Beatus ille qui procul negotiis,
ut prisca gens mortalium
paterna rura bobus exercet suis,
solutus omni faenore,
neque excitatur classico miles truci
neque horret iratum mare,
forumque vitat et superba civium
potentiorum limina. & etc… (Epodes, 2)
e que a ideia: aristotélica, ciceroniana, cristã, foi, por uso bucólico, epigramático, renascentista, barroco, neoclássico, romântico e moderno, convertida em troppo literário, protesto contra a vida da cidade e exaltação da vida camponesa, natural, isolada. Como tópico político-moral, hoje diríamos como livro de autoajuda, e ensinamento, já fora desenvolvido por Frei António de Guevara, quem publica o seu Menosprecio de corte y alabanza de aldea (1539), dedicada o Rei de Portugal e não o Imperador Carlos, no mesmo ano em que ocupa, um tanto degredado da corte (contra a que tanto nos predispõe, pela que suspira e a que voltará), a Sé do bispado de Mondonhedo.

Camões e Gil Vicente, sabemos, foram leitores de Horácio, Ovídio e Virgílio, o mesmo que Sá de Miranda, Afonso X de Castela e D. Diniz de Portugal, e o tópico da retirada e da exaltação da vida camponesa reaparece com cada crise, avisos e decepções da civilização, o progresso e a vida urbana: classicismo, literatura pastoril, arcadismo e neo-arcadismos, romantismo, primitivismos. Shakespeare, Chateaubriand, Wordsworth, Renan, Emerson, Thoreau, Twain, Synge, Tolkien, as manifestações são constantes. Onipresente em Aquilino Ribeiro ou até nas correspondências íntimas de Rodrigues Lapa, também o tópico teve grande sucesso na literatura galega, misturado com a identificação nacional-popular e a conservação das essências pátrias, junto com a língua galega, no espaço rural e camponês. Pintos, Rosalia, Pondal, Garcia de Mosquera, Crecente Vega, Risco, Otero Pedrayo, Cunqueiro e até Neira Vilas, em prosa e verso, deixarão adaptações de Horácio, e Frei Luis de León.
De qualquer jeito, não é, nestes tempos, má leitura. A ideia na que Eça trabalhou desde 1893 até a sua morte, tem hoje a sua graça, está na moda, e mais com o título original do conto publicado pelo Jornal de Notícias do Rio de Janeiro, em 1892. Até ganhou e acentuou o contraste, comodidades, tecnologia à última, dispositivos, consumismo exagerado, nos tempos ultra-rápidos, mega-comunicados, hiper-técnológicos, pro-apocalípticos, redes sociais superficiais, comunicação acelerada, e saturação de imagens cansativas em que vivemos. Aquela obra, tão analisada como programa de restauração nacional, e que no hoje globalizado mais parece épica precursora de um programa decrescentista.
Delícia ler este homem sábio, orgulhoso e humilde…que é a forma mais esquisita do orgulho