CARTA DE BRAGA – “Da metáfora da imagem” – por ANTÓNIO OLIVEIRA

Creio a arrogância um ‘problema’, por infectar um bom número de pessoas e nos mais diversos campos, desde as finanças e negócios, às políticas, aos ecrãs e aos futebóis.

Não me custa usar o plural nesta explicação de uma crença que, apesar de ser só minha, também me leva a pensar que uma grande arte dos meus eventuais leitores não se importará de a assumir igualmente como sua.

A maior parte das vezes basta uma aparição, ainda que curta, no ecrã da mesinha, no da parede ou até nos outros de mão, mais umas dezenas de likes e mesmo uma selfie filada com alguém já vezeiro no sistema.

Não pretendo fixar-me e nenhum dos campos, mas devo salientar que, apesar de nesta sociedade conseguirmos conviver com um pouco de vaidade e até mesmo com algum orgulho, é muito complicado para o cidadão comum aceitar a ausência do mérito, por saber também da existência de uma mãozinha protectora a ajeitar quase sempre a pose do presumido.

Estamos numa fase de demolição em todos os terrenos da vida e da nossa sociedade mas infelizmente, ainda não conseguimos pôr a andar qualquer mudança, nem projectar alternativas. E esta ausência de certezas paira sobre a política, a economia, a cultura e o amor!

A afirmação, do escritor e jornalista espanhol Isaac Rosa, reflecte o cenário que se tem à frente na Europa e no mundo, com a chegada àquele mundo das imagens, de um tipo de gente própria e característica de um momento como este que, lembrando Ortega y Gasset, é vulgar, sabe-se vulgar, tem o arrojo de afirmar o direito à vulgaridade e impõe-no onde queira!

É nesta imposição não consensual por não consultada, mas imposta pelo sistema, que reside a arrogância, já a mostrar os sintomas dos que pretendem levar-nos lá bem para trás e assumindo também os tiques próprios de um poder totalitário!

No “Factótum”, Charles Bukowski define assim a arrogância do sistema que nos impinge essa gente – ‘Como diabos pode um homem gostar de ser acordado por um despertador às 6:30 da manhã, saltar da cama, vestir-se, alimentar-se a correr, escovar os dentes, pentear-se, enfrentar o trânsito, para chegar a um sítio onde, essencialmente, o que fará é encher de dinheiro os bolsos de alguém e, ainda por cima, ser obrigado a mostrar gratidão por ter essa oportunidade

Isto é pela manhãzinha mas, quando a noite chega e depois de fazer o mesmo caminho em sentido inverso, olha as coisas a partir das imagens do mundo, todo um conjunto de evidências inconscientes – a cultura como ‘imagem do mundo’ ou cultura como ‘interpretação do mundo’.

A diferença é enorme pois se a primeira é icónica (basta olhar!), a segunda solicita a história para separar o significado do sentido, aliás a metáfora em volta da ‘cultura da imagem

Uma metáfora por a arrogância ser bem visível, por se expor com a metodologia usada na mostragem e apresentação das imagens e… os exemplos, cá no Eucaliptal, ficam ao gosto e à responsabilidade de cada um!

Mas corremos o risco (e já não me lembro onde li isto!) de ‘um dia destes vamos matar-nos por uma metáfora!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

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