SÓ HÁ VÍTIMAS SE HOUVER AGRESSORES por Luísa Lobão Moniz

 

Este ano de 2019 tem sido dominado pelo tema da violência contra as mulheres que acaba com o homicídio.

Muitas justificações têm sido dadas: “ele só bate quando vem bêbado”, “ ele bate porque a mulher o provoca”, “ ele bate, mata porque ela tem um amante”, “ele bate porque ela não faz nada…”, “ele mata porque ela já não quer viver mais com ele”, “ ele bate porque é homem”.

A violência dos homens contra as mulheres, é um problema que vem desde o início da humanidade, a questão é complexa e multidimensional. Até agora o estudo dos   comportamentos centrava-se nas mulheres, nas vítimas.

Só há vítimas se houver agressores. E quem são eles? Que características têm? Já nasceram violentos? São induzidos para a violência pelas sociedades em que vivem? Deixam-se, ou não, regular pelas sanções sociais?

O estudo da complexidade do homem agressor contra as mulheres tem sido liderado pelas ciências sociais e agora também pela neurociência.

Há quem acredite, depois de comparar o funcionamento do cérebro de agressores com o funcionamento do cérebro de outros criminosos, recorrendo-se de Ressonâncias Magnéticas, que o funcionamento do cérebro dos primeiros agressores funciona de forma diferente dos outros agressores criminosos.

Destes estudos não surgiu um perfil único dos agressores, no entanto, surgiram características comuns: impulsividade, preconceitos, a falta de responsabilidade dos seus actos.

Não é fácil determinar o peso dos factores sociais e dos factores biológicos. Todos os factores formam um todo, uma vez que o ser humano é o resultado das conexões estabelecidas entre o social, o cultural e o biológico.

A questão do perfil é perigosa pois não se pode dizer que “ele só bate quando vem bêbado”, que “ ele bate porque a mulher o provoca” .

Porque é que o álcool faz os homens baterem nas mulheres e as mulheres que bebem não baterem nos homens?

O que é uma mulher provocar um homem?

Porque é que a forma de comunicação é violenta, mesmo perante o choro da mulher, da presença dos filhos?

A sociedade, através dos seus sistemas jurídicos, tenta combater a violência contra as mulheres com leis que podem levar os agressores para a cadeia durante anos, mas o que se verifica é que essas penas não têm servido para mudar a sociedade.

Essas leis não têm sido acompanhadas por estudos, por reflexões, por alargamento das disciplinas que estudam este problema social.

Seria bom não considerar que perante determinadas situações é natural o homem agredir a mulher, que a mulher “aceita” ser agredida, seja porque motivo for.

Não é natural o ser humano nascer para matar outro ser humano, a não ser em questões de sobrevivência.

É necessário repensar as sanções sociais e o exercício das mesmas, as sanções jurídicas e a maneira como são aplicadas.

É necessário que os seres humanos saibam regular as emoções, que se considerem com direitos e deveres iguais em tudo na sociedade, que não se aceite a violência como arma de domínio entre os indivíduos.

A Educação deve influenciar e ser influenciada por valores de inclusão e de respeito pelo outro.

Como se estrutura esta educação?

2 Comments

  1. Reflexão interessante que se deveria ter em conta para uma melhor construção do tecido social em que nos envolvemos e com isso a redefinição das respectivas instituições e o exercício do poder nas relações sociais.

  2. Peço desculpa de só agora responder. Concordo inteiramente consigo.
    Não sei onde mora, mas gostava de o convidar para uma sessão sobre o 25 de Abril que realisarei no dia 24 de Abril. O convite é da C.M. de setúbal.
    Fico muito grata com o seu comentário.Luisa Moniz

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