de vista, de maneira nenhuma isto encaixa com mais 800 milhões de chineses a moverem-se para a “classe média” até 2030, independentemente de quantos milhões de milhões a China possa desperdiçar em novas fábricas, estradas, blocos de apartamentos e infraestrutura para uma população que não irá ter! Na verdade, mais provavelmente em 2030, poderíamos estar a olhar para pouco ou nenhum crescimento… ou mesmo para uma classe média chinesa em declínio em relação aos níveis atuais.

Terceiro artigo: O indicador último sugere que os Estados Unidos nunca recuperaram verdadeiramente da Grande Recessão Financeira de 2008 (excerto)

O indicador, em última instância, da confiança pessoal na economia é a determinação em perpetuar a espécie e ter crianças.

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O gráfico abaixo mostra a rápida desaceleração da taxa de fertilidade nos EUA versus o registo do Património Líquido das Famílias. Os picos anteriores dos registos patrimoniais mostram aumentos correspondentes na taxa de fertilidade, mas não desta vez.

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Infelizmente, desde 2007, quase todos os benefícios dessa criação de “riqueza” recorde estão a ser acumulados por uma pequena fração de americanos. Os programas do governo federal e do Federal Reserve beneficiaram os detentores de ativos enquanto penalizaram a classe trabalhadora com o rápido aumento dos custos de vida (rendas recordes em% de rendimento, seguros recordes, custos de educação e ensino superior mais altos, redução / eliminação de pensões e benefícios relacionados com o trabalho etc. etc), sem que haja salários mais altos com os quais pagar esses custos mais elevados. Parece que as oportunidades presentes e futuras das gerações estão a ser sacrificadas para manter e apoiar um grupo seleto, aqui e agora.

O gráfico abaixo detalha o crescimento do património líquido interno por níveis de rendimento de 2007 a 2016. Aqueles que têm ativos significativos ficaram ainda mais ricos… aqueles que não têm ativos foram punidos (e como diz o ditado, “os espancamentos continuarão até que a moral melhore “).

Texto 16 14

A continuação das políticas atuais enriquecerá uma minoria cada vez menor, ao mesmo tempo que penalizará a maioria, particularmente aquelas em idade fértil. Essas políticas só irão reduzir ainda mais a taxa de natalidade para território negativo (bem abaixo do nível de reposição). O tratamento desigual aplicado pelo FED tem essencialmente o objetivo de salvar e recompensar os ricos, os pacientes idosos à custa da classe média e da população pobre em idade fértil. O valor de um sistema económico que resulta em ter uma população em idade fértil incapaz e / ou sem vontade de perpetuar a espécie, necessita urgentemente de ser reconsiderado e reconstruído.

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Texto original “This is the Turning Point” em https://www.peakprosperity.com/blog/113900/turning-point

Republicado por Zero Hedge https://www.zerohedge.com/news/2018-04-07/turning-point

 

Charles Hugh Smith: proprietário do popular blog Of Two Minds é também editor voluntário em PeakProsperity.com. É autor de numerosos livros, nomeadamente Why Everything Is Falling Apart: An Unconventional Guide To Investing In Troubled Times.

 

 

 

 

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