Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
14. A aceleração do crescimento chinês
Por John Mauldin
Publicado por em 14 de setembro de 2018 (texto original aqui)
A realidade económica não é preto e branco. Num determinado momento, acontecem coisas boas e coisas más. Ignorar um dos lados, porque este não se encaixa na nossa perspetiva preferida é uma excelente maneira de nos enganarmos gravemente.
Assim é com a China. Ouvimos muito sobre os problemas e desafios desse vasto país. Eles são muito reais e podem ter consequências importantes… que nós iremos explorar em breve… mas há boas notícias, também. Nós analisámos algumas delas na semana passada sobre o domínio da China sobre inovação. Hoje, vamos acrescentar alguns pontos mais de dados positivos.
Este texto será um pouco diferente da maioria. Abaixo o leitor verá diversas vinhetas curtas sobre eventos positivos na China. Elas não estão necessariamente relacionadas e não se vai construir com isso uma qualquer conclusão particular. O meu objetivo é simplesmente demonstrar que a China tem boas notícias, e até mesmo algumas fabulosamente grandes notícias, muitas das quais são bastante convincentes. Se é suficiente para ultrapassar os desafios é uma outra questão que vamos abordar na próxima vez. E, francamente, a maneira como eles estão claramente a crescer torna os países ocidentais desconfortáveis, o que não é habitualmente o nosso terreno.
Primeiro, um rápido aparte. Temos vindo a fazer um enorme esforço para manter o corpo principal desta carta em torno de 3000 palavras, uma dimensão que a maioria das pessoas pode ler em poucos minutos. Nós tivemos um bom feedback sobre isso, também.
Agora avancemos com a nossa história sobre a China.
Ter um bom controle sobre o crescimento
Aqui, nos Estados Unidos, estamos muito animados com a perspetiva de ver o crescimento do PIB atingir 3% em termos reais este ano. Na China, isso representaria um colapso sem precedentes. Aqui estão as variações anuais de 2010-2017, com previsões do FMI para 2018-2022.

Agora, podemos razoavelmente perguntar o quão fiáveis são estes dados. Os números têm uma maneira curiosa de virem publicados ao nível exato que Pequim espera que se verifiquem. Mas eu não tenho nenhuma dúvida que o crescimento chinês é de longe bem maior que o crescimento dos Estados Unidos ou que o crescimento de qualquer outro país desenvolvido na última década. E eu penso que o FMI tem provavelmente razão em dizer que este irá diminuir mas somente de forma gradual e continuará a ser impressionante, quando comparado com os padrões ocidentais, durante uma boa parte dos anos de 2020. Uma grande parte, senão a maior parte, deste crescimento é impulsionado pela dívida e esta dívida deve acabar por se virar contra eles. Mas isso não parece incomodá-los atualmente.
Contudo, ouço constantemente previsões de que os dias de crescimento da China acabaram. Frequentemente, isto deriva de se ter uma opinião que o investimento de capital de China já foi mais elevado do que é agora, levando à existência de excesso de capacidade produtiva. E em algumas indústrias isso é verdade, como na produção de aço, mas as fábricas de aço foram pouco a pouco fechando. Axios relatava recentemente:
Até ao final do ano, cerca de 1,8 milhões de trabalhadores chineses do carvão e do aço perderão os seus empregos, vítimas da mudança do governo mais virado para as indústrias limpas e de um encerramento de pequenas empresas. Para colocar isso em perspetiva, os dois ramos indústrias nos EUA empregam apenas 192.000 trabalhadores.
Isto para além dos milhões de trabalhadores do carvão e do aço que já perderam os seus empregos nos últimos 15 anos. Os chineses estão a eliminar impiedosamente a sua capacidade excessiva. O economista Nichola Lardy do Instituto de Peterson argumentou no mês passado que a maior parte do “crescimento do investimento” de que temos ouvido falar significa apenas preços mais elevados e que o investimento real terá crescido muito pouco. Se assim for, a China pode ter menos excesso de capacidade de produção do que pensamos.
Num outro artigo que se seguiu a este agora citado, Lardy explicou ainda que os dados sobre consumo pessoal – que são muito mais difíceis de manipular-estão mais em consonância com o crescimento económico efetivo. Diz ele que este é mais significativo do que a despesa de retalho uma vez que a classe média tem tido um crescimento rápido na China e gasta muito do seu rendimento em serviços como o ensino e os cuidados médicos.

