Nem sei por onde começar. Sim, é um escritor famoso. Sim publicou mais de sessenta livros. Sim, foi descrito pela Time, em 1986, como o “laureado canalha americano”. Americano, mas nascido alemão.
Este livro é da editora: Alfaguara Portugal, uma coletanea de 27 contos, reunindo vários contos publicados em revistas e jornais na década de 60 e 70.
Nele entramos num mundo sujo, decadente, mas ao mesmo tempo bastante humano, cru. Real? Não me custa a acreditar.
A linguagem é crua, sem pudor. A América das ruas, dos bordéis, de sexo fácil e cru, das salas de jogo, dos bares degradantes e das pessoas que desistiram de ser outra coisa que não bêbedos, prostitutas, ladrões, pugilistas, bandidos.
A personagem central, o seu ao alter-ego Henry Chinaski. que assim se descreve: “Só sei escrever sobre beber cerveja, ir ao hipódromo e ouvir música sinfónica. Não é uma vida estropiada, mas também está longe de ser uma súmula da mesma. Como é que me tornei tão limitado? Cheguei a ter coragem. O que é que aconteceu à minha coragem? Será que os homens envelhecem mesmo?”.
Se, por vezes, sentimos repulsa, também sentimos que dá voz aos que não sonham, aos viciados, aos sem rumo. Já o título nos encaminha para a desorientação.
E a solidão. Sempre a solidão.
Mas há um facto na vida de Bukowski com o qual me consigo identificar: ele adorava gatos. Dizem que certa vez, afirmou o seguinte:
“Ter um bando de gatos por perto é bom. Se você está se sentindo mal, é só você olhar para os gatos e vai se sentir melhor, porque eles sabem que tudo é, tal como é. Não há nada para ficar animado. Eles apenas sabem. Eles são salvadores. Quanto mais gatos você tem, mais tempo você vive. Se você tem uma centena de gatos, você vai viver dez vezes mais do que se você tem dez. Algum dia isso vai ser descoberto, e as pessoas terão mil gatos e viverão para sempre. É realmente ridículo”.