Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
A economia está a ser arrasada
O ciclo de crescimento atingiu o seu ponto culminante
por Adam Taggart
Publicado por em 21 de abril de 2018
Há algumas horas o presidente do Banco Central Eurpeu Mario Draghi admitiu: “O ciclo de crescimento atingiu o seu ponto culminante”.
Naturalmente, aqueles que prestam atenção aos dados já sabiam disto. Os nossos políticos e os planeadores centrais têm vindo a impingir-nos a fantasia de que a economia global está a ficar forte, finalmente pronta para por em funcionamento todos os cilindros depois de quase dez anos de dependência do estímulo monetário.
Isto não é nada assim.
A medida do PIB calculada pela Reserva Federal de Atlanta, que dá uma previsão do PIB esperado para o primeiro trimestre de 2018, está atualmente a atingir os 2,0%, abaixo do crescimento muito mais vigoroso de 5,4% previsto no início de fevereiro:
Gerar esse crescimento, por mais escasso que seja, exigiu uma quantidade enorme de novas dívidas. De tal forma que os EUA em breve terão uma relação dívida / PIB pior do que a Itália, um caso orçamental perene em matéria de défices orçamentais.
Dívida nos EUA é pior do que a da Itália até 2023, prevê o FMI (Bloomberg)
Em cinco anos, prevê-se que o governo dos EUA tenha um perfil de dívida mais sombrio do que a Itália, o perene homem pobre do Grupo dos Sete países industrializados.
O rácio da dívida dos EUA em relação ao PIB deverá aumentar para 116,9 por cento até 2023, enquanto a taxa da Itália é reduzida para 116,6 por cento, de acordo com os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional. Os EUA também se posicionarão à frente de Moçambique e do Burundi em termos do peso da sua carga orçamental.
Os números sublinham a deterioração do orçamento dos EUA após a promulgação, em dezembro, de US $ 1,5 milhão de milhões em cortes de impostos, e a passagem, mais recentemente, de US $ 300 mil milhões em novos gastos. O governo do presidente Donald Trump argumenta que a revisão fiscal combinada com a desregulamentação ajudará a economia a acelerar, o que, por sua vez, gerará receita extra suficiente para evitar qualquer agravamento orçamental como consequência.
Altos funcionários da Reserva Federal e do Gabinete do Orçamento do Congresso (CBO) estão céticos quanto a essas expectativas, uma vez que eles preveem que o crescimento económico a longo prazo vai ficar aquém das taxas de expansão necessárias para financiar os cortes de impostos. As previsões mais recentes do Banco Central mostram uma estimativa mediana de 2,7 por cento para a expansão deste ano e um abrandamento para 2 por cento em 2020, enquanto o CBO vê o crescimento do PIB reduzir o seu ritmo de crescimento de 3,3 por cento este ano para 1,8 por cento em 2020.
Olhando para trás ao longo dos últimos 50 anos, podemos ver claramente que a grande crise financeira de 2008 foi um ponto de viragem. Esse foi o momento em que o nosso vício em aumentar exponencialmente as nossas dívidas começou a ter consequências reais.
O gráfico abaixo mostra claramente que, desde então, estamos numa era de diminuição de retornos na troca de dívida para o crescimento:
O gráfico abaixo mostra claramente que, desde então, estamos numa era de retornos decrescentes em troca de dívida pelo crescimento:
O que pode levar ao resgate neste momento? Não há muito.
A nossa ‘recuperação’ desde 2008 é agora uma das mais longas registadas; outra recessão ocorrerá mais cedo ou mais tarde (o economista-chefe da Fannie Mae, Doug Duncan, acha que provavelmente chegará no ano que vem).
O aumento das taxas de juros só irá acelerar o avanço de uma recessão. E as taxas de juros estão de facto em ascensão, com os rendimentos dos títulos do Tesouro a 10 anos quase a dobrarem desde julho de 2016:
10-Year Treasury Yield (%)
E com a chegada da recessão, o que é que fará a nossa liderança? A única coisa que sabe é: imprimir dinheiro, pedir emprestado e aumentar o défice na tentativa de impulsionar o ‘crescimento’. Exceto que a dívida será ainda mais cara desta vez, e a sua capacidade de gerar crescimento incremental por unidade de nova dívida ainda mais fraca.