Se o investimento e o consumo forem ambos fortes, como aparentam ser, então a ameaça para o crescimento do PIB seria a diminuição das exportações. A tensão do comércio pode eventualmente trazer este efeito sobre o PIB mas isso ainda não aconteceu e a China já está a trabalhar para substituir qualquer quebra de vendas para os Estados Unidos.
Substitutos de exportação
Eu já antes falei sobre Alibaba (BABA), o gigante chinês do comércio eletrónico que é, se isso possível, ainda mais dominante do que Amazon.com. Uma grande questão para ambas as empresas é a de saber até onde é que se podem expandir fora dos seus respetivos países de origem.
Alibaba deu um grande passo naquela direção na semana passada. À margem de um encontro Xi Jinping-Vladimir Putin em Vladivostok, Alibaba disse que estava a comprar uma participação de 10% no gigante russo da Internet Mail.ru Group. Eles planeiam usar as redes sociais russas desta última empresa para construir uma plataforma de e-commerce. Além dos benefícios que traz para ambas as empresas, a plataforma será um novo canal para as exportações chinesas para a Rússia.

Será necessário ainda muito tempo antes que os consumidores russos venham a comprar muitos bens pela via eletrónica para a China poder substituir o que perderá em exportações para os Estados Unidos se a guerra de comércio aquecer ainda mais.
O ponto mais importante a sublinhar é que as empresas chinesas não estão à mercê da política comercial dos EUA. Eles têm outras opções e estão a procurá-las ativamente.
Combine isso com a importante Iniciativa chinesa “One Belt, One Road” (Uma cintura, Uma estrada) sobre infraestruturas e podemos ver como é que o jogo se está a desenvolver. Alibaba, Tencent, e Baidu estarão a seguir a rota do tijolo amarelo, ou seja, a rota de “One Belt, One Road”, tal como outras grandes empresas chinesas. Pequim pretende dominar o mais que puder na economia asiática. A América do Norte e a Europa Ocidental não estão a ir para lado nenhum, mas nós também já não somos centros de crescimento mundial.
Talvez estranhamente, esse pensamento não me incomoda. Quem tem medo de um pouco de concorrência? Acho que vamos ficar bem, muito bem mesmo e muito obrigado.
Ondas de Inteligência Artificial (IA)
Inteligência artificial, ou IA, é a novo espaço de concorrência. Desta vez, os EUA enfrentam a China em vez da União Soviética e o resultado não é assim tão seguro. Pequim quer ganhar e está a utilizar enormíssimos recursos para o conseguir.
Um novo livro, AI Superpowers de Kai-Fu Lee, é uma avaliação de leitura obrigatória desta batalha. O meu amigo Peter Diamanis partilhou recentemente o conceito de Lee das “Quatro Ondas” no desenvolvimento da IA. As companhias chinesas estão massivamente a gastar o seu dinheiro criando o seu Sillicon Valley.
Primeira Onda: Internet e IA. Estas são agora os omnipresentes “motores de recomendação”, tal como os produtos que a Amazon nos diz que devemos querer ou os “vídeos sugeridos” que nos mantêm ligados ao YouTube durante horas. Essas recomendações vêm dos dados que geramos com os nossos cliques e outras atividades online. Lee pensa que neste segmento a vantagem dos dados de China lhe dá uma ligeira vantagem sobre os homólogos americanos.
Segunda Onda: o negócio IA. Este é o lugar onde vemos computadores a analisarem dados para fazer julgamentos que antigamente estavam reservados aos seres humanos: subscrição de empréstimos, diagnósticos de cancro, e assim por diante. A IA supera em considerar os pontos de dados longínquos que um analista humano minimizaria ou mesmo ignoraria completamente. Lee diz que os americanos têm algum avanço sobre os concorrentes, mas o ligeiro atraso da China pode realmente ajudá-la levando-a a saltar sobre as tecnologias herdadas. O país passou diretamente do dinheiro em efetivo para os pagamentos eletrónicos, por exemplo, passando por cima do aparato de cartão de crédito que nós temos dificuldade em abandonar.
