Sabem bem as minhas amizades, a força de repeti-lo durante anos em conversas, que uma das minhas teimas vem sendo a de dizer que a trapalheira realidade política espanhola (e incluída nele a dez vezes manhosa, renarte e caciquil galega) foi, será e é um esperpento.
O maravilhoso neologismo com pontinho italianizante e castiço de Valle-Inclán resolve qualquer sucesso e circunstância. Ajusta, podem ver consultando publicações académicas, como luva feita a mão, cada ponto e realidade atual ou histórica; quando menos do século XV até hoje, e resulta quase indispensável para falarmos em termos de analítica histórica, da política e administração espanhola nos séculos XIX e XX.

Outra das minhas teimas em relação direita ao antes dito, bem por ser causa, consequência ou ambas, como pontos num círculo vicioso que vai aumentando ano a ano o rádio, é a do centralismo madrilenocêntrico como problema, contexto, partida e origem de muitos dos nossos males, pesadelos e labirintos.
Madrid é uma problemática complicada e forçada causado pela perspetiva jacobina na construção do estado espanhol moderno.
A minha tese reiterada para confrontar Madrid e o jacobinismo obsessionada em fazê-la centro, guia, modelo e ponto acumulativo de recursos e população é deixar correr o tempo, que joga a favor, sempre que na Galiza, para além de qualquer política ou ideologia, estejamos preparados para o dia que por próprio peso, catástrofe natural, militar, ecológica ou peste, Madrid vaia ao tacho e com ele paralise o Estado espanhol inteiro.
Madrid é frágil, como se não soubéssemos e estivesse mais que advertido, mas agora fica demonstrado. Bastou uma peste e uma histeria coletiva. Porém a cada vez ocupa mais espaço, tamanho, PIB, população e concentração de poderes políticos, judiciais, administrativos, económicos e culturais. Tanto ocupa, em detrimento dos pulmões e motores alternativos da periferia, que contrariamente a todas e cada uma das vezes que nos séculos anteriores faliu Madrid, agora estes motores alternativos não seriam capazes de fazer andar o Estado.
Nestes momentos de ressaca ao ensaio post-apocalíptico, em que por muito insistirem na propaganda, a realidade continua por livre, com as baterias estragadas e demonstrando que o problema não era a pandemia, solução improvisada arriba ou abaixo, quanto as estruturas existentes; ambas as teimas parecem perfeitamente vigentes.
As estruturas administrativas, políticas, funcionariais, as instituições, sistema educativos, sanitários, a burocracia, a própria política parece incapaz de entender por ela que está colapsada, desatualizada, sem energia e que são precisas grandes mudanças e não mais remendos.
12 de julho são as eleições ao Parlamento galego. Nunca antes tão evidente fora que o resultado eleitoral e com ele a forma de poder depende das estruturas locais, da militância, da conexão à terra e às gentes dos partidos.
As expetativas são interessantes, num cenário aberto e que vai depender, como sempre dos votantes, de como os tenha apanhado e deixado esta crise e, portanto, da vontade de participação e de mudança.
Esperemos que essa mudança vaia já caminho de Compostela.