DEAMBULAÇÕES EM TORNO DA UTILIZAÇÃO DE CANNABIS – uma série de textos – a introdução de JÚLIO MARQUES MOTA

 
     

Ao primeiro que como investidor se inscreve no que diz Keynes “o jogo do investidor profissional é intoleravelmente chato e cansativo para quem está totalmente desprovido do instinto de jogo; enquanto aquele que o tem deve pagar por esta sua característica o preço apropriado”, aqui o quero avisar de que não pode pretender  ter o melhor dos dois mundos, o de investidor cauteloso e rigoroso  e querer viver a tensão de jogador, de especulador. Trata-se de duas realidades distintas e antagónicas, a menos que…se viva de informação assimétrica, vulgarmente dita de informação privilegiada, mas mesmo isto colide com o papel de investidor sério que ele quer sempre ser. Não há pois volta a dar. A este meu amigo aconselho-o pois a pensar nas palavras do jornalista da Bloomberg quando este afirma:

“E não seja tão tolo em pensar que sentado em casa, poderia sempre esperar ganhar escolhendo ações individuais. Os investidores que internalizaram esta mensagem têm-no feito fenomenalmente bem nos anos pós-crise, entre um mercado vasto, sem oscilações, de tendência sempre à alta e até mesmo maçador- um bull market.”

E já agora, para estes dois meus amigos, aqui lhes deixo o aviso, face ao mundo que eles parecem suportar ou mesmo defender, um aviso que nos é dado  por um dos ideólogos mais importantes das ultimas duas décadas, Martin Wolf, o diretor do Financial Times,  e hoje um  dos mais importantes críticos do neoliberalismo, aviso este que nós é dado pela sua definição de finança:

 “Os compradores de promessas normalmente sabem muito mais do que dizem  sobre o que estão a vender. O nome para isso é “informação  assimétrica”. Eles também sabem que aqueles que não têm nenhuma intenção de manter a sua palavra vão sempre fazer promessas mais atraentes do que aqueles que querem cumprir com o que prometem.  Isso é “seleção adversa”. Eles saberão que mesmo aqueles que estão inclinados a ser honestos podem ser tentados… a não cumprir as suas promessas. A origem disto é “risco moral”. A resposta à seleção adversa e ao risco  moral… é reunir  mais informações. Mas isso também tem um inconveniente: ser “passageiro clandestino”… Aqueles que não fizeram nenhum investimento na recolha de [informações] podem  beneficiar dos esforços dispendiosos daqueles que a  fizeram … Isso irá, por sua vez, reduzir o incentivo para investir em tais informações, tornando assim os mercados ainda mais sujeitos aos caprichos da “ignorância racional”. Se os ignorantes seguirem aqueles que julgam estar melhor informados, teremos então “os carneiros de Panurgo”. Finalmente, onde a incerteza está generalizada e inevitável — quem, por exemplo, conhece as probabilidades de terrorismo nuclear ou o impacto económico da Internet? – os rebanhos são suscetíveis de gerarem grandes turbulências que, por fim, acabam por levar ao rebentamento de bolhas.”

E na mesma sequência diz-nos ainda Martin Wolf:

“A finança é uma enorme floresta povoada por bestas selvagens. Como é que  elas são então toleráveis?”

Ora as empresas da “indústria de cannabis” são a estrela das bolsas de valores de agora, tal como o foram os negociantes de criptomoedas no ano passado.

Quanto ao Leonel que defende a liberalização do cannabis tenho a chamar-lhe a atenção para dois pontos:

  1. Para o que nos diz o jornalista:

“Embora os ativistas tenham trabalhado anos na legalização da cannabis,  sente-se a situação atual como se um interruptor tenha sido ligado, de repente. Um dia, os traficantes de cannabis estavam a ser presos na rua. No dia seguinte, um conjunto totalmente diferente de traficantes está cotado no bolsa Nasdaq”.

A liberalização do cannabis significa pois a substituição de vigaristas de pequeno peso, ilegais, por vigaristas legalizados, encartados e de grande peso. Uma desagradável substituição. Diz o ditado: pior a emenda que o soneto”.

2. Educar não é submeter-se à regra de “tudo é permitido” é antes pelo contrário, criar mecanismos pelos quais os adolescentes aprendam a controlar as suas pulsões. Evidentemente que tem de se atuar sobre os dois lados da questão: pedagogicamente pelo lado da procura e repressivamente pelo lado da oferta, não esquecendo nunca o velho ditado: siga o dinheiro e vá então pelo caminho que nos levaria aos paraísos fiscais. Mas isto é coisa que as nossas autoridades não querem fazer.

Sobre  a cannabis e as bolsas, sobre isto fala-nos o artigo que se segue.

Não quero discutir  aqui a posição do meu amigo Leonel que, na sua boa intenção, acha que o melhor combate à droga será a sua própria liberalização, mas não posso deixar de colocar algumas referências  clínicas sobre o tema, sublinhando para já que a minha preocupação são os que estão  indefesos perante as drogas, os adolescentes, e tanto mais quanto são estes os principais alvos dos dealers. E a grande luta na defesa destes é o combate pelo lado da procura associado a um combate duríssimo pela lado da oferta.  E o que sabemos nós: sabemos que a droga, mesmo  sendo ilegal,   circula quase que sem ser ilegalmente por muitas escolas de todo o pais. E não são os meninos dos bairros pobres que a levam, não senhor, nem são só eles que a consomem.

Vejamos então duas a três notas quanto ao cannabis.

Leave a Reply