Terceira Onda: perceção da IA. Todos nós já ouvimos falar sobre a Internet das Coisas. Os dispositivos em torno de nós, uma vez conectados uns aos outros, irão mesclar os ambientes físicos e on-line num mundo homogéneo. A China está na ponta da tecnologia dos sensores e já está a utilizá-la nas fábricas, nos retalhistas e na aplicação da lei. Eles já têm lojas onde se pode literalmente digitalizar o seu rosto para pagar a conta. Sem cartão, sem dispositivo, apenas o rosto que está sempre connosco. É para onde todos nós estamos a caminhar e a China está a chegar lá primeiro.
Quarta Onda: a IA autónoma. Máquinas que podem tomar decisões e sentir o mundo em seu redor acabarão por operar de forma independente. Veículos autónomos são o exemplo mais familiar, mas não vai acabar por aqui. Imagine enxames de drones extinguindo incêndios florestais ou a pintarem a sua casa. Os cientistas chineses estão a trabalhar neste tipo de projetos.
Estas capacidades são controversas e às vezes arriscadas. Enfrentarão a oposição nos Estados Unidos, mas será menos assim na China, se isso for o que o governo quer. Por conseguinte, penso que a China ganhará provavelmente a corrida e possivelmente manter-se-á como líder durante muito tempo.
Automação automática
Mesmo sem IA, os fabricantes chineses estão a automatizar-se rapidamente. Isto é parcialmente por necessidade: o país carece de trabalhadores qualificados, especialmente de jovens que possam trabalhar longas horas. A concorrência de baixo custo dos países asiáticos vizinhos torna mais difícil que haja aumento dos salários. A melhor resposta é obter mais eficiência via automação.
Cada vez mais, as mesmas empresas que antes prosperaram pela aplicação da engenharia reversa [processo de descobrir os princípios tecnológicos e o funcionamento de um dispositivo, objeto ou sistema, através da análise de sua estrutura, função e operação] e pela cópia de bens ocidentais estão agora a produzir os seus próprios produtos avançados. A iniciativa do governo “Made in China 2025” ajuda nesse objetivo com empréstimos e subsídios generosos.
Por exemplo, o jornal Wall Street recentemente apresentava o caso de um fabricante de máquinas pesadas chamado Sany Group. Entre outras coisas, a Sany faz caminhões-betoneiras que conseguem lançar cimento para o topo de altos edifícios, assim como guindastes e outros equipamentos.

Acontece que cerca de 380.000 máquinas de construção da Sany estão ligadas à Internet e enviam constantemente dados ao centro de análise do seu construtor. A companhia utiliza-os para projetar produtos melhores, constantemente ajustando a sua produção em curso em tempo real. Isso é possível porque os trabalhadores são robôs que só precisam de novas instruções de software, sem longos treinos para as mudanças introduzidas pelo software.
As empresas americanas e europeias fazem o mesmo tipo de equipamento, é claro. Eu suspeito que a qualidade é igual ou é até mesmo superior. O seu problema é que mesmo se é estabelecido um acordo comercial a dar pleno acesso ao mercado chinês, os fabricantes como a Sany estão tecnicamente já à frente, eles não têm custos de transporte, e os estrangeiros não obtêm a ajuda dos seus governos, o que a Sany tem do governo de Pequim.
Agora multiplique isso por milhares de outras empresas em muitas indústrias. Muitos são capazes de competir em qualquer lugar do mundo, mas não precisam. Elas têm um mercado gigante bem ali à sua frente, em casa.
Aleatoriamente, alguns pontos brilhantes
Esta seção resulta deste curto vídeo colocado no Facebook sobre alguns de pontos brilhantes de China que em principio o leitor poderá desconhecer. (A página Science Nature dispõe de dezenas de outros vídeos interessantes)
- A China tornou-se recentemente o maior produtor de energia solar do mundo.
- A China está a gastar $364 mil milhões na produção de energia renovável.
- Pelo menos 40 hospitais implantaram tecnologia de IA IBM Watson
- Eles estão em curso de implantação de IA para melhorar os cuidados de saúde e de diagnóstico a uma velocidade prodigiosa.
- Cientistas chineses inventaram um tipo de arroz que pode crescer em água salgada e que será capaz de alimentar mais de 200 milhões pessoas. Isso será um grande negócio.
- Pelo menos 1 milhão de chineses poderá estar a utilizar a tecnologia 5G de redes móveis por volta de 2023.
- A maioria de consumidores chineses estão atualmente a utilizar pagamentos móveis em vez de dinheiro em efetivo, até mesmo nos vendedores de rua locais. Isso significa que Tencent conhece os seus hábitos de compra, sabe até mesmo o tipo de massa de aletria de que gostamos. E mais uma vez, os chineses aparentemente não se importam que outros tenham esses dados.
