NÃO SE ENSINA PARA A DEMOCRACIA, VIVE-SE EM DEMOCRACIA por Luísa Lobão Moniz

A democracia, tal como a conhecemos, foi algo encontrado como sendo uma forma de acabar com as ditaduras e de fazer o povo direccionar o seu caminho para as questões que verdadeiramente lhe interessar.

Antes da Revolução, a voz do povo era cantada “de boca em boca”, era entre vozes e olhares que passava a corrente libertadora da vida pela qual muitos homens e mulheres sofreram física e emocionalmente, e que estiveram nas cadeias, nos calabouços da Polícia e nos calabouços de…todos os países não democráticos.

Muitos rapazes, para não matar ou ser morto na injusta guerra colonial, deram o salto e foram para França. Fizeram as suas poupanças para quando se reformassem poderem viver no seu país, com muito mais conforto do que aquele que tinham quando partiram.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  A exposição pública, por motivos políticos, não é decisiva, mas uma mais-valia para a luta contra o fascismo.

Antes do 25 de Abril de 1974 só trinta por cento da população tinham água canalizada; não tinham a escolaridade obrigatória porque não tinham competências para a poder fazer, para poder inscrever os soldados de Abril como seus aliados.

Os soldados de Abril foram uns heróis, algumas crianças continuam a entoar as canções mais conhecidas, muitas vezes sem saberem ainda o que é a democracia, embora estejam a beneficiar dela, que foi arduamente conquistada por quem antes delas viveram e por causa dela morreram.

O tempo passou até que alguns segmentos sociais se foram cruzando e criando novas formas de ultrapassar lacunas demasiado importantes para o bem-estar de todos os cidadãos.

A vontade popular andava mais rapidamente do que o MFA e, pelo sim ou pelo não, voltou às suas festas populares organizadas por associações sem fins lucrativos.

Hoje dançam e, quando param para pensar, reconhecem as diferenças do antes e do depois.

A alfabetização, com todas as críticas negativas e positivas de que foi alvo, quis que este povo, cansado de chorar nos cais de Lisboa, à espera do seu combatente em África, ou de uma “caixa de pinho”, espantada e feliz trouxe consigo a vontade de saber o que lhe foi negado e porquê.

Muitas vezes quem voltou de África foi vítima de quem os recebeu, mas como a moeda tem dois lados também encontraram solidariedade, pelas condições básicas da existência: habitação, saúde, educação, sentimento de pertença, de coesão social…

A Escola tem um papel, função, muito importante para fazer os estudantes conhecerem esta realidade de repressão em que os seus pais viviam para poderem, colectivamente, aderir a outras formas de luta reconhecidas democraticamente ou não.

Não se criam disciplinas para ensinar ou/e aprender a viver em democracia, não se ensina para a democracia, vive-se em democracia!

1 Comment

  1. ” Muitas vezes quem voltou de África foi vítima de quem os recebeu, mas como a moeda tem dois lados também encontraram solidariedade, pelas condições básicas da existência: habitação, saúde, educação, sentimento de pertença, de coesão social…” Com todo o respeito por estas palavras ,estas não correspondem a uma VERDADE por contar . Verdade que já ninguém quererá que seja contada . Hoje com 84 anos ainda sofro na pele a animosidade surda num misto de indiferença e ausência de solidariedade . As minhas desculpas dra . Maria

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