A maior situação de apuro
Mas, infelizmente, por mais prodigiosa que seja, a nossa pilha crescente de dívidas não será a principal limitação do crescimento nas próximas décadas
Em vez disso, será a energia.
Os preços do petróleo estão a subir novamente, já que o mundo está a acordar para o facto de que a procura anual excederá a oferta nas próximas décadas e que o “milagre” dos EUA será uma miragem de curta duração. Tudo isso enquanto as novas descobertas de campos de petróleo são as piores desde a 2ª Guerra Mundial.
Com a energia a ficar cada vez mais cara – e aumentando a competição global por ela – a economia encontrar-se-á cada vez mais constrangida. Nós seremos confrontados com um futuro de fazer menos.
Isto não é fomentar o medo; é ciência. Especificamente, o nosso destino está nas mãos das leis da termodinâmica. Sem um forte acréscimo de novas fontes de energia, abundantes, densas em unidades térmicas e acessíveis (que simplesmente não vemos no horizonte), o crescimento económico não pode ser sustentado.
Uma das melhores explicações que li sobre isso é o relatório que o meu co-fundador da Peak Prosperity, Chris Martenson, escreveu ao terminar a versão do livro The Crash Course. Este texto permanece até hoje um dos seus mais importantes avisos sobre a situação global que uma espécie enfrenta neste planeta finito.
Na Parte 2: A energia é o elemento não negociável que define o nosso futuro, nós republicamos este relatório na íntegra, o que é ainda mais relevante e importante para ser considerado hoje, quando Chris o escreveu há oito anos atrás – como a nossa economia especificamente, e a humanidade em geral, está totalmente impreparada para um futuro com um pouco menos de energia.
Tudo está ajustado para crescer exponencialmente. Não há nenhum “plano B”.
Ainda não temos modelos de como gerir a situação de um mundo em decrescimento, por isso vamos entrar cegamente nessa crise de frente. Mas por mais doloroso que sejam, os problemas económicos da época serão a menor das nossas preocupações.
Texto original em https://www.peakprosperity.com/blog/113961/economy-cooked
O autor: Adam Taggart é o presidente e co-fundador de Peak Prosperity. Licenciado pela Brown University, tem um MBA da Universidade de Stanford e é um experimentado director de internet. Foi vice-presidente na Yahoo! e analista financeiro na Merrill Lynch.
Nota
[1] N.T. A Federal National Mortgage Association(FNMA), mais conhecida como Fannie Mae, criada em 1938 como agência federal, convertida em empresa privada em 1968, é uma empresa patrocinada pelo governo dos Estados Unidos que concede e garante empréstimos. Líder do mercado secundário de hipotecas até à crise em 2008, foi intervencionada pelo governo, através da Federal Housing Finance Agency – FHFA (Agência Federal de Financiamento Habitacional), em 7 de setembro de 2008. Vd. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fannie_Mae
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Doug Duncan: até mesmo os economistas do governo dos Estados Unidos preveem que se avizinham problemas
Fannie Mae prevê um abrandamento económico em 2019
Por Adam Taggart
Publicado por em 16 de abril de 2018
Doug Duncan não é um vulgar economista mediano.
O economista-chefe da Fannie Mae [1] é surpreendentemente franco sobre as perspetivas problemáticas para a economia dos EUA. Ele está preocupado com o aumento do custo do serviço da dívida, uma vez que o crédito pendente continua a aumentar, ao mesmo tempo que as taxas de juros estão a começar a aumentar, também.
Ele prevê que os EUA entrem em recessão dentro de um ano, em simultâneo com o ponto máximo do mercado imobiliário americano. Também não o surpreenderia ver o mercado de ações fraquejar, à medida que os bancos centrais em todo o mundo começam a fazer um aperto coordenado da política monetária e – de forma semelhante aos pensamentos recentemente expressos por Axel Merk – Doug espera que Jerome Powell venha a ser muito mais relutante em intervir na tentativa de apoiar os preços dos ativos. Tendo conhecido pessoalmente Powell, Doug acha que o Fed está feliz em ver parte do ar a sair da Bolha de Qualquer Coisa (não muito e não muito rápido) – uma mudança de mercado em relação às administrações anteriores do Fed:
Adam Taggart
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Doug Duncan
A nossa previsão definitivamente mostra uma desaceleração da atividade económica, particularmente na segunda metade de 2019. Parte disso tem a ver com a duração da expansão. Só porque uma expansão é longa não significa que vá acabar; mas todas acabaram, e esta está já a durar há muito tempo. Eu acho que se não for a segunda mais longa, brevemente será a segunda mais longa das que nós já tivemos.