- Eu não acho que eles vão bater Bezos, Musk ou Allen para a lua, mas a China está-se se a juntar com a Europa para construir uma base na lua. Eles estão a levar isso a sério.
- Eles simplesmente já construíram o maior telescópio do mundo para estudar o universo. A investigação básica é a fonte a partir da qual novas ideias e empresas crescem.
- O uso de robôs na China está a crescer a uma taxa prodigiosa. Eles atualmente têm fábricas totalmente automatizadas.
- (um ponto pessoalmente doloroso): a China vai começar a trabalhar no maior acelerador de partículas do mundo em 2020. Será o dobro do tamanho do atual Acelerador de Hádrons. Os EUA gastaram milhares de milhões no que teria sido o maior supercondutor-acelerador de partículas do mundo ao sul de Dallas. Depois de cavar grandes buracos e túneis, o Congresso decidiu que era dinheiro desperdiçado e abandonou o projeto.
- A China tem a maior rede de comboios de alta velocidade no mundo e estão ainda em expansão para incluir todas as super cidades acima mencionadas.
- A China permite modificar geneticamente os embriões humanos e as células estaminais, e em breve alcançará a investigação que temos vindo a fazer nos EUA e na Europa. Especialmente porque publicamos tudo o que fazemos.
- Ao invés de manter as coisas no laboratório, o país autoriza a modificação genética do gene CRISP em seres humanos. Eu posso imaginar todos os tipos de coisas que irão correr mal e incomoda-me fortemente que se utilizem seres humanos como cobaias, mas isso irá acelerar a invenção dos tratamentos para todos os tipos de doenças. E isso é uma coisa boa para a humanidade. (Nota: Penso que devemos acelerar o processo, mas ainda deve haver diretrizes sobre a manipulação de genes em seres humanos. Muito coisa pode correr mal.)
A natureza desconfortável do crescimento chinês
Durante anos, a China basicamente bloqueou determinadas grandes empresas americanas. e deixou as empresas chinesas copiar a tecnologia estrangeira, ignorando frequentemente patentes e ideias e assim por diante. Tratava-se de uma liberdade total que gerou a criação de “campeões” chineses em numerosos setores. Pensemos em Baidu (empresa holding tecnológica e que é hoje o segundo maior motor de busca), Alibaba Group (empresa holding enormemente diversificada, comparável à Amazon.com), Tencent (tecnológica, Internet, jogos, etc), Xiaomi (telefones e eletrónica).
Naturalmente, agora há centenas de companhias americanas que operam na China, mas o governo chinês tem uma verdadeira vedação em torno de determinados segmentos. Essa é uma razão pela qual a China tem nove das 20 maiores empresas tecnológicas do mundo. E agora essas empresas estão a ter os lucros locais, criando produtos topo de gama e, muitas vezes sendo os líderes tecnológicos a nível mundial e utilizam a sua força tecnológica à escala global.
Eu mostrei este gráfico na semana passada. O capital de risco chinês é agora acima de 50 mil milhões e aproximadamente ao nível do dos EUA.

Diz-nos o meu amigo Peter Diamanis:
Este crescimento espantoso é parte da explosão da China no mercado de participações privadas. Atualmente, quase 16.000 parceiros limitados divulgaram investimentos em fundos de private equity e VC totalizando 6,1 milhões de milhões de RMB.
Mas enquanto muitos desses fundos costumavam ser despejados em milhares de empresas chinesas imitadoras e startups locais de tecnologia, estamos agora a assistir a uma mudança espetacular para o exterior nos maiores investimentos da China.
Olhemos para a repartição das start-ups tecnológicas apoiadas por Baidu, Alibaba, Tencent no mundo.

À medida que Baidu, Alibaba, e Tencent assumem a liderança global em IA, veículos autónomos, e medicina personalizada, as empresas chinesas de capital de risco estão repartidas equitativamente entre a China e o resto do mundo.
E falamos apenas dos gastos em capital de risco destas três empresas, embora muito grandes. Outras empresas chinesas ou empresas estatais (SOEs) também estão a investir dinheiro em aquisições e capital de risco. Todos elas estão a criar novas tecnologias e a comprarem o que precisam para competirem, e todos elas na sua expansão seguirão a estratégia “One Belt, One Road”. Conte com isso.
