CARTA DE BRAGA – “Murphy, Bauman e o universo” por António Oliveira

 

Robert Mathews é um cientista e investigador britânico, bem conhecido também por ser um popular divulgador da ciência, através da tv, livros e artigos em órgãos de comunicação diversos.

Mathews saltou para a fama quando lhe foi atribuído o ‘Ig Nobel de Física’ por um ‘trabalho’ publicado no ‘European Journal of Physics’ sobre ‘a queda das torradas e a Lei de Murphy

De acordo com tal lei, tudo o que pode calhar mal, acabará mesmo por calhar mal e a ser apreciado no caso das torradas, o lado da manteiga cairá sempre para baixo!

Pois o simpático cientista conseguiu mesmo demonstrar como ‘a torrada tem de facto a tendência intrínseca de cair com a manteiga para baixo’, afirmando tal circunstância como a ‘consequência das constantes físicas do universo

Creio que tal demonstração, a valer-lhe o ‘Ig Nobel’ em 1966, é inteiramente plausível numa sociedade como a nossa, por ‘vivermos um tempo de certezas líquidas, voláteis, contraditórias e ambíguas, baseadas em factos e feitos alternativos, sem valores sólidos

É uma das acertadas sentenças de Zygmunt Bauman e até pode acontecer que este conjunto de incertezas, bem representativas da sociedade actual, também possa ser explicado pela Lei de Murphy ou por uma outra qualquer da física moderna.

Não sou físico nem lá or si, deveria merecer a atenção dos bem-pensantes que pululam nos nossos ecrãs, desde o minúsculo do telemóvel e do ando perto, mas não esqueço de esta época ser também a da ‘pós-verdade’, por tanto uma palavra como o seu contrário poderem ter o mesmo fundamento, exactamente num tempo em que toda a filosofia, de Aristóteles a Bauman, anda em busca de um suporte ético para tutelar a vida individual e social.

Uma questão que, só ptwitter até aos gigantes das tv’s, por todos eles se tomarem como autênticos arcanjos da verdade e da ética.

E a propósito de ética, lembro o filósofo Francis Wolff numa entrevista recente, não vão ainda muitos dias, ‘a ética é uma relação recíproca por definição; a política é um poder, um sistema de repressão sobre a sociedade e os direitos individuais e a Europa está a perder-se nesse caminho

Como sempre, a questão também diz respeito à linguagem e aos seus termos contraditórios, ainda e sempre dependentes das circunstâncias e da valorização dos oradores, bem volátil actualmente, por dependente de redes que ninguém controla e se descontrolam com frequência.

Mas voltando à ‘Lei de Murphy’, é conveniente não esquecer que, como qualquer outra, tem também corolários e aqui deixo apenas três:

5- deixadas a si mesmas, as coisas tendem a ir a pior;

8- é impossível criar alguma coisa à prova de tolos, por todos serem sumamente engenhosos;

9- a natureza alinha sempre com uma imperfeição oculta.

E ainda se deve ter em consideração ‘a constante de MurphyA matéria será danificada na proporção directa do seu valor!

E perante esta ‘perigosa’ mistura de Bauman e Murphy, atrevo-me a assumir as palavras de um antigo e experiente ex-camarada de profissão ‘se lhe dão o poder, o tirano da mentira até pode instalar um império particular, a pseudocracia!

Um termo que da democracia tem a terminação, mas representa bem uma conjuntura de poder, com toda a certeza, calhar ruinosa, também e talvez devido às ‘constantes físicas do universo!

António M. Oliveira

 Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

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