A lei fiscal de Trump foi vista de forma diferente por diferentes partes, mas os mercados de capital inicialmente consideraram – mais o acordo alcançado de US $ 300 mil milhões de aumento para ultrapassar o prazo de expiração do financiamento governamental mais o acordo orçamental – todas essas coisas como inflacionárias. O próprio projeto de lei tributária tem muitas disposições temporárias – algumas delas não expiram até se atingir sete anos – mas algumas começam a expirar a partir dos três anos da entrada em vigor. Como, em certas ocasiões, tomar medidas hoje que eles veem como trazendo benefícios até ao momento em que expiram essas cláusulas, mais a componente das despesas públicas a aumentar – os US $ 300 mil milhões – também provavelmente ocorrerão nos próximos quatro trimestres. Isso sugere que na segunda metade de 2019 poderemos ver o impulso daquelas coisas começarem a desaparecer. E isso vai acontecer ao mesmo tempo que o Fed, se fizer o que diz que vai fazer, irá continuar a forçar a sua política monetária no sentido restritivo (…)
Então, o que me mantém acordado à noite? Bem, eu não gosto da ideia de termos uma dívida em relação ao PIB de 100%. Eu não acho que somos o Japão porque temos uma economia mais empreendedora, não uma economia mercantilista, mas isso não significa que a dívida não reduza a nossa flexibilidade. Isso definitivamente reduz a nossa flexibilidade, por isso desse ponto de vista aumenta os riscos.
As negociações comerciais, obviamente, são uma preocupação. Milton Freeman disse que um bom acordo de livre comércio pode ser escrito numa só página. O acordo NAFTA tem duas mil páginas. Seria tolice sugerir que Trump não tem razão de que não há algo nessas duas mil páginas que não tenha funcionado contra os interesses americanos. Por outro lado, se se prevê lançar US $ 150 mil milhões em tarifas sobre a segunda maior economia do mundo, você deve esperar uma reação. Aqueles que lêem os livros de história e os estudos sobre as tarifas da lei Smoot Hawley e a Depressão e têm alguma compreensão da relação entre esta lei e a Grande Depressão têm que estar um pouco nervosos. O Fed, tenho a certeza, está a pensar nisso.
E quanto à economia interna, o que provavelmente me incomoda mais do que qualquer outra coisa, é o declínio na criação de novas atividades. Este declínio tem-se processado ao longo destes últimos trinta anos. Eu tenho um conjunto de colaboradores a trabalhar sobre este tema.
Há algumas razões pelas quais me preocupo com isso. Acabei de fazer um comentário sobre o facto de sermos uma economia empreendedora, o que significa que ela é “dinâmica” – as pessoas não se importam se o rendimento médio é maior do que o delas, se os seus rendimentos estiverem na mediana. Se as pessoas têm a expectativa de que há uma oportunidade para crescerem e ganharem um desses altos rendimentos, então eles estão bem. Mas se perderem essa esperança, isso levar-nos-á a alguns possíveis resultados de economia política que não considero particularmente ideais.
Mas a partir de uma perspetiva de interesse próprio – lembre-se de que estamos no espaço habitacional e de criação de novas atividades – era normal acontecer que quando uma pequena empresa iniciava a sua atividade, não podia pagar os mesmos salários que as grandes empresas aplicam porque não tinham a escala de produção ou outro tipo de caraterísticas que lhes permitiam pagar esses níveis salariais. Mas o que o trabalhador que conseguiu o emprego com menor salário também recebeu foi uma formação sobre como chegar ao trabalho na hora certa, como trabalhar um dia inteiro. Eles adquiriam algumas competências e alguns comportamentos que funcionavam amplamente no mercado de trabalho. Com o tempo, eles subiriam na escala dos rendimentos salariais e a maioria deles acabava por chegar à classe média e comprar uma casa. Isso está a desmoronar-se.
Se esse motor de crescimento para as pessoas foi eliminado, poderíamos então estar diante de uma subclasse permanente que comporta um conjunto totalmente diferente de conotações para uma sociedade o que, para mim, é altamente preocupante.
Texto original em https://www.peakprosperity.com/podcast/113948/doug-duncan-even-us-government-economists-predict-trouble-ahead