A China é uma força crescente na concorrência mundial e o resto do mundo precisa de intensificar o seu próprio jogo. Isto é bom de uma perspetiva estritamente humana. A concorrência faz com que todos melhorem os seus serviços e produtos. Acreditamos que é assim para as empresas americanas mas é igualmente assim à escala mundial.
Temos que gostar disto? Não. Ninguém realmente gosta de ter de competir agressivamente no que eles acreditam ser “o seu” espaço mas esta é a realidade de agora. E a propósito, não descarte os países da América do Sul ou outros países asiáticos. Acho que com o tempo veremos também empresas africanas a competirem a um alto nível também. O mundo vai ficar muito diferente dentro de 20 anos.
Algumas observações finais sobre a China e a tecnologia
Uma ideia que por aí está a circular é que os EUA devem de algum modo controlar o Presidente Xí Jinping e a movimentação da China para ter a superioridade tecnológica. Isso é tolice. Primeiro, isso não pode ser feito; a China não quer (e indiscutivelmente não pode) parar de progredir. Além disso, se os EUA e outros países ocidentais querem permanecer tecnologicamente superiores, eles precisam de dedicar recursos à altura para que isso aconteça. Como vimos na semana passada, a China agora tem mais investigação, mais cientistas e engenheiros, e mais capital. Estamos, pois, a escolher deixar que isso aconteça.
Não há nenhuma razão para que a China necessariamente venha a superar o Ocidente na tecnologia, na inteligência artificial, nos carros autónomos e numa série de outras tecnologias. Tivemos uma enorme vantagem, mas não mantivemos a nossa rota. Chamamos os nossos empresários às audições do Congresso para perguntar como é que eles gastam o seu capital, etc. Queremos regular as iniciativas empresariais, uma após outra. Preocupamo-nos com os monopólios. Os gritos para desagregar a empresa Amazon são parte desse absurdo.
Considere o que as companhias chinesas fazem com os dados dos clientes. O ocidental médio ficaria branco, branco de raiva, talvez até mesmo passe a correr histericamente para ir protestar ao seu governo e queixando-se de invasão da privacidade. A maioria de compras chinesas dos consumidores finais são feitas através de um pequeno número de sistemas móveis como Tencent ou Alibaba, que estão a utilizar esses dados para melhorar e, reconhecidamente, para ganharem mais dinheiro. E sabe o que mais? O chinês médio não se importa. Importar-se com isso, é apenas um comportamento de estrangeiro (literalmente) ocidental em especial dos Estados Unidos. Ofendem-se mesmo com as nossas noções de privacidade.
Aqui está o que temos de compreender. Há menos de 40 anos atrás, a maioria dos cidadãos chineses viviam ao nível de subsistência, conduzindo uma junta de bois num campo de arroz ou equivalente. Agora vivem em megacidades. Eles não desenvolveram uma sensibilidade como a do Ocidente quanto à proteção da vida privada ao longo dos séculos como nós fizemos. Isto é tudo novo para eles. Eles não entendem porque é que nos comportamos de forma diferente da deles. Considere as vastas diferenças culturais e esqueça o seu pensamento ocidental quando tenta compreender a China.
E com isso, vamos deixar a nossa história de um país em alto crescimento para trás, percebendo claramente que se poderia facilmente escrever vários livros sobre todas as grandes coisas que estão a acontecer na China.
__________________________
O autor: John Mauldin: reputado especialista financeiro, com mais de 30 anos de experiência em informação sobre risco financeiro. Editor da e-newsletter Thoughts from the Frontline, um dos primeiros boletins informativos semanais proporcionando aos investidores informação e orientação livre e imparcial. É presidente da Millennium Wave Advisors, empresa de consultoria de investimentos. É também presidente de Mauldin Economics. Autor de Bull’s Eye Investing: Targeting Real Returns in a Smoke and Mirrors Market, Endgame: The End of the Debt Supercycle and How It Changes Everything, Code Red: How to Protect Your Savings from the Coming Crisis, A Great Leap Forward?: Making Sense of China’s Cooling Credit Boom, Technological Transformation, High Stakes Rebalancing, Geopolitical Rise, & Reserve Currency Dream, Just One Thing: Twelve of the World’s Best Investors Reveal the One Strategy You Can’t Overlook e The Little Book of Bull’s Eye Investing: Finding Value, Generating Absolute Returns and Controlling Risk in Turbulent Markets.